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Livro traz fusão erótica e religiosa
Everaldo Fioravante
Do Diário do Grande ABC
22/07/2001 | 16:17
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O livro 'Carlos Miele – Homenagem a Mario Cravo Neto' (Cosac & Naify, 80 págs., R$ 40) traz moda e fotografia. Moda de Miele, sob o ponto de vista do fotógrafo suíço Michel Comte, e fotos de Mario Cravo Neto, que registram sobretudo a intimidade do candomblé na Bahia. A criativa e instigante combinação temática aborda, portanto, cultura e religião brasileiras.

A obra apresenta as mais recentes criações do designer de moda Carlos Miele. A proposta evidenciada na publicação é de união entre moda e religião, mostrada por Miele no desfile-performance Candeal, no lançamento de sua coleção de inverno de 2001 e no qual imagens devocionais do candomblé conviveram harmonicamente com exuberantes modelos vestidas com trajes sensuais.

No livro, surge um diálogo entre as imagens de moda clicadas por Comte e as cenas de Cravo Neto retratando o mundo religioso. Elas figuram lado a lado, incitando relações, combinações, e propondo similaridades.

O livro requer atenção, tempo para olhar. Ora o leitor se fascina com o trabalho de Miele, e com a capacidade de Comte em mostrá-lo, ora a fascinação se dirige para o belo resultado imagético propiciado pelo olhar perspicaz de Cravo Neto. Um tempinho dedicado à apreciação se faz necessário para que os detalhes não passem em branco. No formato 27 cm x 23 cm, o livro traz mais de 50 primorosas fotografias.

Antonio Gonçalves Filho assina o ensaio que analisa o trabalho híbrido de Miele. O texto é intitulado O Mundo das Imagens e a Imagem do Mundo. Nele, o autor diz: “É justamente a associação entre o caráter erótico da nova coleção de Carlos Miele e o mundo religioso retratado pelo fotógrafo baiano Mario Cravo Neto o objetivo deste livro. Uma ponte entre o homem pré-lógico, que cultua deuses, e o homem lógico, internético, que clonou ovelhas e expurgou a divindade de seu convívio”.

O ensaio de Gonçalves, embora sintético (ocupa apenas 12 páginas, nas versões em português e inglês), elucida a obra. No início do texto, ele afirma: “A palavra combinação seria uma definição simples demais para o que veio a ser o encontro entre moda e candomblé proposto por Carlos Miele no lançamento de sua coleção de inverno de 2001. Essas duas formas heterogêneas do espírito humano, cultura e religião, colocadas numa passarela, conviveram tão pacificamente que o choque foi inevitável para quem se habituou a ver a moda como um mundo dessacralizado”.

A concepção do trabalho é do próprio Miele. Há ainda algumas fotografias de Cláudia Guimarães, Fernando Louza e Gui Paganinni. Destaque para o projeto gráfico, de Raul Loureiro. Trata-se de um belíssimo livro, com enfoque totalmente voltado para a imagem.




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