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José Mayer: o galã veterano
Rodrigo Teixeira
Da TV Press
30/08/2003 | 17:56
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José Mayer é um dos últimos galãs clássicos da TV brasileira. Daqueles que conseguem formar par romântico de forma convincente tanto com as jovens quanto com as maduras. Na pele do neurocirurgião de Mulheres Apaixonadas, novela das nove da Globo, ele é disputado por Christiane Torloni, Camila Pitanga e Carolina Kasting, além de atrair olhares cobiçados de outras mulheres da trama. “O César passa o rodo geral. Ele é terrível”, diz o ator de 53 anos. A lista de beldades que já caiu nos braços deste mineiro é enorme. Helena Ranaldi, Carolina Ferraz, Mel Lisboa, Deborah Secco, Adriana Esteves, Malu Mader, Luma de Oliveira, Patrícia Pillar... “É claro que faz bem ao ego ser reconhecido como galã”, afirma o ator, há 28 anos casado com a atriz Vera Fajardo.

José Mayer aponta as próprias características físicas para explicar a chave do seu sucesso com o público. O ator tem 1,75m de altura, cabelos grisalhos e olhos castanhos. Ou seja, mais comum, impossível. “Tenho o perfil do brasileiro médio. Só não sou considerado feio porque a profissão me dotou de qualidades”. Com 16 novelas, cinco minisséries, 10 filmes e incontáveis peças de teatro em 35 anos de carreira, o ator já viveu tipos bastante díspares. Entre eles, o bandido Jorge Fernando da minissérie Bandidos da Falange, o histórico Zé do Burro de O Pagador de Promessas e o engraçado Osnar de Tieta. Ultimamente, no entanto, o ator tem encarnado tipos sedutores, como o Fernando de Presença de Anita e o Pedro de Laços de Família. “Não me preocupo em mostrar facetas camaleônicas”.

Perto do fim de sua quarta parceria com Manoel Carlos, José Mayer não esconde o prazer em interpretar o garanhão de Mulheres Apaixonadas. “Como personagem, o César é admirável”. Quanto ao desfecho da novela, o ator é da opinião que o médico não terminará com a protagonista Helena, de Christiane Torloni. “Ela vai acabar com o Téo. O Maneco quer mostrar que é possível salvar um casamento. Acho justo”.

TV PRESS - Você define o doutor César como um herói ou um vilão?

JOSÉ MAYER - Não racionalizo como ator. Me empresto e me surpreendo, às vezes, com o que o autor escreve, mas por método mesmo. Não me aflijo quanto às atitudes do personagem. Simplesmente, realizo. Porque sofrer e questionar as atitudes é algo que a gente faz na vida pessoal. Nós é que devemos ser checados e revisados. A minha relação com autores e personagens é de me soltar. O ator tem este privilegiado espaço de liberdade onde ele pode ser, sem nenhum pudor, aquilo que a imaginação do escritor inventar.

TV PRESS - Você sempre mantém este distanciamento dos personagens?

MAYER - Desde o início da carreira. Lembro que na minha segunda peça, em 1969, Futebol Alegria do Povo, tinha de dar um beijo na boca de um homem. Fazia um cartola e o que se cobrava de mim ultrapassava em muito a minha medida moral. Mas me atirei e fiz a cena várias vezes. Então, este distanciamento é uma maneira de me poupar também. Por isso, não julgo o César. Claro que após 160 capítulos tenho o perfil do cara. Vejo qualidades e defeitos no César, mas o importante é realizar o que o Maneco escreve.

TV PRESS - Por quê?

MAYER - Pela capacidade que ele tem de mover a trama. O César desestabiliza relações, implanta crises. Do ponto de vista da dramaturgia, é um papel muito legal. Já na vida real seria um transtorno. Ele passa o rodo geral. E sabemos que isso pode causar complicações.

TV PRESS - Uma pesquisa aponta que você teria dado 2,8 mil beijos durante sua carreira na TV. Isso é verdadeiro?

MAYER - Pode ser que sim.

TV PRESS - Quantos destes foram técnicos?

MAYER - Ainda que pareça ser verdade, tudo que o ator faz é técnico. Ele decora, ensaia e faz.

TV PRESS - Mas muitos atores levam os pares românticos da fantasia para a realidade.

MAYER - Mas não é só no meio artístico. Na verdade, o amor acontece muito em ambientes de trabalho, embora seja desaconselhável.

TV PRESS - Ser um dos principais galãs da sua faixa etária não limita o seu trabalho?

MAYER - Realmente não há muitos galãs da minha idade. Justamente na faixa que possui personagens determinantes na maioria das tramas. Mas não vou abrir mão de personagens tão férteis só para mostrar uma capacidade camaleônica de ator. Esta não é a minha praça, pois não sou um ator de inúmeras caras. Sou mais ligado à expressão do homem comum.

TV PRESS - Você também é um ator que não dá muitas entrevistas e evita falar da vida particular. Como é conviver com a fama?

MAYER - O barato da profissão do ator é outro, menos a fama. A fama é um resíduo, porque é impossível não ficar exposto nesta função. Mas não é importante. Ao contrário. Às vezes, é chato. Após atingir a fama, percebe-se que o grande espaço da liberdade é o espaço do anonimato.

TV PRESS - Desde a estréia na TV, você emendou vários trabalhos. O que vai fazer após a novela?

MAYER - Descansar e me dedicar ao teatro. Porque nunca acumulo teatro com TV e desde 1994 minhas aparições em teatro estão mais rarefeitas. Cheguei à conclusão que sou um ator de novelas.




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