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Justiça tira canabidiol de garoto da região

Rapaz de São Bernardo recebia remédio, que controla convulsões; ele chegou a ter 300 em um dia

Por Vanessa de Oliveira
04/12/2017 | 07:00
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Celso Luiz/DGABC


Uma epilepsia de difícil controle, aliada a atraso neuropsicomotor, chegou a fazer com que o jovem Guilherme Henrique de Matos Barreto, 18 anos, de São Bernardo, tivesse 300 convulsões em um único dia. O minimizador desse problema foi encontrado no canabidiol, substância derivada da maconha e que a família recebia, por ordem judicial, desde 2015. No entanto, a partir de setembro de 2016, a Justiça atendeu recurso da União, que custeava o medicamento em conjunto com Estado e município, e o fornecimento foi interrompido.

O Diário mostrou, em reportagem de janeiro de 2015, a conquista na Justiça. “Fomos a primeira família de São Paulo a conseguir o custeio da medicação”, lembra a mãe do rapaz, Daniela de Oliveira Costa, 37. O produto, que requer autorização da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) para importação, tem o custo de US$ 199 cada ampola (cerca de R$ 650). Guilherme necessita de seis ampolas por mês para controlar o problema que lhe acomete. “Fazemos vaquinhas para que ele possa continuar tomando, mas conseguimos comprar só um tubo por mês. Meu filho teve regressão no problema, porque começou a ter muitas crises”, lamenta Daniela. “Ele foi perdendo tudo o que ganhou. O medicamento é mais importante que o arroz e feijão, faz toda a diferença na vida dele”, completa a mãe.

Na decisão do juiz federal Ricardo Geraldo Rezende Silveira, que determinou a interrupção do custeio do remédio, o magistrado declara que “um tratamento ou medicamento deferido por liminar judicial pode significar a ausência de milhares de vacinas na rede pública e é obrigação dos magistrados se preocuparem com as consequências de suas decisões”, salienta.

Na visão do professor de Neurologia da FMABC (Faculdade de Medicina do ABC) Rubens Wajnsztejn, o problema da verba tem que ser resolvido pelo órgão governamental. “A gente sabe que existem verbas muito mal utilizadas e que não é o fato de alguém ganhar uma ação que vai fazer com que não se construa um hospital. Acho que isso não é justificativa. Existe espaço para construir pronto-socorro, hospital, assim como medicamentos que fazem bem para um paciente têm que ser fornecidos pelo Estado.”

Na região, São Bernardo custeia a medicação de um paciente. A administração diz que não é possível informar valores, pois o processo de aquisição está em fase inicial. Diadema e Rio Grande da Serra não informaram.

O especialista explica que, embora a doença em que o canabidiol seja mais prescrito é a epilepsia, beneficia casos de autismo, Parkinson, dores crônicas, esclerose múltipla e doenças psiquiátricas, entre outras. “Tem melhora muito grande do comportamento do paciente”, pontua. O conhecimento dos benefícios, porém, ainda é pouco difundido.

Participamos de um congresso no Rio de Janeiro, com 620 médicos, e apenas um quinto sabia dos benefícios”, conta a diretora de operações da HempMeds® Brasil, Caroline Heinz. A empresa foi a primeira autorizada pela Anvisa – de um total de 11 – a importar um produto à base de canabidiol ao Brasil. “Os efeitos do canabidiol precisam ser mais falados, porque acredito que muita gente poderia se beneficiar.”

LEGALIZAÇÃO
A New Frontier Data, autoridade global da indústria de cannabis em relatórios de inteligência de negócios e análise de dados, em parceria com The Green Hub, uma das primeiras plataformas de pesquisa e informação de cannabis medicinal no Brasil, acaba de publicar análise sobre o potencial impacto da legalização do produto no Brasil. “Será ferramenta para dar estímulo para poder criar e difundir esse debate”, diz o CEO da The Green Hub, Marcel Grecco. 




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