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Estudo mapeia traumas na cabeça
Márcia Pinna Raspanti
Do Diário do Grande ABC
29/06/2002 | 16:11
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As crianças de zero a 4 anos são as que mais sofrem com os traumas crânio-encefálicos, contusões e fraturas na região da cabeça causadas pelos mais variados fatores, como quedas, acidentes e até agressões e espancamentos, que muitas vezes ocorrem no ambiente doméstico. A conclusão alarmante é resultado de um levantamento nacional apresentado na Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), com base nos dados de 1999 do SUS (Sistema Único de Saúde), sobre as internações hospitalares em menores de 20 anos.

Segundo a autora do estudo, Camila Waters, a incidência de traumas na faixa etária até 4 anos foi uma surpresa. “É um problema grave, que passa desapercebido porque a mortalidade é baixa, mas as seqüelas podem ser graves”, disse. O grupo corresponde a 31,6% do total de hospitalizações avaliadas pelo trabalho.

Outro dado importante é que os boletins médicos nem sempre explicitam o verdadeiro motivo do trauma. A queda é apontada como a maior responsável pelo problema, seguida dos acidentes de transporte. “Nos casos de espancamento, os pais geralmente dizem que os ferimentos foram resultado de quedas, e o médico não tem condições de certificar-se da real causa do trauma”, disse Camila.

A falta de informações detalhadas nos boletins médicos foi o maior obstáculo encontrado pela pesquisadora. “Não temos como investigar cada caso para saber em que circunstâncias o trauma ocorreu e o que resultou dele. O boletim registra apenas o tipo de ferimento e o que foi alegado como causa pelo paciente ou, no caso das crianças, pelos pais”, disse.

As crianças são mais vulneráveis ao traumatismo devido à grande incidência de acidentes domésticos e nas escolas. “Apesar dos casos de maus-tratos, que não temos como quantificar, as quedas são realmente mais comuns nas crianças pelos tipos de atividade”, disse Camila.

A autora também separou os resultados por região do país. Apesar de a região Sudeste concentrar quase a metade das internações, o problema aparece em todo o Brasil. “Descobrimos que não era um dado tão relevante para a pesquisa. A separação por faixas etárias e causas são mais significativas”, afirmou.

O estudo se baseou nos registros médicos dos hospitais do SUS de todo o país. Foram mais de 20 mil casos levantados, nas pessoas com menos de 20 anos. A pesquisadora verificou também que mais de 57 mil pessoas, de todas as faixas etárias, sofreram traumatismo crânio-encefálico em 1999.

Acidentes de trânsito – A faixa etária que vai de 15 a 19 anos é a segunda mais atingida pelo trauma crânio-encefálico. “A diferença é que a principal causa do traumatismo é a agressão, seguida dos acidentes de transporte e das quedas”, disse a autora. A partir dos 10 anos, os acidentes se tornam a maior causa do problema.

O índice de mortalidade foi de 3,9% do total de internações. A população mais exposta a agressões e acidentes de trânsito – homens com idade entre 14 e 19 anos – registrou a mortalidade mais alta do estudo (3,1%).

O trauma crânio-encefálico é considerado uma epidemia silenciosa no Brasil e no mundo. De acordo com o levantamento da pesquisadora da Unifesp, o problema é responsável por 35% das hospitalizações da população abaixo de 20 anos no país. “A única forma de diminuir esses índices é investir na prevenção. No caso das crianças, por exemplo, é importante conscientizar os pais sobre os perigos que existem dentro e fora de casa”, disse Camila.

A autora lembra que a maioria das pessoas atingidas ficam com seqüelas graves. “Alguns cuidados simples, como no caso dos acidentes domésticos, podem evitar futuros problemas. As campanhas preventivas podem ser específicas para cada faixa etária, pois já conhecemos as causas mais freqüentes do trauma. Com esse dado, as campanhas podem ser mais eficazes”, afirmou. Nos acidentes de trânsito, o uso de capacetes pelos motociclistas e do cinto de segurança reduzem os riscos.




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