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Docentes passam por formação de gênero

Santo André forma professores da rede municipal para, aos poucos, mudar cultura machista

Por Yara Ferraz
Do Diário do Grande ABC
24/11/2014 | 07:00
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Nario Barbosa/DGABC


Após formação especial sobre as relações de gênero, 80 professores do Ensino Básico das escolas municipais de Santo André realizam formatura amanhã. O curso abordou temas como a violência contra a mulher e a cultura machista.

Conforme explica a secretária de Políticas Públicas para Mulheres do município, Silmara Conchão, o objetivo é trabalhar o assunto dentro das salas de aulas. “A ação local tem um grande poder para transformar essa realidade. A Educação é fundamental no processo. A nossa rede de ensino precisa estar atenta a estereótipos de gêneros que são reproduzidos muitas vezes pela escola, por exemplo, que azul é cor de menino, que homem não chora, entre outros.”

Conforme Silmara, ideias preconcebidas como essas contribuem para o desenvolvimento de uma sociedade machista e, posteriormente, à violência contra a mulher, que passa a ser considerada inferior ao homem.

“A gente vai prevenir essa diferença entre os sexos, ou seja, meninos vão crescer sem achar que isso é natural. As escolas estarão mais preparadas para identificar casos de crianças que sofrem violência doméstica, ou que tem mãe nessa situação. Às vezes, a gente vê a criança apática ou agressiva e não sabe o que está acontecendo fora da escola”, disse.

Uma das educadoras que realizou o curso foi a vice-diretora da Emeb (Escola Municipal de Ensino Básico) Vila Homero Thon, Silvia dos Santos Becker, 52 anos. Segundo ela, as aulas foram especiais. “No começo, não só eu como todas as outras achamos que seria só mais um curso de formação, mas, com o desenvolvimento, fomos pegando muito gosto, Na parte de estágio, passamos por diversos locais, como o PA (Pronto Atendimento) Central, a Delegacia da Mulher e o Hospital da Mulher, onde verificamos que esse é o momento em que a pessoa que sofre violência está mais frágil”, afirmou.

Segundo Silmara, a disseminação do conhecimento na sala de aula é a parte mais difícil, já que as ideias vão contra o machismo das próprias famílias. Porém, ela reafirma a importância da formação, que pretende estender a todos os professores da rede. “É como tirar a Lei Maria da Penha do papel. Precisamos refletir a educação que estamos oferecendo às crianças, fundamental para a desconstrução do racismo e machismo na sociedade.”

O dia da formatura também marca o lançamento da campanha Quem Ama Abraça – Fazendo Escola. A ação desenvolverá 16 dias de ativismo contra a violência, com foco na mulher negra. “Ela acaba sofrendo duas vezes, uma com o preconceito racial e outra por ser mulher”, explicou.

‘E agora José?’ vai oferecer acompanhamento a agressores

No dia 1º de dezembro, a Secretaria de Políticas Públicas para Mulheres de Santo André lançará a campanha E Agora José?, voltada para o acompanhamento aos agressores. Os condenados pela Justiça vão passar por atividades socioeducativas de reintegração na sociedade.

“O tempo é determinado pelo juiz e varia caso a caso. Os encontros serão sequenciais e contarão com acompanhamento de dois profissionais”, disse a secretária Silmara Conchão.

O conteúdo apresentado aos homens envolve a desconstrução do machismo. “Muitos dizem que não tem espaço para discutir a questão da masculinidade. Estamos numa sociedade que cobra dos homens a postura de que não chorem, sejam superiores às mulheres. Aí está a raiz do problema.”

Depois do tempo estipulado para que os agressores façam o curso, eles voltam aos poucos à sociedade, mas sempre com a supervisão dos agentes de cada caso. “Isso propicia a revisão de valores em relação à violência. É uma maneira de prevenir e corrigir a situação, ao contrário da cadeia, que a gente sabe que não ressocializa.”  




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