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Estrada Velha tem noites de terror

Desde o mês de maio, foram 13 casos registrados pela polícia;
nove dos 10 estabelecimentos da Rota do Peixe foram vítimas

Rafael Ribeiro
Do Diário do Grande ABC
30/07/2012 | 07:00
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Revezamento entre familiares para dormir, contratação de vigias, instalação de câmeras e noites em claro para acompanhar as imagens captadas, mesmo que à distância, pelo computador. Essa vem sendo a rotina dos donos de restaurantes e bares da Estrada Velha do Mar, no Riacho Grande, em São Bernardo, após a onda de invasões e furtos. Desde maio, foram 13 casos registrados pela polícia. Nove dos dez estabelecimentos da Rota do Peixe foram vítimas. E a insegurança só aumenta.

"Se o cachorro late a gente não dorme mais, não tem jeito", disse Adriane Freitas de Oliveira, 31 anos. O restaurante dela foi invadido na terça-feira. Os bandidos usaram a Pampa da família para transportar os itens. O veículo foi encontrado pela polícia no Jardim Silvina, intacto, mas não há pistas sobre suspeitos.

Segundo o delegado Baldomero Cortada Neto, titular do 4º DP (Riacho Grande), as investigações, que começaram há 15 dias, são prioridade. Equipe exclusiva cuida do caso, além de realizar o mapeamento da região e das comunidades próximas. "Nossa expectativa é ter novidades em breve", disse. Para ele, há fragilidades na infraestrutura do local que facilitam as ações criminosas.

Os comerciantes concordam. E não se queixam de ausência policial. As forças de segurança estão presentes, segundo eles. Os problemas são a falta de iluminação e de investimentos próprios para coibir os ataques. Somente depois de os criminosos começarem a agir é que os proprietários providenciaram a instalação de câmeras e holofotes nos estabelecimentos. Mas, ainda assim, cobram que o poder público dê mais atenção à rota turística.

Valendo-se da escuridão e das ausências de alarme e de pessoas, os criminosos arrombam a porta, invadem o espaço e furtam de tudo - de comida a utensílios e equipamentos. Geralmente, fogem para o mato. Alguns comerciantes tiveram prejuízo de R$ 20 mil.

Os 330 km² do bairro dificultam o pronto atendimento dos chamados, alegam policiais militares. E a distância entre os imóveis impede que os vizinhos possam escutar barulho ou identificar movimentação atípica.

Até agora, um único suspeito foi detido, mas foi solto porque nenhuma das vítimas o reconheceu.

Mais do que o prejuízo, os comerciantes temem pela própria segurança. Muitos moram no mesmo terreno dos restaurantes e bares. "Está começando a ficar perigoso", avalia Adriane. "Às vezes esquecemos alguma coisa no salão e temos de voltar para pegar. E se dermos de cara com os bandidos? Não sabemos se estão armados."

Uma das soluções é reativar a associação local e trocar informações. "Pode funcionar se nos unirmos", avalia Adriane.

 

Comerciantes colecionam traumas e medo

Rozana Aparecida Bassoti, 50 anos, emociona-se. Mesmo passados quatro meses daquela noite de 2 de abril, as lembranças do incêndio criminoso do qual seu bar foi alvo ainda chocam. O imóvel era de madeira e ela perdeu tudo. Não tinha seguro. Foi encontrado galão de gasolina, única pista do caso.

"Não sei como alguém teve a coragem de fazer isso. Não sou a única que dependia do bar. Outras famílias tiravam dali o sustento. Foi falta de respeito", lamentou. Para se reerguer, Rozana contou com a ajuda dos colegas. E a união parece ser a única força que resta aos comerciantes da Estrada Velha.

O estabelecimento de Raquel Lopes, 46, funciona 24 horas. Isso não impediu que ela fosse alvo três vezes dos bandidos. É a recordista. "É desagradável. Você fica sem pernas, não sabe o que fazer. Estressa", disse.

Isolda de Paiva, 55, foi vítima na terça-feira, quando houve três casos registrados. A audácia, segundo ela, impressiona. "Os bandidos ligam para a gente nos ameaçando, dizendo que voltarão. Ficamos com muito medo de trabalhar assim", apontou.

Entre os comerciantes, a suspeita é de que os responsáveis sejam próximos. Pessoas que conhecem a rotina, os hábitos e, principalmente, os horários. Por tratar-se de lugar ermo, acham que dificilmente atrairia criminosos de fora.

"Com certeza é alguém que foi mandado para nos prejudicar. Mas acredito que a verdade virá à tona", disse Rozana. No caso dela, nada foi levado. A maioria dos comerciantes está no local há pelo menos 20 anos.

Os proprietários colecionam traumas e medo de outras invasões. Robson Sanchez de Souza, 33, passa as noites no notebook assistindo as câmeras de segurança que instalou em seu restaurante. Já foi vítima duas vezes.

Enquanto aguardam dias melhores, eles trabalham para superar as perdas. Rozana conseguiu reconstruir o local após atender os clientes em uma barraca. Colocou holofotes poderosos, que iluminam em raio de até um quilômetro. Recebeu doações de todos, inclusive da polícia. Com tantos anos dedicados ao bairro, a clientela é fiel. Mesmo assim, a felicidade está acima dos bens materiais ganhos com o bar.

"Não é só questão material. Mesmo perdendo tudo, a única coisa que sinto falta é do meu aquário, dos meus peixes. Nada trará isso de volta. É uma cicatriz", contou.

 

 




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