Os líderes das superpotências, o presidente norte-americano John Kennedy (1917-1963) e o premiê Nikita Kruschev (1894-1971), driblaram seus caciques militares linha dura, alimentados pela indústria armamentista. Cuba foi joguete e Fidel sentiu que a independência conquistada em 1959 apenas tinha mudado de senhor.
Este drama é narrado no thriller político 'Treze Dias que Abalaram o Mundo' (Thirteen Days, EUA, 2000), de Roger Donaldson (Sem Saída), que acaba de chegar às locadoras em VHS e DVD. Seu tom misto de documentário e drama não é 100% fiel aos acontecimentos, movimentações e diálogos, mas todas as peças do jogo político e diplomático de 1962 estão lá, minimizado o papel de Cuba.
Em 22 de outubro de 1962, uma segunda-feira, Kennedy anunciou na televisão que mísseis de longo alcance com ogivas nucleares estavam sendo instalados em uma base militar cubana pela ex-União Soviética (união de repúblicas socialistas encabeçada pela Rússia e constituída por países vizinhos até 1991). Kennedy havia recebido informações em 16 de outubro, confirmadas por fotografias aéreas tiradas por aviões militares. O presidente decretou um bloqueio naval a Cuba, ordenando o ataque a qualquer navio russo que se aproximasse.
No filme, o ponto de vista é dos norte-americanos e a ação se passa a maior parte do tempo confinada a gabinetes em Washington. É um suspense interessante, pois todos os movimentos são observados pelo espectador como se estivesse atrás de um jogador de pôquer, tendo o mundo como a mesa. Mesmo com uma visão centralizada na Casa Branca, o filme não renega o papel de Kruschev como personagem importante nas negociações, embora ele não apareça no filme. E o rancor dos militares com os irmãos John e Robert é demonstrado na fala de um general, dizendo que os Kennedy ainda acabariam com o país.
Kevin Costner, produtor e ator do filme, está novamente às voltas com Kennedy depois de JFK – A Pergunta que não Quer Calar. Seu papel é de Kevin O’Donnell, assessor e amigo do presidente,e foi aumentado para que o astros tentasse reverter sua curva descendente em Hollywood. Kennedy é vivido por um ator quase desconhecido, o canadense Bruce Greenwood (o vilão de Risco Duplo). Seu irmão Robert Kennedy é Steven Culp (da série de TV JAG – Ases Indomáveis).
A apreensão no mundo durou até 28 de outubro, quando a ex-União Soviética recuou, após tensas negociações em segredo entre Kennedy e Kruschev. O presidente queria que os soviéticos retirassem os mísseis. Foi atendido, enquanto o premiê pediu que os norte-americanos suspendessem o bloqueio naval e não invadissem Cuba – já haviam fracassado em 1961. Também foi atendido.
Diante desta ameaça real de uso de armas nucleares de destruição em massa, o filósofo e pacifista galês Bertrand Russell (1872-1970), crítico feroz do militarismo norte-americano e autor de um manifesto antinuclear assinado em primeiro lugar por Albert Einstein (1879-1955), disse: “Não devemos aceitar a guerra, devemos nos opor a ela se quisermos sobreviver. A forte probabilidade de extinção da raça humana num futuro próximo parece dever-se, em larga escala, às vistas curtas de dogmáticos intransigentes”. Há algo de Russell faltando em certos líderes norte-americanos da atualidade.
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