Amor à camisa parece algo piegas. Soa como falso ou até mesmo como coisa do passado no futebol moderno e dinâmico das transferências relâmpago. Mas, na contramão disso, ainda encontram-se atletas que são a cara de certa equipe. Marcos, no Palmeiras, e Rogério Ceni, no São Paulo, são exemplos da paixão com a qual ostentam os escudos no peito. No Santo André dois jogadores demonstram tal identidade: Júlio César e Cicinho, os mais cabisbaixos nesses tempos ruins que o time vive.

O primeiro, capitão da equipe, parece um torcedor dentro de campo tamanha a intensidade que vive as partidas. Para o jogo de hoje, no entanto, está suspenso. Já o segundo, mesmo com apenas três anos de casa, caiu nas graças da torcida e não esconde que apesar de nascido em Jundiaí, é andreense de coração e volta de contusão para dar sua cara ao time que enfrenta esta noite a Ponte Preta, no Bruno Daniel. "Se for pela vontade de jogar e sair dessa situação, terá sim minha cara", afirmou o jogador.

No treino de ontem, Júlio César passou rapidamente pelo campo, enquanto Cicinho participou normalmente do treino. Na saída, porém, sentou à beira do gramado, observando os demais companheiros que ainda participavam da atividade, e parecia perder o olhar buscando uma solução para salvar o time do rebaixamento, situação que tem mexido com seu emocional.

"Tenho até vergonha de sair na rua. Não gosto mais, porque sei que os torcedores virão cobrar. Quando a fase era boa, vinham, elogiavam, é muito bom. Agora esse outro lado é novo aqui e espero que passe", afirmou Cicinho, que se disse surpreso com a faixa da torcida de ponta-cabeça na partida contra o Figueirense. "Foi muito triste ver aquilo", emendou.

Segundo o lateral, para salvar o Santo André a receita é uma só: "Tem de ser homem, ter vergonha na cara e assumir a responsabilidade. É hora de ver quem se esconde e quem está junto para ajudar."

Quando chegou do Oeste de Itápolis, em 2008, muitos brincavam pelas canelas finas. Hoje, as sátiras continuam, mas o respeito foi conquistado por tudo o que o lateral fez e sente pelo clube. "Já vivi bons momentos aqui e sei o quanto é bom. Amo e devo ao Santo André e, se não escapar dessa situação, vai ser muito triste para mim. No início do ano estava na cabeça o título paulista e subir para a Série A. Agora a situação é outra e temos de encarar. Não dá para desanimar", concluiu Cicinho.

Bruno Daniel vive noite de coincidências entre Jorginho e Jair Picerni

Existem algumas coincidências que só o futebol pode proporcionar. E hoje, no Bruno Daniel, um ex-andreense, que por mais de uma vez disse torcer pelo clube, apesar de sua ocupação, pode aumentar a crise no Ramalhão e colaborar para a diminuição das chances do time escapar da degola: Jorginho Cantinflas.

Atual treinador da Ponte Preta, enquanto meia-armador ele fez sucesso com a camisa andreense. Tanto que é o décimo maior artilheiro da história do clube, com 30 gols, à frente de nomes como Rotta, Élcio, Lance, Luiz Pereira e Dedimar. Hoje, no entanto, caso conquiste uma vitória colocaria o antigo clube - o qual defendeu em 1993, 1994, 1995, 1997 e 2002 - em situação praticamente irreversível.

Outra coincidência é que Jorginho foi comandado por Jair Picerni, atual treinador do Santo André, nos tempos de Portuguesa e também no Ramalhão, em 1994. "É um grande amigo, torço por seu sucesso, mas amanhã é adversário. Prefiro nem abraçar antes do jogo", brincou Picerni, que em outra coincidência, encerrou a carreira de jogador e iniciou a de treinador na Ponte Preta. "Tenho história por lá, vivi os melhores anos do clube, mas espero que amanhã (hoje) seja diferente. Tudo para o nosso lado", concluiu.