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Cozinhas comunitárias entram em colapso na região
Carolina Garcia
Do Diário do Grande ABC
22/07/2017 | 07:00
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Nario Barbosa/DGABC


 Com a proposta de distribuir refeições à população em situação de vulnerabilidade social, o projeto de cozinhas comunitárias na região está aquém daquilo que poderia oferecer. Em parceria com o governo federal por meio do MDS (Ministério de Desenvolvimento Social), a ação depende do funcionamento do banco de alimentos dos municípios e sobrevive ‘aos trancos e barrancos’ apenas em Santo André e em Diadema.

A cidade andreense é a que mais oferece o serviço aos seus moradores. São, ao todo, quatro cozinhas comunitárias em funcionamento – e outra no Parque Escola, ainda na fase de documentação para receber alimentos – que atendem 3.776 pessoas por mês. Os equipamentos, com exceção ao existente na Associação de Auxílio Mútuo da Região Leste – Apoio (Casa Amarela), servem todas as refeições, as quais englobam café da manhã, almoço, lanche da tarde e jantar.

Mesmo as que estão em execução na cidade não funcionam como deveriam. Na Casa Assistencial e Educacional Amor ao Próximo, no Jardim Utinga, a falta de abastecimento por meio do banco de alimentos faz a creche investir em eventos e campanhas em redes sociais para conseguir levantar verba e proporcionar refeições adequadas às 167 crianças de até 5 anos que ficam no local em tempo integral.

O espaço foi contemplado com a cozinha comunitária em 2009 – além da reforma, recebeu também utensílios e eletrodomésticos necessários. “Começou muito bem. Os pais vinham com sacolas para levar mantimentos. Para aqueles em piores situações de vulnerabilidade, era possível entregar até cestas básicas. Essa é a real função do projeto, a de atender também a comunidade. Hoje, com o que vem para nós somente consegue abastecer 10% da creche. Para o restante fazemos eventos e ações para levantar entre R$ 9 mil a R$ 10 mil mensais à alimentação das crianças e dos funcionários”, conta a coordenadora pedagógica Adriana Tortele.

Segundo a presidente do Núcleo de Inovação Social e primeira-dama de Santo André, Ana Carolina Barreto Serra, o fechamento do banco de alimentos da cidade em outubro de 2016 fez com que o repasse às entidades cadastradas fosse zerado. “As cozinhas comunitárias pararam de receber doações, e elas estavam se mantendo com recursos próprios. O banco de alimentos (reaberto em abril deste ano) está trabalhando intensamente para ampliar os parceiros, e consequentemente, aumentar o volume das doações.”

Ainda segundo Ana Carolina, hoje, as cozinhas recebem semanalmente as doações de alimentos, “mas essas têm o objetivo de complementar as refeições” e não fornecer por completo tudo aquilo que é necessário. O banco, conforme a administração, ainda não voltou a atender às famílias consideradas de risco.

“Quando paramos de distribuir as cestas básicas, os pais sentiram falta. Alguns foram atrás de outros lugares que ainda davam alimentos. Percebemos que algumas crianças, mesmo comendo certinho aqui, perdiam peso justamente no fim de semana. Ou seja, muito provavelmente, não faziam as refeições necessárias em casa. É aí que a gente vê a falta que faz essa distribuição”, comenta Adriana.

Em Diadema, em 2009, 14 entidades contavam com o projeto de cozinhas comunitárias, entre creches, lares de idosos e casas assistenciais para moradores de rua e, à época, receberam aporte do governo federal de R$ 444.128,16 para aquisição de equipamentos e materiais novos. A Prefeitura foi procurada para esclarecer se tais equipamentos seguem em funcionamento atualmente e quantos moradores são atendidos, mas não se manifestou.

A equipe de reportagem do Diário conseguiu apurar que ao menos uma creche municipal, no Jardim Santa Rita, continua distribuindo todas as refeições às 236 crianças atendidas. A situação de abastecimento da cozinha, no entanto, segue a mesma de Santo André. Ou seja, o que chega via banco de alimentos da cidade, que é basicamente hortifrutis, corresponde a somente 10% do necessário.

 

VERBA DEVOLVIDA

Mauá foi a única cidade da região que recebeu investimento do governo federal em 2009, mas teve de devolver a verba de R$ 1,05 milhão em 2014 pelo fato de não ter feito a execução física do projeto. À época, a intenção era que as cozinhas fossem construídas nos bairros Chácara Maria Aparecida, Jardim Zaíra e Jardim Oratório.

Segundo o poder público, “o projeto de cozinhas comunitárias encontra-se no momento em fase de estudos, tendo como objetivo a implantação nos bairros mais carentes em parceria com as associações de bairro, proporcionando refeições às famílias de baixa renda”.

São Bernardo, São Caetano e Ribeirão Pires afirmaram não ter os equipamentos nas cidades e Rio Grande da Serra não se pronunciou até o fechamento desta edição.

A parceira do Ministério de Desenvolvimento Social com as Prefeituras para o projeto das cozinhas comunitárias se dá somente para a implantação das estruturas físicas ou a modernização dos espaços, como por exemplo, compra de utensílios domésticos. Tanto a manutenção operacional quanto a gestão financeira dos equipamentos é de responsabilidade das cidades. Para acompanhar a situação dos locais financiados, o governo federal solicita aos municípios o envio trimestral de informações. Porém, segundo o próprio Ministério, tal retorno não é obrigatório justamente por não haver participação na gestão das cozinhas comunitárias.




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