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Caso Maria Júlia Coutinho na mira do MP

Jornalista foi vítima de racismo e injúria racial no Facebook; pena pode chegar a dez anos

Yara Ferraz
do Diário do Grande ABC
06/07/2015 | 07:07
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Nario Barbosa/DGABC


As pessoas que postaram comentários racistas direcionados à jornalista Maria Júlia Coutinho, do Jornal Nacional, da Rede Globo, podem ser indiciados por dois crimes. As ofensas estão enquadradas em racismo e injúria racial e podem resultar em até dez anos de prisão.

O caso aconteceu na quinta-feira, quando uma foto da jornalista foi postada no Facebook. Diversos comentários começaram a surgir no post. Na edição de sexta-feira, o apresentador William Bonner interrompeu o telejornal para manifestar o apoio de toda equipe de profissionais à colega.

“Eu já tinha lidado com essa questão do preconceito desde que me entendo por gente. Claro que fico muito indignada, fico triste com isso, mas não esmoreço, não perco o ânimo. Acho que isso é o mais importante”, disse Maria Júlia.

“Eu e a Renata (Vasconcellos) falamos em nome de todos os colegas da Globo. É claro que todos aqui dentro repudiaram essas agressões absurdas. Somos todos Maju”, disse o apresentador.

Desde então, a campanha Somos Todos Maju viralizou nas redes sociais, chegando a ficar entre os assuntos mais comentados do Twitter. O Ministério Público do Rio de Janeiro e o de São Paulo já pediram a investigação das ofensas.

Conforme o advogado, consultor de políticas públicas e jornalista Dojival Vieira, o caso ilustra a situação de racismo camuflado no Brasil.

“A internet acaba sendo vista pelos racistas como um território onde eles podem extravasar o que pensam. Isso explica os comentários agressivos e outras aberrações praticados contra a jornalista. Ninguém no País assume que é racista e o camuflado não aparece à luz do dia. Assim, passaram a ver que a internet é impune, o que é uma ilusão”, disse.

Vieira também é editor e responsável pela Afropressf, agência de notícias online que trata dos interesses da população negra e parda. O projeto nasceu na ONG ABC sem Racismo que, segundo ele, já foi vítima de diversos ataques racistas.

Para o advogado, as ações do MP que devem identificar os responsáveis pelos comentários podem enquadrá-los nos dois crimes: artigo 140 do Código Penal, injúria racial, e o crime de racismo, previsto na lei 7.716/89.

“O que não pode ser feito é confundir o racismo com preconceito. Preconceito todos nós temos, racismo é atitude. São coisas distintas, que o senso comum mistura”, opinou o advogado.

Para o militante do Movimento Negro Unificado do Grande ABC, Honerê Alamin Oadq, o que aconteceu é um reflexo do que é veiculado na própria televisão e acabou formando o caráter racista das pessoas que postaram as mensagens.

“Dificilmente a TV coloca o negro em posição adequada, em condição que não seja subalterna. Por muito tempo os programas produziram racismo ditando a cor do ladrão e a cor do empresário. Quando se coloca pessoa negra em horário nobre, essa população que ela sempre educou de maneira racista manifesta a contradição dessa mudança”, opinou Oadq.

De acordo com o militante, a jornalista está no cargo porque se esforçou muito para isso, mas ainda é exceção. Segundo ele, muitos negros ficam fora do mercado de trabalho por causa da cor da pele.

“Ela não tem que ser exceção, e a nossa luta é para que acabem essas exceções, para que outras pessoas possam ter o acesso devido à sua capacidade técnica e à experiência profissional. Isso atualmente não é levado em conta, porque o profissional negro, principalmente quando está em uma grande mídia, é barrado”, afirmou Oadq.
 




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