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Eixo Tamanduatehy faz 10 anos no esquecimento
Rodrigo Cipriano
Do Diário do Grande ABC
09/07/2006 | 07:47
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Às vésperas de completar dez anos, o Eixo Tamanduatehy tem apenas 33% do projeto original realizado. O ambicioso plano da equipe do ex-prefeito Celso Daniel (PT) não deslanchou e tudo – ou quase tudo – que foi proposto não foi colocado em prática. Se o projeto vingasse, áreas de antigas indústrias seriam reaproveitadas nos 12,8 km² do Eixo que começa em Capuava, na divisa com Mauá, atravessa Santo André pela avenida dos Estados e termina na avenida Industrial, na divisa com São Caetano. Porém, durante uma década, quase não houve investimento público e o que foi feito saiu por espontânea vontade da iniciativa privada.

Para o secretário-adjunto da Desenvolvimento Urbano e Habitação da Prefeitura de Santo André, Fernando Bruno, o fracasso do plano se deve às ondas de instabilidade econômica do país. “Só a crise cambial (que supervalorizou o dólar frente ao real) entre 1999 e 2000 foi suficiente para inviabilizar o Eixo Tamanduatehy ou qualquer outro megaprojeto urbano que tivesse previsto investimento do poder público”, justificou.

Mas o arquiteto e urbanista Cândido Malta, que participou ativamente da elaboração do projeto que mudaria a cara de Santo André, critica a administração municipal e diz que faltou “coragem” para executar as transformações urbanísticas propostas. O paulista Cândido Malta e outros três urbanistas europeus, autores de projetos reconhecidos internacionalmente, se debruçaram durante dois anos (entre 1997 e 1999) sobre as pranchetas para traçar o destino do Eixo. Na época, a Prefeitrua de Santo André pagou cerca de R$ 150 mil a cada um dos profissionais para que apresentassem soluções para requalificação da área industrial, com inclusão de empreendimentos de alto valor agregado. Era o início de uma nova fase da região, que já havia perdido suas principais indústrias.

Cada projeto valorizava um aspecto urbanístico diferente. Cândido Malta criou os edifícios-ponte que cruzavam a avenida dos Estados e a ferrovia, promovendo a união do primeiro e segundo subdistritos da cidade. O francês Christian Portzamparc trouxe o conceito dos bairros com quadras abertas que diminuiriam a distância entre as propriedades pública e privada. O português Eduardo Leira valorizava a abertura de novos acessos à área do Eixo. O espanhol Juan Busquets repensou a avenida dos Estados como um extenso parque natural linear.

“Uma transformação desse fôlego precisa de projetos-âncora. São eles que dão a identidade ao Eixo Tamanduatehy e fazem com que outros empreendimentos no mesmo modelo sejam desenvolvidos no entorno”, afirmou Cândido Malta.

A diretora do Departamento de Desenvolvimento e Projetos Urbanos de Santo André, Margareth Matiko Uemura, se defende. Para ela, a resposta para reestruturação não está em desenhos. “Tem de trabalhar um projeto na prática, dentro daquilo que é possível realizar. Muitas daquelas propostas eram inviáveis.”

Ao longo do imaginário Eixo Tamanduatehy, o que se vê hoje às margens do rio Tamanduateí e nos limites dos trilhos da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos) são empreendimentos pontuais, alguns tímidos. Com exceção de alguns grandes investimentos que pareciam dar fôlego para o projeto – como a construção do ABC Plaza Shopping e o complexo hoteleiro Ibis e Mercury, que foram responsáveis pela reurbanização de um trecho da avenida Industrial onde havia concentração de travestis e prostitutas; e o prédio da UniABC, no fim da mesma avenida.

“É preciso repensar o Eixo Tamanduatehy. Não é qualquer projeto apresentado que serve. Tem que estar dentro da proposta urbanística. Isso é planejamento. Se o empresário não traz as soluções adequadas ao projeto, então o município que vá até o empresário para mostrar a ele o que deve ser feito e que consiga parcerias para fazer aquilo que é melhor para cidade. Enquanto ainda existirem grandes áreas disponíveis dentro do Eixo, isso é possível”, afirmou Cândido Malta.




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