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Setor automotivo enfrenta desafio

Com alta dos insumos, dólar disparado e futuro incerto, montadoras têm maior produção em 12 meses

Yara Ferraz
do Diário do Grande ABC
07/11/2020 | 00:23
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DGABC


Apesar do crescimento da produção de veículos em 7,4% no mês de outubro – totalizando 236.468 unidades – na comparação com setembro, a indústria automotiva vem enfrentando dificuldades para se readequar ao mercado em 2020. Em ano totalmente atípico, por causa da pandemia do novo coronavírus, agora o setor precisa enfrentar a falta de insumos e a desvalorização do dólar para manter os níveis de fabricação.

Números da Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores), divulgados ontem, mostram que apesar de outubro ter alcançado o melhor resultado em 12 meses, ainda há queda de 18% em relação ao mesmo período de 2019 (veja mais na arte ao lado). No acumulado do ano, a redução chega a 38,5% com o total de 1,5 milhão de automóveis produzidos nas fábricas do País de janeiro a outubro de 2020.

As exportações tiveram reação em outubro de 14,3% em relação a setembro. Foram enviados ao todo 34.882 veículos, crescimento de 16,4% sobre o mesmo mês de 2019. A entidade justifica o aumento dos números por causa da retomada de mercados vizinhos após uma prolongada quarentena. Apesar dos resultados recentes, ainda há redução de 34,8% no acumulado do ano.

“Os resultados de outubro revelam os esforços da indústria para atender ao crescimento da demanda em alguns segmentos do mercado”, afirmou o presidente da Anfavea, Luiz Carlos Moraes. “Temos muitos desafios para atingir uma recuperação mais vigorosa, como os novos protocolos das fábricas, a dificuldade de planejar o médio prazo, a alta dos custos e, recentemente, a falta de alguns insumos.”

“Na medida em que caiu muito a produção no começo da pandemia, as empresas cancelaram alguns pedidos. Para isso ser retomado, as fábricas precisam se reordenar. Também temos a questão de redução da demanda do mercado interno e a desvalorização do real em relação ao dólar, com uma tendência muito forte de reduzir o volume de importação”, explicou o coordenador de MBA em gestão estratégica de empresas da cadeia automotiva da FGV, Antonio Jorge Martins.

Entre os principais insumos que registraram constantes aumentos expressivos está o aço, material que a cadeia automotiva é dependente. O reajuste já chega a 40% neste ano.

Todas essas incertezas – além do receio de segunda onda de infecção no País – prejudicam o setor que se planeja a longo prazo. “Temos observado recuperação, mas é muito difícil fazer previsão com segurança, para trazer material importado e programar fornecedores. A dúvida que se tem é se essa é uma recuperação que veio para ficar ou se era uma demanda reprimida do segundo e terceiro trimestres”, afirmou Moraes.

Para lidar com a situação, as empresas utilizam mecanismos para otimizar a produção. Na região, a GM (General Motors) em São Caetano, recorreu à suspensão das tradicionais férias coletivas para poder se readequar ao mercado.

Em contrapartida, a redução da produção em relação ao ano passado também impacta no número de empregos. Em outubro, houve redução de 0,6% em relação ao número de empregos de outubro e 5% em relação ao mesmo período do ano passado – atualmente há 121.391 empregados no País. Na região, quatro das cinco montadoras anunciaram PDV (Plano de Demissão Voluntária).

Moraes afirmou que as fábricas estavam preparadas para produzir 3,260 milhões de unidades neste ano, o que foi prejudicado pela pandemia. “Mesmo que a gente feche bem o ano, vamos fechar perto de 2 milhões. São 1,260 milhão de veículos a menos e é impossível admitir que as fábricas vão ter a mesma força de trabalho”, disse. 




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