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Do Recife para a Rodovia Anchieta

José Soares está há 23 anos na região e ajuda caminhoneiros oferecendo chapa e guia na estrada

Por Yara Ferraz
Do Diário do Grande ABC
24/11/2014 | 07:00
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Nas manhãs da Via Anchieta, é possível encontrar, em meio aos caminhões e carros subindo e descendo a serra, homens nos canteiros. Eles carregam placas onde se lê: ‘chapa e guia’. Ficam à espera de caminhoneiros que vão ajudá-los a garantir o pão de cada dia.

Entre eles está José Soares, 48 anos, há 2 deles no mesmo ponto da via, no sentido Litoral. Com a sua placa anunciando a disponibilidade do serviço, aguarda clientes de segunda a sexta-feira, mas não depende mais só da visão do motorista.

“Como estou no negócio há um tempo, sempre deixo meu telefone com aqueles que me contratam. Quando os caminhoneiros têm uma entrega por aqui, já me ligam direto e combinamos de nos encontrar em algum lugar”, explicou.

O valor do pagamento depende do destino e do tamanho da carga, já que Soares não atua só como guia, mas também como ajudante. Para motoristas que vão fazer entregas no Grande ABC, o valor fica em torno de R$ 70 a R$ 80. Se o destino for a Baixada Santista, aumenta para R$ 120 e até R$ 130. “Se for para Minas Gerais, negocio outro valor e assim vai. Dependendo do local para onde o caminhão vai, também peço dinheiro para a passagem de volta. Mas, na maioria das vezes, pego carona e está tudo certo”, disse.

Conhecendo as sete cidades como a palma da mão, Soares causa surpresa quando diz que não é daqui. Nascido no Recife, em Pernambuco, o chapa trabalhava em resort de luxo como garçom e nunca tinha pensado em ingressar no ramo do transporte. Há 23 anos, ganhava um salário mínimo. Pai de dois filhos e avô de três netos, decidiu tentar a sorte em São Paulo, mais especificamente em São Bernardo, onde mora até hoje. “Vivo no Demarchi, bairro que gosto muito. Eu e toda minha família viemos para cá há mais de 20 anos e não pretendo sair”, garantiu.

Com as economias, conseguiu comprar um pequeno caminhão para fazer entregas. No entanto, após se desligar de algumas transportadoras, hoje tem dificuldade em agregar o carro. “Faz dois anos que não encontro nenhuma empresa para trabalhar. Então, já que tenho experiência, comecei a atuar como chapa aqui na Anchieta. Só nesta semana (semana passada) tirei R$ 380, o que já é muito bom. Viajo, em média, quatro vezes por semana”, disse.

Soares garantiu não ter nenhum arrependimento em ter trocado o Recife por São Paulo, mesmo que agora esteja vivendo de ‘bicos’. “Só para comparar, lá em Recife eu não conseguia comprar uma bicicleta. Aqui, já tive dois carros. Gosto muito de trabalhar, se pudesse vinha para cá de domingo a domingo, o que só não faço porque não tem movimento de fim de semana.”

Enquanto conversava com a equipe do Diário, um caminhão parou e o chamou. Ele, prestativo, queria deixar o veículo passar para continuar contando suas histórias, porém, foi convencido a seguir para garantir o sustento e a ajuda ao caminhoneiro. Boa viagem, Soares! 




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