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Celso Frateschi sola Dostoievski
Por Dojival Filho
Do Diário do Grande ABC
04/08/2005 | 08:45
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Nesses tempos de crise política e denúncias de corrupção aos montes, nada mais contemporâneo que a utilização da arte para que se exponha a descrença e a mesquinhez de todos nós. Para inaugurar o Instituto Cultural Capobianco, em São Paulo, entra em cartaz a partir desta quinta, às 21h, o monólogo Sonho de Um Homem Ridículo, baseado em um conto homônimo do escritor russo Fiódor Dostoievski (1821-1881) e encenado pelo ator, diretor e dramaturgo Celso Frateschi. Os ingressos custam R$ 30.

A personagem é um funcionário público desiludido, atormentado pela idéia fixa de suicídio e entorpecido confortavelmente por um egocentrismo desmedido. Ciente de sua existência ridícula desde a tenra infância, quando era motivo de zombaria e desprezo de seus semelhantes, é a imagem acabada da ideologia da indiferença, que nos sufoca, diariamente.

Num dia em que mais uma vez esperava encontrar o momento de meter uma bala em sua cabeça, o funcionário é abordado por uma menina que clama por ajuda. Ele não só recusa o apoio à criança, como a espanta aos berros. Ao voltar para casa, adormece e sonha com sua própria morte, com seu enterro e com uma vida após a morte, viajando pelo espaço.

Durante a viagem, experimenta a terra não manchada pelo pecado original e conhece os homens na plenitude da sabedoria e equilíbrio. “É um personagem típico do Dostoievski, um homem do subterrâneo, o subsolo da alma. Não chega a ser um suicida. A gente percebe, no decorrer do conto, que ele não se mataria”, explica o ator, responsável pela dramaturgia do espetáculo, dirigido por Roberto Lage e com produção de cenários e figurinos de Sylvia Moreira.

Política – Com mais de 35 anos de carreira artística, Frateschi também é reconhecido pelo engajamento em movimentos sociais e pelos cargos que exerceu na administração pública. Foi secretário de Cultura em Santo André nos dois mandatos do ex-prefeito Celso Daniel. Entre 2003 e 2004, esteve à frente da Secretaria de Cultura de São Paulo.

Sobre os tempos em que foi secretário andreense, faz a uma distinção bem clara entre a primeira e a segunda gestões. A primeira teve duração de dois anos (1990-1992), período em que Frateschi acredita ter conseguido estreitar a relação das comunidades, sobretudo as mais carentes, com a cultura. “Foi uma gestão muito exitosa e de grande participação popular. Tenho muito orgulho de dois grandes projetos: as Emias (Escolas Municipais de Iniciação Artística) e a Escola Livre de Teatro, que hoje é uma referência nacional”, afirma o ator, que destaca ainda a revitalização do Teatro Municipal. A experiência da segunda gestão (1997-1998), no entanto, foi menos animadora. “Não senti tanta disposição para essas atividades. Tinha uma briga interna e não consegui retomar os centros comunitários que são a base de qualquer trabalho cultural”.

Ainda no campo das desilusões, o momento de turbulência pelo qual passa o país se torna um assunto inevitável. Petista de primeira hora, Frateschi acredita que os ‘companheiros’ caíram em uma armadilha do sistema político. “É muito dolorido para nós, militantes e simpatizantes, mas, ao mesmo tempo é histórico e pode significar um avanço desde que se vá a fundo. Não pode significar uma derrota dos princípios do PT. É uma derrota de quem caiu na armadilha”.

Sonho de Um Homem Ridículo – Nesta quinta, às 21h. no Instituto Cultural Capobianco – r. Álvaro de Carvalho, 97, S.Paulo. Tel.:3237-1187. quinta a sábado, às 21h, e, aos domingos, às 20h. Ing.: R$ 30. Censura 12 anos. Até 18 de setembro.




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