O percussionista Da Lua, que integrou a banda de Maria Rita em sua aclamada turnê mais recente, aproveita o período de calmaria para lançar um novo projeto musical na sua cidade natal, Santo André. É a Noite de Música Brasileira, que realiza junto com o violonista Paulo Dáfilin, de São Caetano, e cuja estréia ocorre nesta quinta-feira, no restaurante Ólio Santo. Toda quinta-feira, os amigos se apresentarão ao lado de convidados.

A idéia nasceu de um desejo antigo de ambos: tocar o repertório que gostam, por diversão, até como forma de dar vazão a um trabalho que fica limitado quando eles acompanham outros artistas. Em consenso, decidiram executar "música brasileira mesmo". Isso significa que começam pelo samba, passam por um repertório de festas de São João e podem até investir em bossa nova.

Nesta quinta-feira, por exemplo, o foco é o samba, "de Paulinho da Viola para trás", porque Da Lua acredita que é na produção mais antiga que se concentra o supra-sumo do gênero. Só abre exceção para gente do calibre de Zeca Pagodinho, por exemplo, e para o trabalho dos anos 80 desenvolvido pelo Fundo de Quintal.

A diretriz é a qualidade. Isso significa sair na contramão do que ocorre freqüentemente na noite: em vez de fazer um set list para agradar, escolhe um biscoito fino que interessa primeiramente ao músico, mas que, como conseqüência, tem grandes chances de cair no gosto do público.

O show deve passar longe do hermetismo. Estão previstas, por exemplo, Disfarça e Chora e Tive Sim, de Cartola; Água no Feijão, de Chico Buarque; Mas Quem Disse que Eu Te Esqueço e Onde a Dor Não Tem Razão, de Paulinho da Viola; Chegou Quem Faltava e Sonho Meu, de Ivone Lara. "Não é samba de raiz, também, porque um samba de Chico Buarque, por exemplo, não é de raiz, mas é música brasileira de altíssimo nível."

A banda é composta por um velho amigo do anfitrião, Dema (pandeiro), seu ex-aluno Beto Medrado (surdo), Nego (violão e voz), mais um ao cavaquinho, cujo nome seria confirmado nesta quinta-feira. Paulo Dáfilin não poderá comparecer na noite de estréia. Mas o talento de Da Lua poderá ser conferido em detalhes: em ambiente intimista, ele mostrará a boa relação que tem com vários instrumentos, como tantã, cuíca, pandeiro, tamborim, repique de mão, tarol e conga.

"Será uma festa", diz. Da Lua se confessa empolgado não só com a natureza do projeto, mas por estar em Santo André e ter a possibilidade de rever amigos. "Queria fazer esse trabalho aqui, no meu berço", afirma. No sábado (dia 23), às 19h, ele também tocará na região, mas com o projeto Gafieira do Da Lua, no 5º Festival de Inverno de Paranapiacaba.

Da Lua ficou muito conhecido na turnê de Maria Rita, sobretudo por sua performance na qual imitava ruídos de uma máquina de escrever e de um papel sendo amassado, apenas com a percussão. Ele já tocou ao lado de nomes como Ana Carolina, Milton Nascimento e Lenine. Seu parceiro no projeto, Paulo Dáfilin, já trabalhou com Gal Costa, Maria Bethânia e Vânia Abreu, entre outras.