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Eu e a Avape
Por Carlos Ferrari
Do Diário do Grande ABC
19/03/2014 | 07:00
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Após refletir por algumas semanas, creio que seria injusto comigo mesmo não vir a público enquanto cidadão para prestar alguns esclarecimentos a tantos que me acompanham em diferentes espaços físicos e virtuais.

Objetivamente, estou me referindo à decisão de compartilhar algumas situações vivenciadas por mim, na condição de presidente da Avape (Associação para Valorização de Pessoas com Deficiência).

Cabe dizer que estou neste cargo aproximadamente há dez meses, e foi a partir de então que pude, de fato, conhecer a fundo e interferir ativamente nos processos de gestão da organização.

Antes de continuar, creio ser necessário contar um pouco sobre como se deu minha condução à presidência da Avape. Foi um momento delicado; os integrantes do Conselho Deliberativo e Fiscal se sentiam sem informações claras, e vivenciavam um momento de crise política sem precedentes, inclusive tendo por consequência um pedido formal de recuperação judicial por parte daqueles que conduziam a organização até então.

Muitos amigos próximos me questionam, ‘mas, então, por que você assumiu um problema de tamanho e características tão complexos?’. Penso eu que a resposta é simples para não dizer óbvia.

Tratava-se de uma história com mais de 30 anos de serviços de qualidade pensados e prestados por e para pessoas com deficiência.

Somado a isso, a minha identificação com o protagonismo dessa missão não me deixava outra alternativa que não fosse assumir e compreender de fato o que havia acontecido para tamanho descompasso, e buscar soluções.

Já na primeira semana de trabalho à frente da presidência, procurei construir uma estratégia consistente de diálogo com todos nossos interlocutores, ou seja, colaboradores, fornecedores, parceiros, usuários e familiares.

Apresentamos três grandes objetivos que norteariam nosso trabalho a partir de então:

1 – Reordenamento de todas as ações com foco na missão;

2 – Resgate de nossa imagem institucional;

3 – Gestão focada na busca do equilíbrio financeiro.

Constituímos um comitê de gestão compartilhada, empoderamos pessoas e aos poucos caminhamos para adequação de nosso quadro de colaboradores aos novos tempos que se avizinhavam.

Atualmente vivemos as consequências de erros do passado, acúmulo de recebíveis em atraso e um grande desequilíbrio de nosso fluxo de caixa. Tenho clareza que devemos continuar tomando todas as medidas necessárias para modernizar nossa gestão, e tornar ainda mais qualificados tantos serviços de excelência que vimos prestando.

Hoje a Avape tem salários, benefícios e pagamentos de fornecedores em atraso. Por outro lado, existem valores a receber, que somados a todas as medidas que vêm sendo tomadas, trarão à organização tranquilidade para vencer os grandes desafios históricos.

Por isso, quando decido tornar públicos os problemas e possibilidades que visualizo como presidente da entidade, penso que na verdade estou dando sequência a uma proposta de trabalho que tem se pautado pela transparência, e pela busca de novos atores que queiram e possam contribuir para que nossa organização supere seus desafios.

Diante disso, é bastante desconfortável ouvir, por exemplo, um parceiro – que deve mais de R$ 1 milhão para a instituição – fazer ameaças do tipo: ‘Vou destruir a organização caso não sejam pagos os salários e benefícios dos colaboradores de meu contrato’ enquanto tantos outros trabalham em prol de uma mesma causa da pessoa com deficiência.

Sei que a Avape é grande, e felizmente tem mais gente remando a favor do que contra. Agradeço a dedicação de colaboradores, ex-funcionários, fornecedores, e tantos outros interlocutores que têm contribuído neste momento e aproveito para reforçar o pedido de apoio de todos os protagonistas que, conhecendo o histórico da Avape, entendem que se trata muito mais do que o futuro de uma organização, mas o futuro de milhões de pessoas com deficiência que continuarão sendo beneficiadas. A Avape é de todos nós e tenho convicção de que faremos muitas coisas juntos em prol do nosso segmento.

* Carlos Ferrari é presidente da Avape (Associação para Valorização de Pessoas com Deficiência), faz parte da diretoria executiva da ONCB (Organização Nacional de Cegos do Brasil) e é atual integrante do CNS (Conselho Nacional de Saúde).
 




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