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Transição, orçamento e relações exteriores marcam jantar de Lula e FHC
Fernão Silveira
Do Diário OnLine
09/11/2002 | 00:46
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De malas prontas para sua penúltima viagem internacional como presidente da República, Fernando Henrique Cardoso recebeu nesta sexta-feira à noite, no Palácio da Alvorada (Brasília), seu sucessor, Luiz Inácio Lula da Silva, para um jantar que teve como cardápio a transição de governo, as relações exteriores do Brasil e o Orçamento para 2003. O tom das conversas foi cordial.

O encontro, que a princípio seria particular, ultrapassou três horas de duração e contou com as presenças de Antônio Palocci (coordenador da transição pelo PT), José Dirceu (presidente nacional do PT), André Singer (porta-voz do PT) e Arnaldo Madeira (líder do governo na Câmara dos Deputados). Lula e FHC só tiveram alguns minutos a sós depois do encontro.

Lula foi pontual: chegou ao Alvorada às 20h, hora exata do jantar. Na mesa, os políticos tiveram uma ceia que teve ravióli de ricota e sálvia (entrada), ossobuco de vitela com risoto milanês (prato principal) e tríade de doces típicos brasileiros (sobremesa). Tudo regado pelo vinho espanhol Alio, Ribeira Del Duero, safra 97. Mostrando bom humor, Lula brincou com os fotógrafos e repórteres na chegada ao Palácio. "Os incansáveis", apontou.

Foi o segundo encontro de Lula e FHC após as eleições – o primeiro foi em 29 de outubro, também em Brasília. Segundo Singer, Lula solicitou a audiência por julgar que seria conveniente ter uma conversa sobre "assuntos gerais da transição" antes da viagem de Fernando Henrique.

Antes mesmo de embarcar para Brasília, Lula explicou que solicitou mais um encontro justamente por causa da viagem que o presidente inicia neste sábado, com passagens por Portugal, Inglaterra e República Dominicana. "Uma semana fora é muito tempo. Não podemos esperar. Temos muito trabalho a fazer", afirmou Lula, ainda em São Bernardo, mostrando certo descontentamento com o desfalque presidencial.

A transição, pelo menos segundo a equipe do PT, anda bem. Palocci afirmou nesta sexta-feira, em entrevista coletiva no Centro de Treinamento do Banco do Brasil e quartel-general da Transição (Brasília), que a equipe já coletou "uma quantidade enorme de documentos" junto aos ministérios e vai se debruçar sobre os dados na próxima semana.

"De um modo geral houve um acordo de que as coisas estão caminhando bem. Foi discutido um balanço da transição em várias áreas, nos ministérios em que ela está se processando", explicou Singer depois do jantar.

O Orçamento/2003 e a pauta do Congresso, travada por cerca de 20 Medidas Provisórias (MPs) à espera de votação, também estiveram no cardápio de assuntos. Singer não detalhou quais "questões" da peça orçamentária foram discutidas por FHC e Lula. O salário mínimo, de acordo com o porta-voz, não foi discutido "em especial". Outro tema que não esteve nas conversas foi a mudança na data de posse do presidente eleito.

O assunto é causa de discordância entre o presidente que sai e o que entra. O PT defende que a data passe para 6 de janeiro, por causa do "incômodo para quem está fora do país", segundo explicou na quinta-feira o porta-voz André Singer. Como 1º de janeiro, data em vigor até agora, é festa em quase todo o mundo, teme-se um esvaziamento da festa entre as personalidades internacionais convidadas para o evento. FHC, entretanto, quer que a passagem de faixa continue em 1º de janeiro, pois alega que somente o povo poderia ter prorrogado seu mandato. Singer apenas confirmou o interesse de Lula na mudança e disse que a troca "pode ser tema de acordo".

As relações exteriores do Brasil temperaram boa parte do jantar. Lula pediu a FHC informações e orientações sobre a posição brasileira no cenário internacional e ouviu alguns pareceres do atual presidente. Inclusive o roteiro das viagens pré-posse pode ter sido discutido entre os dois.

Singer destacou que Lula ainda não definiu quais países vai visitar antes de janeiro de 2003. Já é certa uma viagem à Argentina. O petista reflete neste final de semana sobre o convite de George W.Bush para uma passagem pelos Estados Unidos. Provavelmente Lula vai para lá em dezembro, segundo antecipou Palocci nesta sexta-feira.

Outro assunto que Lula tem para refletir durante o final de semana é o papel do PT na primeira revisão do acordo firmado em maio deste ano entre o governo FHC e o Fundo Monetário Internacional (FMI). A missão do FMI estará no Brasil na próxima semana.

O porta-voz petista disse que Lula não discutirá apenas aspectos econômicos envolvidos na visita. "O tema pode ser tratado dentro das discussões sobre as relações internacionais do Brasil", indicou. Singer não disse com quem Lula vai conversar sobre a revisão do acordo. Palocci, nesta sexta, afirmou que a equipe de transição não deve fazer propostas ou negociar com a missão estrangeira, deixando a tarefa para o atual governo. Mas o coordenador petista indicou que seu time deve participar do diálogo.




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