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Paquistanesas morrem em nome da honra masculina
Do Diário do Grande ABC
08/03/2000 | 11:07
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Uma recém-casada, de 14 anos de idade, foi assassinada por seu marido durante a noite de núpcias, em nome de uma espantosa tradiçao de ``assassinatos em nome da honra', da qual sao vítimas, a cada ano, centenas de mulheres paquistanesas.

O ``karo-kari', que pode ser traduzido como ``homem desonrado, mulher desonrada', é uma tradiçao secular da província de Sindh (sul do Paquistao), que permite aos homens matar as mulheres de sua família suspeitas de adultério.

Estes crimes, também tradicionais na província de Baluquistao, tem equivalentes com outros nomes em outras províncias paquistanesas.

A história de Rahima Mugheri, casada aos 14 anos, é típica. Em 2 de março, se casou com Niazal Mugheri, 28 anos, em Sajawal Junejo, povoado de Sindh situado perto de Larkana (450 km a nordeste de Karachi).

``Na noite de núpcias, o recém-casado saiu de casa afirmando que sua mulher lhe confessou que tinha praticado antes uma relaçao sexual com um outro rapaz. Toda a família declarou o recém-casado kari', disse Nazir Qureshi, membro da organizaçao nao-governamental de defesa das mulheres Sindhyani Tehrik.

``O irmao mais velho do marido disparou o primeiro tiro, depois os outros dois irmaos fizeram o mesmo e o recém-casado deu o tiro de misericórdia', afirmou.

Niazal Mugheri foi detido pela polícia, por causa das pressoes das associaçoes e da imprensa, que publicou reportagens sobre os crimes contra as mulheres.

``Minha filha foi assassinada porque seu marido teve uma briga pessoal com o homem' acusado de ter mantido relaçoes sexuais com ela, declarou o pai da vítima. Segundo a tradiçao ``karo-kari', o marido tem agora ``o direito' de matar o homem acusado de adultério.

Segundo diversas denúncias de ONG's, muitos destes assassinatos em nome da honra servem para encobrir outros crimes, que nada têm a ver com o suposto adultério da vítima. Se um homem mata outro por um motivo qualquer, mata também uma mulher de sua família, poe os dois corpos juntos e invoca a ``honra' como motivo do crime, evitando assim sua prisao.

A Justiça paquistanesa nao intervém quase nunca nos casos de ``karo-kari', considerando que o assassinato de uma mulher por um homem da própria família é um ``assunto privado'.

Assim, freqüentemente meninas que mal entraram na adolescência, esposas, maes e até avós sao assassinadas, juntamente com homens que jamais viram na vida.

Segundo as ONG, estes assassinatos aumentam cada vez mais. ``Em 1998, houve cerca de 400 e em 1999, foram 600', afirma Nighat Taufeeq, que trabalha para a ONG Shirkat Gah.

``Num momento em que as mulheres lutam por seus direitos no mundo inteiro, aqui continuam condenadas a práticas medievais', acusa.

O ministro do Interior, Moinuddin Haider, afirmou que a lei será mudada, para acabar com estes assassinatos. ``Quem assassina em nome da honra deveria ser enforcado', disse.

Mas as ONG's nao alimentam ilusoes a respeito. ``Isso continuará, enquanto nao mudarmos o atual sistema feudal', afirmou Taufeeq.




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