Economia Titulo Mudança
Carro 1.000 deixa de ser o mais popular

Automóveis na faixa acima de 1.0 e até 2.0
se consolidam na liderança, com 54% da preferência

Por Leone Farias
Do Diário do Grande ABC
10/09/2011 | 07:30
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Os automóveis na faixa de mais de 1.0 litro até 2.0 têm ganhado espaço no mercado e já chegaram em agosto a 54% do total de vendas de carros de passeio. Consolidam dessa forma a nova preferência do consumidor, que nos últimos 15 anos concentrava suas atenções no 1.0 - que já representou mais de 60% do volume comercializado nesse segmento e, há 12 meses, estava com 51,5% de participação.

Os dados são da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores e refletem, entre outros fatores, a melhora do poder aquisitivo da população, a facilidade de financiamento e também o grande leque de opções de modelos atualmente à disposição, avalia o presidente do Sindicato das Concessionárias e Distribuidoras de Veículos Automotores no Estado de São Paulo, Octavio Vallejo.

Com isso, muita gente que tinha carro 1.000 migrou para outras motorizações, atestam os lojistas. O supervisor de vendas de loja Chevrolet em Santo André, Fabiano Guimarães, cita que cresceu a procura pelo 1.4 (casos do Corsa hatch e o Agile), que tem "desempenho melhor e mais acessórios". O Corsa hatch, por exemplo, na revenda, sai a partir de R$ 30,5 mil e vem, de série, com direção hidráulica, vidro elétrico, trava e alarme.

Mesmo em marcas que não comercializam zero-quilômetro de 1.000 cilindradas, essa mudança também é observada. "Geralmente o cliente traz seu 1.000 para dar de entrada. No meu estoque de seminovos, com 30 (veículos), 12 são 1.0", afirma Fernando Rodrigues, gerente de concessionária Citroën no município. Ele aponta que o C3, que custa a partir de R$ 37.990, já vem com direção elétrica e ar-condicionado.

CUSTO-BENEFÍCIO - A boa relação custo-benefício foi um dos fatores que levaram o engenheiro Álvaro Codevila, de São Bernardo, a adquirir um Kia Cerato 1.6, que vem com ar-condicionado, air bags e outros itens de série (o modelo tem preço, no site da montadora de R$ 53,4 mil, sem incluir o frete). Ele já teve automóvel 1.000, mas diz que não tem do que reclamar de sua nova opção, mesmo em relação a consumo de combustível.

O especialista Francisco Satkunas, que é conselheiro da SAE Brasil (Sociedade de Engenheiros da Mobilidade), atesta que o carro de 1.000 cilindradas leva desvantagens. Embora o IPI do 1.000 seja menor (tem alíquota de 7% frente a 13% a 15% para os da faixa entre 1.0 e 2.0), com esse motor não se tem a mesma resposta que o 1.4. "E hoje os carros têm cada vez mais acessórios; com ar-condicionado o 1.0 fica manco." Segundo ele, esse item absorve de 6% a 10% da potência, o que prejudica o desempenho. Ele acrescenta que, em viagens, o consumo de combustíveis do 1.000 cilindradas, muitas vezes, aumenta. "Em subidas de serra, por exemplo, o 1.4 não precisa acelerar tanto", explica.

As fabricantes também se beneficiam com o impulso nas vendas de carros de maior motorização e com mais acessórios. Isso porque o popular tem menor margem de lucro, diz Vallejo.

 

Importados ganham espaço e nacionais recuam neste ano

O grande leque de opções de importados, com preços competitivos, é o que está impulsionando o mercado de automóveis neste ano. Nos oito primeiros meses, as vendas de carros de passeio nacionais tiveram retração de 1,6%, somando os que desembarcam de outros países, o segmento registrou alta de 7,5% frente a igual período do ano passado.

Para o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Sérgio Nobre, isso também se deve, entre outros motivos, ao fato de as montadoras não terem adequado seus mix de produtos à mudança do perfil do consumidor brasileiro, que está preferindo carros mais bem acabados e de maior cilindrada.

Nobre afirma que é preciso urgência na implementação de medidas para tornar a produção nacional mais competitiva, para que as montadoras revejam seus mix de produção para adequá-los ao mercado. "Se nada for feito, continuará sobrando carro 1.000 nos pátios das montadoras e, a longo prazo, o Brasil passará a ser importador e não produtor de veículos", disse.




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