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Uso de medicação psiquiátrica tem alta

Em quatro anos, três cidades da região registraram aumento na distribuição de psicotrópicos

Por Vanessa de Oliveira
Do Diário do Grande ABC
26/10/2015 | 07:00
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Ansiedade, depressão e outros males constantes da vida moderna. Para muitas pessoas, a saída encontrada para combater esses problemas é o uso de remédios. Em 2012, boletim da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) mostrou que os ansiolíticos (que têm a propriedade de atuar sobre a ansiedade e tensão) foram as medicações com receita controlada mais consumidas no País entre 2007 e 2010. Levantamento feito pela consultoria IMS Health apontou que a venda de calmantes e antidepressivos aumentou 8,4% no período de 2009 a 2013. No primeiro ano foram vendidos 49.6 milhões de medicamentos, subindo para 53,8 milhões.

Na rede de Saúde da região também se percebe crescimento na distribuição dos psicotrópicos. Das sete cidades, três (Diadema, Mauá e Santo André) informaram o número de comprimidos dispensados para transtornos psiquiátricos, em comparação de quatro anos. Em 2010, foram 14.6 milhões de unidades farmacêuticas, passando para 19,8 milhões em 2014, aumento de 35,6%. Em Mauá, por exemplo, entre os 32 medicamentos padronizados para esse tipo de tratamento (tarjas preta e vermelha), foram 5,9 milhões de unidades em 2010, subindo para 10,2 milhões no ano passado.

Avaliando os demais municípios (exceto São Bernardo e Rio Grande da Serra, que não forneceram informações), os medicamentos tarja preta que têm mais saída são o Clonazepam, o Diazepam e o Nitrazepam (saiba mais sobre eles na arte acima). “Os índices de violência, estresse e a vida sobrecarregada nas grandes metrópoles ocasionam ansiedade e outros problemas. Assim, as pessoas acabam fazendo uso desses remédios”, destaca a psiquiatra da rede municipal de Saúde de Mauá, Suzana Robortella. A profissional ressalta, porém, o uso indiscriminado dos medicamentos receitado por outros especialistas. “Em geral, as pessoas passam com o clínico geral ou outro médico, contam que já tomaram o remédio de alguém, se sentiram melhor e acham que esse é o caminho. Então, forçam para conseguir a receita”, fala.

O presidente da Associação Brasileira de Psiquiatria, Antônio Geraldo da Silva, compartilha da opinião. “Outros médicos prescrevem mais esses medicamentos que os próprios psiquiatras. Às vezes, passam sem ter conhecimento adequado, com intenção de ajudar, mas em algumas ocasiões, o querer ajudar é mais prejudicial”, alerta. “Procurando um psiquiatra, ele vai dar o tratamento correto e organizá-lo, com início, meio e fim”, completa.

A doméstica Maria Aparecida Rosa de Souza, 49 anos, de Mauá, procurou auxílio direto na psiquiatria. Em 2012, entrou em depressão após a morte do marido em acidente de carro. “Não sentia vontade de viver, achava que morrer seria a solução para tudo”, conta. Ela toma cinco medicamentos, mas tem se esforçado para deixá-los. “É ruim depender de remédio. Tem que acreditar mais em Deus.”

Especialista alerta para o uso consciente

A psiquiatra da rede municipal de Saúde de Mauá, Suzana Robortella, alerta para a necessidade do uso racional de medicamentos psicotrópicos. “Essas medicações levam à dependência e trazem problemas. Têm pacientes, com uso crônico, que adquirem deficit cognitivo. As pessoas deveriam pensar no uso irracional, como se fosse uma droga ilegal. Não é porque ela é lícita que faz menos mal que a ilícita”, salienta. “Esses remédios podem ser usados em período de três meses. Eles não curam a causa (do problema). O quadro precisa ser acompanhado por um psicólogo, com a ajuda de terapia e grupos que auxiliem na redução do medicamento”, completa,

Em Mauá, a Prefeitura informa que o incentivo ao uso racional de remédios é uma prática constante em todas as unidades de Saúde municipais. “Todas as farmácias municipais dispensadoras de medicamentos controlados contam com profissional farmacêutico em período integral”, frisa

A administração de Santo André declara que tem realizado a descentralização da Saúde Mental e utilizado estratégias de terapia comunitária, práticas alternativas de Saúde, grupos de mulheres e psicoterapia grupal.

Em São Caetano, o Executivo oferece treinamento para os profissionais envolvidos no trabalho do Caps (Centro de Atenção Psicossocial). “O próprio médico já faz esse trabalho na consulta. Ele é o multiplicador do conceito de uso racional de medicamentos”, salienta.

Em Diadema, é feito trabalho de conscientização para o uso racional de medicações psiquiátricos em oficinas com os pacientes.

Já em Ribeirão Pires, os médicos, junto com a equipe multidisciplinar do Serviço de Rede de Atenção Psicossocial, atuam com objetivo de que pacientes usem medicações dentro do limite mínimo necessário, além da utilização de recursos terapêuticos.

São Bernardo e Rio Grande da Serra não retornaram as informações. 




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