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AC/DC com fome de rock
Por Vinícius Castelli
Do Diário do Grande ABC
01/11/2008 | 07:00
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Receita de bolo de avó, daquelas simples, mas que só elas próprias e as mães sabem preparar, pois apenas elas têm a receita. E por mais que já se conheça o sabor, sempre dá vontade de mais um pedaço. Assim é também a música do grupo de rock AC/DC.

Black Ice (Sony/BMG R$ 27 em média) é o nome do novo cardápio de músicas inéditas do quinteto, que chega em formato digipack e traz um livreto com fotos da banda. A capa foi lançada em três versões diferentes que alternam as cores do logotipo entre vermelho, amarelo e cinza. Para divulgar o novo álbum, uma turnê já teve início nos Estados Unidos, com previsão para durar 18 meses. A última vez em que o AC/DC se apresentou ao vivo foi em 2001.

Após oito anos ‘escondida' nas sombras, desde o lançamento de Stiff Upper Lip, a banda que por vezes pareceu até ter encerrado suas atividades sem dar a menor satisfação aos fãs, está de volta. Nascido na Oceania, mais especificamente na cidade de Sidney, Austrália, em meados dos anos 1970, o grupo que conta até hoje com os fundadores, irmãos e guitarristas Angus e Malcolm Young reaparece com a mesma formação do último álbum, que também que se tornou clássica nos anos 1980 com discos como Back in Black e For Those About to Rock (We Salut You), junto a Cliff Williams no contrabaixo, Phill Rudd na bateria e o ensurdecedor vocalista Brian Johnson, que juntou-se à banda após a morte do vocalista original Bon Scott em 1980.

As primeiras notas ardidas das guitarras de Angus e Malcolm são o pontapé inicial para que Rock N Roll Train - primeiro single e clipe do CD - dê início ao petardo musical. E nem precisa esperar chegar até o refrão para sentir vontade de aumentar o volume. Phil Rudd sempre foi um baterista simples, contido até, e é assim que ele dá sequência em Skies on Fire, com batidas elementares, porém fortes.

Big Jack talvez seja o ponto mais fraco do álbum todo, mas é compensada com Anything Goes, que traz um belo passeio de arranjos pelas cordas dos irmãos Young, além do refrão cercado por coros vocais em que Brian canta algo como "Lá vai ela, lá vai ela, e ninguém sabe para onde, ninguém sabe".

Canção que começa com brisa, chega mansa e explode quando você sabe que deve explodir, assim é War Machine.

Os solos de guitarra de Angus são até hoje uma das marcas maiores do grupo. Sem efeitos e sem delongas, o australiano de 53 anos, que mais uma vez usa suas roupas de garoto colegial, solta de sua famosa Gibson notas na medida certa como em Smash N Grab e Spoolin' For a Fight.

Desafio - Um grupo com 33 anos de carreira, 15 álbuns lançados em estúdio e cerca de 200 milhões de cópias vendidas não pode se dar ao luxo de produzir um disco qualquer, ainda mais quando são quase dez anos fora da mídia. Pode parecer não haver muito segredo em fazer um novo álbum, mas superar trabalhos fantásticos como Highway to Hell e Back in Black, é com certeza um grande desafio. Canções como Wheels, Decibel e Stormy May Day mostram o esforço do conjunto para chegar perto dos famosos discos.

Os arranjos em Money Made dão a sensação de estar escutando uma gaita-de-fole, instrumento de sopro famoso na Escócia - país de origem do vocalista original.

O contrabaixista Cliff Williams abusa bem das harmonias na introdução de Rock and Roll Dream junto à voz quase limpa de Brian, que é seguida por um explosão causada pelas guitarras e pelas batidas de Rudd. Este é um dos pontos mais altos de toda a bolachinha. As músicas Rockin All the Way e Black Ice fecham os 55 minutos do mais puro rock.

A produção - Black Ice teve Brendan O'Brien como produtor, que também já trabalhou com Stone Temple Pilots e Bob Dylan, entre outros. E de todos os álbuns já produzidos pelas mãos de Brendan, 11 alcançaram o topo das paradas norte-americanas. Black Ice parece ir para o mesmo caminho, afinal já vendeu nos Estados Unidos 780 mil cópias só na primeira semana, ficando atrás somente das vendas de The Carter III do rapper Lil Wayne, que vendeu um milhão de discos na primeira semana.

Sem baladas e sem rodeios, Black Ice é a prova de que boa receita não precisa ser mudada, e acima de tudo, boa receita não tem idade. É Rock and Roll direto e reto.




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