Cultura & Lazer Titulo
'Treze dias que abalaram o mundo' é lançado em DVD
Por Alessandro Soares
Do Diário do Grande ABC
19/10/2002 | 16:36
Compartilhar notícia


Em 1962, Fidel Castro, 75 anos, afirmou: “Os homens não moldam seu destino. O destino produz os homens de cada momento”. Frase dita por ocasião da crise dos mísseis nucleares instalados em território cubano, fato que há 40 anos quase detonou uma guerra nuclear entre Estados Unidos e a ex-União Soviética.

Os líderes das superpotências, o presidente norte-americano John Kennedy (1917-1963) e o premiê Nikita Kruschev (1894-1971), driblaram seus caciques militares linha dura, alimentados pela indústria armamentista. Cuba foi joguete e Fidel sentiu que a independência conquistada em 1959 apenas tinha mudado de senhor.

Este drama é narrado no thriller político 'Treze Dias que Abalaram o Mundo' (Thirteen Days, EUA, 2000), de Roger Donaldson (Sem Saída), que acaba de chegar às locadoras em VHS e DVD. Seu tom misto de documentário e drama não é 100% fiel aos acontecimentos, movimentações e diálogos, mas todas as peças do jogo político e diplomático de 1962 estão lá, minimizado o papel de Cuba.

Em 22 de outubro de 1962, uma segunda-feira, Kennedy anunciou na televisão que mísseis de longo alcance com ogivas nucleares estavam sendo instalados em uma base militar cubana pela ex-União Soviética (união de repúblicas socialistas encabeçada pela Rússia e constituída por países vizinhos até 1991). Kennedy havia recebido informações em 16 de outubro, confirmadas por fotografias aéreas tiradas por aviões militares. O presidente decretou um bloqueio naval a Cuba, ordenando o ataque a qualquer navio russo que se aproximasse.

No filme, o ponto de vista é dos norte-americanos e a ação se passa a maior parte do tempo confinada a gabinetes em Washington. É um suspense interessante, pois todos os movimentos são observados pelo espectador como se estivesse atrás de um jogador de pôquer, tendo o mundo como a mesa. Mesmo com uma visão centralizada na Casa Branca, o filme não renega o papel de Kruschev como personagem importante nas negociações, embora ele não apareça no filme. E o rancor dos militares com os irmãos John e Robert é demonstrado na fala de um general, dizendo que os Kennedy ainda acabariam com o país.

Kevin Costner, produtor e ator do filme, está novamente às voltas com Kennedy depois de JFK – A Pergunta que não Quer Calar. Seu papel é de Kevin O’Donnell, assessor e amigo do presidente,e foi aumentado para que o astros tentasse reverter sua curva descendente em Hollywood. Kennedy é vivido por um ator quase desconhecido, o canadense Bruce Greenwood (o vilão de Risco Duplo). Seu irmão Robert Kennedy é Steven Culp (da série de TV JAG – Ases Indomáveis).

A apreensão no mundo durou até 28 de outubro, quando a ex-União Soviética recuou, após tensas negociações em segredo entre Kennedy e Kruschev. O presidente queria que os soviéticos retirassem os mísseis. Foi atendido, enquanto o premiê pediu que os norte-americanos suspendessem o bloqueio naval e não invadissem Cuba – já haviam fracassado em 1961. Também foi atendido.

Diante desta ameaça real de uso de armas nucleares de destruição em massa, o filósofo e pacifista galês Bertrand Russell (1872-1970), crítico feroz do militarismo norte-americano e autor de um manifesto antinuclear assinado em primeiro lugar por Albert Einstein (1879-1955), disse: “Não devemos aceitar a guerra, devemos nos opor a ela se quisermos sobreviver. A forte probabilidade de extinção da raça humana num futuro próximo parece dever-se, em larga escala, às vistas curtas de dogmáticos intransigentes”. Há algo de Russell faltando em certos líderes norte-americanos da atualidade.




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;