Economia Titulo Financiamento
BNDES reduz crédito em 22,7% na região

Em 2014, instituição estatal liberou montante de
R$ 1,58 bi para grandes clientes das sete cidades

Fábio Munhoz
Do Diário do Grande ABC
10/08/2015 | 07:18
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Andréa Iseki/DGABC


Em um ano, o volume de crédito aprovado pelo BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) para grandes clientes teve queda de 22,7% no Grande ABC. Em 2014, a instituição federal liberou R$ 1,58 bilhão em financiamentos – R$ 454,5 milhões a menos do que o registrado no ano anterior. De 2012 para 2013 houve aumento de 40,8%.

O levantamento feito pelo Diário com base em dados divulgados pelo BNDES considera as chamadas operações diretas e as indiretas não automáticas. Em ambas as formas de apoio, é necessário que o financiamento tenha valor superior a R$ 20 milhões. A diferença entre as duas linhas é que a primeira é feita diretamente com o banco, enquanto a segunda é intermediada por empresa credenciada.

Como o valor mínimo para atendimento é alto, as duas operações são mais destinadas a grandes empresas. Entre as companhias que utilizaram esses recursos no Grande ABC no ano passado estão Braskem, Scania, Pirelli e Vigor, além da Prefeitura de São Bernardo, que contraiu crédito no valor de R$ 47,4 milhões para implantação de projetos de informatização. Outro serviço público que contou com verba emprestada pelo BNDES foi a construção do Trecho Leste do Rodoanel, feita pela concessionária SPMar, e que foi finalizada em junho.

Apesar da queda no valor total – que é ainda maior se considerada a inflação (de 6,41% em 2014) – houve crescimento no número de contratos. Em 2013, foram aprovadas 33 operações, o que equivale à média de R$ 61,7 milhões cada uma. Já em 2014, 42 empréstimos foram emitidos pelo BNDES, com valor individual médio de R$ 37,4 milhões. Neste ano, até fevereiro, a região recebeu R$ 206,9 milhões em crédito – montante destinado à Rede D''''Or para implantação de unidade do Hospital São Luiz em São Caetano.

Para o economista Eric Universo Brasil, da Fecap (Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado), a queda nos financiamentos de 2013 para 2014 é reflexo da desaceleração da atividade econômica do País. “Com a redução nos níveis de produção, os empresários diminuem os investimentos e, assim, geram menor demanda por crédito”, comenta.

O docente, que integra a equipe da Tendências Consultoria, acredita que os números devem continuar caindo neste ano. Além da retração, ele cita também o fato de que o banco tende a restringir a oferta – panorama que já é observado nas instituições privadas: de 2014 para 2015 o volume de operações de crédito nessas instituições caiu 16,9% na região.

O professor Marcos Antonio de Andrade, da Universidade Mackenzie, salienta que, desde a crise financeira internacional de 2008, que teve seu ápice em 2009, o governo federal, por meio dos bancos públicos, passou a elevar a disponibilidade de crédito com o objetivo de estimular o setor produtivo direta e indiretamente. “Esses financiamentos eram subsidiados pelo governo e pelo BNDES a taxas de juros extremamente baixas. O governo, obviamente, não teve fôlego para manter essas linhas por muito tempo, especialmente depois de 2014, quando a arrecadação caiu.”

A redução na quantidade aportada pelo governo no BNDES, explica Andrade, se dá porque parte do subsídio injetado na estatal é oriunda do FAT (Fundo de Amparo ao Trabalhador) e do FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço). Com o aumento do nível de desemprego nos últimos anos, esses fundos ficam comprometidos.


Especialista fala em reestruturação do banco

Professor da Fecap (Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado) e integrante da Tendências Consultoria, o economista Eric Universo Brasil avalia que é necessária uma reestruturação no BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) para que a instituição não dependa dos subsídios do governo federal. “O ideal seria que o BNDES fosse uma empresa saudável, que conseguisse se manter pela própria operação financeira e, com o próprio recurso, efetuar os financiamentos, como ocorre no Banco do Brasil e na Caixa (Econômica Federal).”

Para isso, acrescenta, o BNDES teria de ser mais criterioso ao aprovar empréstimos, optando por operações de baixo risco, com mais garantia de adimplência. Outra possibilidade seria “cobrar taxas de juros mais salutares”. “Os empresários começaram a ver no BNDES um grande poço de recursos, sem exigência de contrapartida”, critica.

Parte significativa dos financiamentos do BNDES tem os juros fixados pela TJLP (Taxa de Juros de Longo Prazo), que está em 6,5% ao ano – percentual inferior à inflação acumulada de 12 meses (9,56%) e à Selic (14,25% ao ano). Nos bancos comerciais, a taxa média cobrada para pessoa jurídica é de 60,66% ao ano, segundo mais recente pesquisa da Anefac (Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade), referente a junho.

Sobre o aumento no crédito por parte dos bancos públicos para aquecer a economia depois da crise de 2008, o professor Marcos Antonio de Andrade, da Universidade Mackenzie, avalia que, naquela época, a política adotada pela Fazenda foi correta. “Entretanto, o cenário internacional melhorou em 2010. O governo deveria interromper isso e fazer com que o empresário brasileiro buscasse outras alternativas de financiamento para crescer de forma sustentada. Isso gerou uma dependência”, comenta.
 




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