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Pobres urbanos abandonam catolicismo
Por Do Diário do Grande ABC
06/05/2007 | 07:06
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O risco está na periferia. Nas áreas mais afastadas dos grandes centros, o contingente de evangélicos cresce e preocupa a Igreja Católica. No Grande ABC, o fenômeno segue a tendência nacional e arrebanha fiéis onde os padres não se fazem presentes.

Em Rio Grande da Serra, há apenas duas paróquias e novas denominações pentecostais, que já são praticadas por 24,77% de uma população humilde e sedenta por novas perspectivas de vida. O inverso ocorre em São Caetano, cidade mais rica da região, com 76,15% de católicos, confirmando a tese de que a escolha da religião também é determinada pelo padrão de vida.

A condição social é relevante quando se leva em conta a necessidade pessoal de quem busca auxílio de Deus. O imediatismo classifica os fiéis. Segundo frei Diogo Fuitem, da comunidade Maria Imaculada, a presença evangélica se consolida de uma hora para outra. “É por isso que as diferentes igrejas pentecostais se proliferam tão rápido. Elas prometem curas, progressos financeiros para uma população necessitada, às vezes desempregada e miserável”, afirma.

Para Fuitem, a visita do papa é prova de que o assunto merece debate e, principalmente, ação. O alerta teria sido dado por dom Cláudio Hummes, que hoje ocupa cargo de confiança junto ao líder do catolicismo. “A expectativa é de que Bento XVI inclua, em seu discurso de abertura da Conferência de Aparecida, comentários sobre o tema”, acredita.

Nas palavras propagadas pelo Vaticano ou pelos sacerdotes e bispos do Brasil, uma mesma linha de raciocínio: o perigo das falsas doutrinas e a queda na religiosidade do povo. Para a pesquisadora do Ceris (Centro de Estatísticas Religiosas e Investigações Especiais) Sílvia Fernandes, a mobilidade religiosa pode estar relacionada, ainda, a uma postura mais autônoma das pessoas. “A religião passa a não assumir uma posição central na vida das pessoas, mas funciona como um recurso edificante que pode ser encontrado também na ioga e nas terapias de saúde”, diz.

As milenares proibições da Igreja seriam outros fatores de dificuldade para a evangelização. “Não permitir a comunhão aos casais em segunda união ou o uso de métodos contraceptivos artificiais é exigir muito dos fiéis. É preciso uma postura mais aberta e menos burocrática. Deve-se lembrar que os pastores neopentecostais não se cansam de dizer venha como você está, como você é”, completa.

A flexibilidade colaboraria, inclusive, para uma mudança na prática da fé. Estima-se, hoje, que apenas 22,1% dos católicos vão à missa semanalmente. Os evangélicos têm outros hábitos: cerca de 68% freqüentam a igreja pelo menos duas vezes por semana.

Apesar do crescimento das pentecostais, alguns estudiosos apostam que a nova tendência é que os números se estabilizem e até retrocedam. O professor de Ciências Políticas da Fundação Getúlio Vargas Marcelo Neri relaciona a mobilidade religiosa à condição econômica do Brasil.

“Nas décadas perdidas (anos de 1980 e 1990), o País conheceu novos pobres, urbanos. Esses são atraídos pelo poder dos evangélicos. Os tradicionais, porém, que vivem no interior nordestino, por exemplo, são essencialmente católicos. Pertencem à classe E e não se curvam apesar da miséria”, diz.

Com a retomada do desenvolvimento, mesmo que a passos lentos, a perspectiva é de que os católicos voltem a crescer e lotar paróquias em todo o País. A presença do papa, para os mais otimistas, sinaliza o início de uma resposta devidamente analisada pela Igreja.

Rico x Pobre

1 - Tradição Cristã

Dados nacionais revelam que famílias de classe alta se mantêm fiéis à Igreja Católica. A tendência é notada também na região. A cidade mais rica, São Caetano, é a que tem o maior número de fiéis no Grande ABC.

2 - Teoria da Prosperidade

O crescimento do número de evangélicos segue mapa da nova pobreza brasileira, desencadeada nas décadas de 1980 e 1990. Os pentecostais são mais numerosos nas periferias. Sinal da falta de oportunidades e da busca por mudanças de vida.



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