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Gerald Thomas abre 2ª semana do Festival de Curitiba
Do Diário do Grande ABC
19/03/2000 | 14:35
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Depois de algumas trocas de datas, horários e até das peças inicialmente programadas, Gerald Thomas estréia nesta segunda-feira o espetáculo Coro e Camarim, uma Tragédia Rave, no 9º Festival de Teatro de Curitiba, abrindo a segunda semana de uma programaçao iniciada na quinta-feira. Até domingo, data prevista para o encerramento do festival, 69 peças devem passar pela cidade, entre mostra oficial e paralela, num total de 321 apresentaçoes em 32 espaços teatrais.

Nesta segunda, na mostra oficial, os espectadores terao que optar por assistir ao mais novo espetáculo de Gerald Thomas ou Henrique IV também estreando na mesma noite, no mesmo horário, às 21h30. E vai ser preciso dormir mais tarde para assistir a Ventriloquist, a outra peça trazida por Thomas, que, de acordo com o último acerto entre a organizaçao do festival e o diretor, será apresentada nesta segunda e terça-feira à meia-noite.

A previsao inicial era a de que Gerald participaria da mostra oficial com duas estréias Coro e Camarim. Há duas semanas o diretor decidiu fundi-las num único espetáculo. "Faltou tempo e dinheiro para fazer as duas", diz Thomas. "O festival nao produz espetáculos e nao aceitou minha proposta inicial de levar o Ventriloquist para Curitiba". Victor Aronis, diretor do festival, admite a recusa, num primeiro momento, de Ventriloquist, por uma questao de coerência com a linha que orienta a escolha da programaçao na mostra oficial: o investimento em estréias.

"Havíamos lido a notícia de que Gerald estava preparando esses dois espetáculos e por isso entramos em contato com ele, que topou participar com duas estréias", diz Victor. "Depois ele ligou dizendo que iria fundir as duas em Coro e Camarim, Uma Tragédia Rave e trazer Ventriloquist, e também concordamos", afirma. "Eu nao podia prever o sucesso de Ventriloquist no Rio", conta Gerald. Concebida para o Sesc Sao Paulo a peça sofreu alteraçoes na temporada carioca ganhando até um texto gravado pelo cineasta Cacá Diegues especialmente para o espetáculo.

"Considero Ventriloquist um dos melhores trabalhos de minha carreira", diz Gerald. "As pessoas o estao comparando a 'Electra com Creta', meu espetáculo de maior sucesso aqui". As alteraçoes tomaram o tempo. Por isso, três dias antes da apresentaçao no festival Thomas - que cria seus textos durante o processo de ensaio - afirmava ainda nao ter terminado a peça. "Nos ensaios de Coro e Camarim, Gerald joga um tema na roda e grava a discussao entre o elenco; no dia seguinte traz um texto, de sua autoria, escrito a partir do debate", diz o ator Marcos Azevedo que há cinco anos integra a Cia. de Opera Seca.

"Para os atores esse é um processo de criaçao muito legal, porque tudo fica muito orgânico", afirma Azevedo. "O ego, a utopia, a forma como as pessoas se apresentam sao alguns desses temas" ,diz Thomas, que garante nao estar criando um espetáculo para discutir a arte, como o título sugere. "De jeito nenhum", diz. "Tem a história de um crime em cena". Numa festa rave, uma mulher (Camila Morgado) sente-se culpada por ter matado uma drag queen e pede para ser julgada, mas ninguém quer assumir esse papel. "Nao existem mais leis, nao existem mais parâmetros para julgamentos", diz Gerald.

"Meu personagem é um doidao, cheio de tatuagens pelo corpo que fica o tempo todo deitado do sofá esperando Madona chegar", diz Azevedo. "Dos vaos do sofá ele vai tirando suas lembranças, restos de suas utopias", antecipa o ator. Enquanto o elenco interpreta a fauna desta festa num tipo de representaçao distanciada - o coro - a atriz Fabiana Guglielmetti vive uma mulher presa no banheiro - o camarim. "Ao contrário dos outros sua atitude é artaudiana, ela se desespera", diz Thomas. Num dado momento da peça, ela interage com o coro. "Nesse momento tudo muda", adianta Thomas.

Os atores começam a discutir o fato de eu nao ter criado um fim para a peça. "Eu nao estou pirando, estou pirandelliando", brinca o diretor fazendo referência ao dramaturgo italiano Pirandello, autor de "Assim É se lhe Parece", que discute em suas peças os limites entre ficçao e realidade. Uma festa na qual já rolou de tudo, um espécie de metáfora da ressaca coletiva do fim de século, também é cenário em Ventriloquist, que termina num grande desfile de moda. "Fashion virou filosofia; só o que importa hoje é como as pessoas se apresentam".

Antes mesmo de chegar à cidade, o nome de Gerald Thomas já estava no palco, num dos "cacos" (palavras ou frases nao criadas pelo autor) acrescentados por Antônio Abujamra na sua concepçao operística da peça "Crimes Delicados", de José Antônio de Souza. Abu batizou de Geraldo Thomas um cachorro "assassinado" pela personagem interpretada por Nicette Bruno. Paulo Goulart e Bárbara Bruno completam o elenco da peça mais procurada pelo público na primeira semana do festival, atraindo a praga dos cambistas para a entrada do Guairinha.




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