Cultura & Lazer Titulo Especial
Sobre ganhar asas
Miriam Gimenes
01/04/2018 | 07:00
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Nario Barbosa/DGABC


Com Eldest em punho, o segundo da trilogia Ciclo da Herança escrito pelo norte-americano Christopher Paolini, o jovem Felipe*, 18 anos (*o nome foi trocado), sai da sala de aula e entra no espaço onde, futuramente, poderá desfrutar melhor da sua leitura. Ele cursa o 8º ano do Ensino Fundamental. Apaixonado por livros – já chegou a ser funcionário de uma biblioteca, organizando as publicações –, tem como sonho cursar Letras e trabalhar como professor.

Não fosse pelo local onde ele vive há, pelo menos, sete meses, a história do rapaz seria parecida com a de muitos da sua idade. Mas Felipe é interno da unidade 2 da Fundação Casa ou Casa 2, em Santo André. É neste endereço onde deve ser feita, até o fim do ano, uma biblioteca para que ele e outros 62 internos possam aprimorar os conhecimentos gerais e praticar a leitura.

Felipe não vê a hora disso acontecer. “Acho que para muitos de nós a biblioteca vai ser algo bom, porque vamos poder saber coisas novas e pensar diferente do que pensamos hoje em dia, que são ideias que não valem a pena. Isso pode influenciar até lá na frente, no nosso futuro”, projeta.

O rapaz, que não sabe contabilizar quantas publicações já leu desde que entrou lá – pelo artigo 157, assalto a mão armada –, é viciado em romances e diz que herdou o hábito da leitura da mãe, que é manicure e podóloga. “Quando estou lendo esqueço os problemas e procuro imaginar uma história como se eu fosse o personagem do livro.” Além de poder oferecer uma vida melhor para a filha de 2 anos, Felipe sonha escrever um romance.

Segundo a diretora da Casa 2, Bernadete Castro Fernandes, o caso do rapaz não é isolado na unidade. Há bastante procura pela leitura. Por isso, há alguns anos, a ideia de fazer a biblioteca começou a tomar forma. Mas, foi só agora, quando vagou uma das salas escolares por falta de alunos da idade, o ‘sonho’ começou, enfim, a se concretizar.

A leitura, para ela, é essencial na reabilitação dos internos. “Conhecimento é algo que a gente ganha e ninguém mais tira. Tudo o que podemos oferecer para estes jovens é o conhecimento, que extrapola o muro, o ambiente da Fundação. Se eles tiverem gosto por livros e por aprender, se a gente conseguir desenvolver isso neles, acreditamos que não vão perder o hábito quando saírem daqui.” O livro, para ela, faz crescer asas, literalmente. “Ler é sair de você mesmo e extrapolar o local onde se está. Não é porque ficam aqui dentro, trancados, que não podem conhecer outras coisas, aprender bastante e viajar, mesmo estando aqui.”

Para tanto, Bernadete e outros funcionários da unidade estão não só em busca de doação de livros – que sejam de interesse dos jovens, não apenas técnicos –, mas também de parceria para implementar o espaço. “O que a gente precisa é fazer um local diferente, aconchegante. Se tiver alguém que possa grafitar ou que tiver tinta para doar... Estamos aceitando toda a ajuda e em todos os sentidos.” A ideia também é poder convidar pessoas que façam contações de histórias, oficinas, entre outras atividades relacionadas à leitura, para fomentar ainda mais a prática com os internos.

Esta é a terceira unidade da Fundação Casa na região a fazer uma biblioteca física. As primeiras foram a Casa 2 de São Bernardo e a de Diadema. As demais distribuem livros também, mas de forma itinerante. Quem quiser ajudar tem de entrar em contato pelo telefone 2526-4260.




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