Setecidades Titulo
Cata Preta ganha casas com apoio de ONG chilena
Por Deborah Moreira
Do Diário do Grande ABC
23/04/2011 | 07:15
Compartilhar notícia


Apesar de não haver projeto habitacional do município previsto para as cerca de 300 famílias do núcleo Cata Preta, no Parque João Ramalho, em Santo André, 19 delas vão ter um novo teto. Duzentos universitários voluntários, de diversos cursos da região Sudeste do País, estão no local trabalhando na construção de 19 moradias, doadas por empresas parceiras da ONG chilena Um Teto Para Meu País.

A entidade, criada em 1997 no Chile e atualmente presente em 15 países, chegou em território brasileiro em 2006 e já construiu centenas de casas. Neste ano, a organização pretende alcançar a marca de 500 moradias erguidas.

O diretor social da ONG, o chileno Ricardo Monteiro, reconhece que o número de casas não é suficiente para suprir o deficit habitacional brasileiro, mas ressalta que o objetivo é chamar a atenção para a situação de pobreza em que uma grande parcela da população mundial se encontra. Mais do que isso, quer mostrar que é possível mudar a paisagem com ações simples.

"Nossa denúncia é nosso trabalho. A intenção é sensibilizar tanto pessoas privilegiadas quanto os universitários para essa realidade que eles normalmente desconhecem, e também os moradores, que precisam despertar para as questões que os cercam e ter mais iniciativas", explicou Ricardo, que é advogado e há dez anos constrói casas pela entidade. A maior parte desse período ele atuou como voluntário. Somente nos dois últimos anos passou a responder como diretor e a receber pelo trabalho.

Abaixo dele, estão os chefes de trabalho e, depois, os de escola, onde ficam alojados durante os dias em que atuam nas construções. A Prefeitura cedeu uma escola para o alojamento, transporte para os voluntários e material.

Seguindo hierarquia abaixo, estão a massa de construtores formada pelos estudantes, divididos em equipes de oito a dez pessoas. Gabriela Barros, 21 anos, moradora da Vila Guiomar, é uma das voluntárias. Cursando o 3º ano de Arquitetura, ela se emociona ao falar do trabalho conjunto realizado entre eles e os moradores. "Para concretizar a ação contamos com apoio da comunidade, que nos ajuda com alimentação e outras necessidades. O que ganho com isso não se expressa em número, mas em experiência de vida."

Para atender aos mais necessitados, a entidade colhe notícias, faz contato com prefeituras, pesquisa no local a partir da aplicação de questionário e faz avaliação do imóvel. Geralmente têm goteiras, umidade e chão de terra.

"Em Santo André notamos que o município tem conhecimento razoável sobre locais de onde há maior necessidade de intervenção", disse Ricardo. As áreas indicadas inicialmente pela Prefeitura foram Sorocabinha, Baronesa, Pintassilgo, Maurício de Medeiros, São Sebastião, favela do Amor e Cata Preta, a área escolhida.

 

Moradias são erguidas em dois dias 

Pegue 15 estacas, 13 vigas, 22 caibros, 48 tábuas e dez paineis de madeira, 24 telhas de fibrocimento (tipo brasilit), oito pares de telhas menores para acabamento do telhado e cerca de 850 pregos. Junte tudo com dez voluntários bem dispostos, serrote, martelo, alavanca, cavadeira e solidariedade. Pronto, em dois dias fica pronta uma casa de 18 metros quadrados.

A receita é passada pelos mais experientes aos que estão chegando. Mas, segundo a entidade chilena, para que dê certo é preciso que os moradores da futura casa se envolvam na construção e colaborem com valor de R$ 150. Assim, se apropriam e valorizam a moradia, que custa R$ 3.300.

A dona de casa Maria Margarete Feitosa da Silva, 40 anos, mora com as duas filhas no mesmo terreno onde estão há cinco anos. Ela conseguiu pagar os R$ 150 à vista porque já estava juntando dinheiro para reformar o barraco, feito de madeira bastante frágil. "Estava para desabar. Isso aqui está ficando bom demais perto do que tínhamos", disse uma das filhas, a balconista Isabella Feitosa de Almeida, 19, que tem salário de R$ 600. Também recebem salário-mínimo da irmã, Cintia Feitosa, 26, por ter problema mental.

Já a família de Josefa Maria Feitosa Moia, 38, ainda não conseguiu pagar os R$ 150. Ela contou que quase desistiu de fazer a casa pela dificuldade que teve em encontrar ajuda para desmontar a moradia atual. "Eles pedem para deixar terreno livre e plano para construir. Consegui ajuda com a assistência social da Prefeitura para pagar o pessoal que desmontou", explicou Josefa, que é mãe de cinco filhos e espera pelo sexto. Seu marido, o ajudante de limpeza Waldemir Waldemar da Silva, 52, aprovou a construção. "Estamos dormindo no que sobrou do barraco, até que fique pronto. Mas valerá a pena", relatou ele, que ganha R$ 600 ao mês.

Uma das características que chamam a atenção da nova moradia, que geralmente substitui a que existia no local, é sua altura. As 15 estacas, cravadas numa profundidade de cerca de 1,5 metro, sustentam a casa, elevando-a a uma altura de 90 centímetros e evitando contato com o chão, o que reduz a umidade e exposição à chuva e ao vento.

A construção é entregue pintada, mas sem energia elétrica e encanamento. Por isso, procuram deixar parte do antigo barraco de pé com o banheiro. No Cata Preta serão todos entregues, prontos, hoje.

Questionada sobre a resistência da casa, a ONG informou que tem durabilidade de cinco anos, prazo tido como razoável para que haja projeto habitacional. Em outras etapas do trabalho, a entidade também atua com projetos sociais nas comunidades. "Após o terremoto de 2010, no Chile, fizemos 23 mil unidades", contou o coordenador Ariel Macena, 23, estudante de Arquitetura.




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;