Tem exposição? Tem, sim, senhor. Tem espetáculo teatral? Tem, sim, senhor. Tem workshop? Tem, sim, senhor. Enfim, tem de tudo um bocado no picadeiro do projeto Que Palhaçada É Essa?, primeiro evento multicultural assinado – e não com tinta invisível – pelo grupo Doutores da Alegria e hospedado ao longo desta semana no Sesc Vila Mariana, em São Paulo. A trupe, que só desconhece quem levanta da cama com o pé esquerdo, foi fundada há 14 anos e desde então interage, pela via do humor, com crianças e jovens hospitalizados. O trabalho da companhia, para além de suas responsabilidades civis e sociais, acabou na trilha da pesquisa do clown enquanto linguagem.

A sessão no Sesc Vila Mariana vem no embalo da campanha de lançamento do documentário Doutores da Alegria – O Filme, dirigido por Mara Mourão (a mesma de Avassaladoras) e com estréia prevista para o próximo dia 23 no circuito comercial. Só para matar a curiosidade, e não para atiçar o espírito paparazzo de ninguém: Mara é mulher de Wellington Nogueira, o fundador do grupo de palhaços-enfermeiros, e chamado de Doutor Zinho nas horas não-vagas, quando assume o nariz vermelho.

Doutores da Alegria – O Filme já incluiu na maleta o prêmio de melhor filme na terceira edição do Festival de Cinema Brasileiro de Nova York, em julho, e duas outras láureas no 33º Festival de Gramado, mês passado: prêmio especial do júri e melhor filme na avaliação do público. A propósito, quando exibido em première no festival gaúcho, encantou a platéia a ponto de ser aplaudido de pé.

Isso tudo está lá na película. Agora, no Sesc, o respeitável público será apresentado a uma aprofundada "prestação de contas" da trupe, segundo a própria. Uma companhia formada por 35 palhaços – ou "besteirologistas", como se auto-intitulam os Doutores – contratados por uma instituição presente atualmente em dez hospitais em São Paulo, dois no Rio e três em Recife (PE), e que já atendeu um total estimado de 400 mil crianças, desde 1991.

Programação – Que Palhaçada É Essa?, o evento, exibe por exemplo uma mostra com fotografias e objetos empregados pelos Doutores da Alegria no cumprimento do dever. Para a exposição, com entrada franca, foi reproduzido nas dependências do Sesc um ambulatório médico, no qual os artistas da companhia estarão de plantão para qualquer emergência.

Na programação de quarta-feira, também está prevista uma oficina (das 10h30 às 17h30) em que os Doutores removem a maquiagem dos processos de comunicação entre o palhaço e a criança, voltada para profissionais da saúde. Às 15h, com reprise às 14h de domingo, está prevista a encenação de Poemas Esparadrápicos, série de versos de autores como Tatiana Belinky dramatizados pela vertente recifense dos Doutores e dirigido para os guris. E a partir das 18h, o picadeiro é desocupado para receber o espetáculo adulto Palhaços da Noite/ Midnight Clowns na Happy Hour.

Para quinta-feira, os arlequins reservaram a apresentação de Inventário, às 20h. Criação dos Doutores do Rio, trata-se de um espetáculo em que o hospital é avaliado de forma bem-humorada a partir dos efeitos que provoca em médicos, enfermeiros, pacientes e acompanhantes.

Na sexta, a atração principal é Mostra o Teu que Eu Mostro o Meu, e aí serão elas por elas. Sem roteiro, os "Patch Adams brasileiros" ficarão diante do público e com ele iniciarão um exercício de improvisação, cuja principal fonte de inspiração é a experiência acumulada nos hospitais. E Congresso Brasileiro de Besteirologia, que de pomposo só tem o título, é o espetáculo programado para sábado (17h30). Para encerrar, no melhor estilo momo, os Doutores da Alegria promovem o Bloco do Miolo Mole, cordão carnavalesco que desfilará pelos corredores da unidade do Sesc. E assim estarão prestadas as contas dessa trupe que, conforme vai mostrar o documentário de Mara Mourão dentro de duas semanas, não se limitou a ver a banda passar.