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‘E.L. Circo’ inova a partir do tradicional
Alessandro Soares
Do Diário do Grande ABC
11/04/2005 | 11:47
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“Allez up!”, gritaram os artistas antes de entrarem em cena para o respeitável público do espetáculo E.L.Circo, que marcou a estréia do Núcleo de Montagens Circenses da ELT (Escola Livre de Teatro) de Santo André. A apresentação, que integra o Circuito Teatral Santa Terezinha e o 4º Festival do Circo de Santo André em abril, faz parte da preparação dos alunos para a vida artística em picadeiros, palcos ou  telas. E todos os 18 da trupe gritaram as mesmas palavras no encerramento da apresentação, sábado à noite, para a platéia que aplaudiu muito e lotou as arquibancadas do pequeno circo de lona listrada de azul e amarelo no Parque Prefeito Celso Daniel, que continuará lá sábados e domingos – em  abril às 20h, e em maio e junho, às 16 – com entrada franca.

A grafia deste grito pode nem ser essa, segundo Marcelo Milan, artista de circo, preparador dos atores-aprendizes e diretor geral do espetáculo. “Acho que é assim que se escreve. Faz parte da tradição oral do circo”, diz. “Allez up!” é o grito de comando de ação, quando um artista avisa ao parceiro que está pronto para saltar, ergue-lo ou fazer algum movimento que envolva força e risco.

São dados técnicos, porém, para os quais o público não se atenta. Crianças, adultos e idosos formaram a platéia de cerca de 400 pessoas – estimativa de Milan, segundo a capacidade das arquibancadas. Muitos eram parentes e amigos dos artistas presentes para conferir suas performances.

Olhares atentos voltavam-se para uma cena de equilíbrio em tábua sobre dois cilindros, acrescida de elementos cômicos, ou para números de trapézio sincronizado, com duas artistas desenhando formas com suas pernas e braços coordenados no ar, ou ainda para o bailado de arcos a quatro corpos, com artistas se pendurando e equilibrando ao som de um ritmo ancorado na camerística popular do Movimento Armorial pernambucano.

Não havia mágicos nem animais, mas algo de diferente nesta apresentação. Cada entrada em cena era precedida de gestual teatral, que permeou todo o espetáculo. Nenhum número era totalmente igual ao de outros circos. O que se viu não foi o chamado “novo circo”, cujo expoente é o Cirque du Soleil. E.L. Circo é teatro e é circo mesmo, de chão batido, lona erguida a oito metros, e mastros de metal ao redor do picadeiro, entre a platéia e a apresentação, aumentando ainda mais o risco dos artistas de esbarrar num deles.

Intercalados aos números circenses, foram apresentadas cenas de Romeu e Julieta, encenações cômicas a exemplo do que se fazia nos circos do passado. Primeiro, uma cena romântica a partir do texto de William Shakespeare. Depois, escritas por Luís Alberto de Abreu, as cenas mostraram visões regionais e engraçadas do que teria acontecido com os personagens se em vez de filhos de duas famílias rivais de Verona fossem um casal de amantes do sertão, com uma cerca entre eles, fincados na teimosia; ou uma mina filha de um sargento da Rota e um mano da periferia, que falam de amor enquanto decidem se o que ouvem é sirene de ambulância ou polícia; por fim, um Romeu gaúcho, que “não chupa tutano, rói o osso”, doido para pelear, pede “que venham os Capuletto”, e que ali pelos Pampas não tem essas frescuras de Shakespeare. A platéia vibrou bastante, principalmente na cena dos manos.

Nem precisa falar dos risos com as cenas de palhaço com o número das duas lavadeiras disputando água e sabão entre elas e a corda bamba com um palhaço vestido a la Tom Cruise ao som de Missão Impossível e do tema da Pantera Cor-de-Rosa para roubar um anel num cofre são engraçadas. O final foi apoteótico, com todos no picadeiro se revezando em equilíbrio, malabarismos com bolas, garrafas e facas, e formando pirâmides, e a platéia acompanhando com palmas.

A iluminação inadequada – holofotes instalados no chão – prejudica a visualização de quem está bem defronte deles. A parceria entre as diretorias de Lazer e Cultura da Prefeitura, que possibilitou a montagem deste espetáculo no parque, poderia pensar até o fim da temporada em junho, em ajudar os artistas instalando holofotes no alto, para melhorar o foco de luz sobre atrações.

Pequenas falhas existem, como o esbarrão da equilibrista num dos mastros de sustentação da lona e uma queda no número de equilíbrio em dupla, corrigíveis no resto da temporada. Mas o espírito desta estréia estava tinha sobrescrito o lema “o show deve continuar”.



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