Economia Titulo Bares
Gorjeta de 20% provoca polêmica
Por Paula Cabrera
Do Diário do Grande ABC
12/03/2010 | 07:00
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A aprovação da taxa de serviço de 20% em bares e restaurantes após as 23h promete azedar o chope dos comerciantes locais. Apesar do pagamento ser opcional, o Sehal (Sindicato das Empresas de Hospedagem e Alimentação do Grande ABC) afirma que a medida prejudica donos de estabelecimentos e os empregados. A proposta foi aprovada no Senado quarta-feira e aguarda ainda votação na Câmara dos Deputados em Brasília.

Se aprovado, o projeto de lei permite que após as 23h a taxa de 10%, conhecida como serviço de mesa ou gorjeta, dobre. A ideia do documento é garantir aos trabalhadores da madrugada maior remuneração, uma vez que o valor deve ser repassado aos garçons, o que, na prática, é muito diferente (leja mais ao lado).

"Já não podemos beber, não podemos fumar, mas pagar podemos. É muita petulância querer aprovar essa lei sem negociar com ninguém", diz o presidente do Sehal, Wilson Bianchi.

Segundo ele, o sindicato ainda negocia medidas para evitar o que ele chama de ‘catástrofe', que pode acabar em aumento nos custos dos produtos para o consumidor final. "Uma casa que hoje cobra R$ 10 na cerveja, e já está no seu limite, agora vai cobrar R$ 12. Esses 20% vão acabar virando 40% fácil, porque o valor pago no serviço é repassado nos salários dos garçons e tem de ser tributado no FGTS, férias. Isso gera ônus aos comerciantes", avalia Bianchi.

Nos bares da região a possibilidade já causa polêmica. Funcionários afirmam que apesar de não espantar a freguesia, o aumento da taxa fará com que o serviço passe a ser questionado na hora do pagamento. "Imagine cobrar 20% em uma conta de R$ 1.000. Os consumidores hoje não questionam, mas o valor vai aumentar muito para eles também", observa o maitrê do restaurante Baby Beef, Damião Nunes.

"Hoje, se duas pessoas se negam a pagar por mês, é muito. O público já incorpora os 10% junto da conta, mas, se passar a cobrar 20%, vão começar a questionar", adverte Geraldo Freire da Costa, gerente do Boteco Maria.

Já o proprietário do B.A.R Figueiras, Sérgio Hiroi, atesta que só deve rever a taxa se for obrigatória. "Se for possível, manteremos o valor, porque 20% é muito abusivo e causa muita polêmica", afirma.

Não são apenas os donos de restaurantes que estão preocupados com a medida, os próprios garçons se mostram receosos. "Não vai dar certo, vou acabar ganhando menos (porque as pessoas vão começar a discutir se vão pagar ou não o valor)", diz o garçom Fábio Alcir.

O gerente Washington Moura concorda. "Quem frequenta o bar depois das 23h costuma arranjar mais confusão na hora de pagar. Com a nova tarifa, vai piorar ainda mais", conta.

EM DÚVIDA - Apesar da polêmica já circular nas mesas dos bares, consumidores ainda estão divididos sobre a possibilidade da tarifação. O professor Marcel Teixeira de Souza diz ser favorável, desde que o valor seja repassado na totalidade ao garçom. "O que os senadores deviam fazer é uma lei que estipule que estabelecimentos confirmem se fazem ou não o repasse. Isso seria importante", avalia.

Os amigos Gustavo Silva, Fábio Gonçalves e Carlos Souza são contrários. "Vamos gastar R$ 80 só para tomar chope? Isso é absurdo. Hoje pagamos sem problemas os 10%, mas se a impuserem 20%, vamos começar a questionar."

Taxa representa mais da metade do salário dos trabalhadores

A taxa de serviço, que hoje equivale a 10% das contas, representa mais da metade dos salários pagos aos garçons no fim do mês. Os valores são repassados semanalmente aos servidores e variam de R$ 100 a R$ 350. "Sem essa taxa, nosso salário não soma nem R$ 500", alertaram alguns servidores, que preferem não se identificar, ao Diário.

Apesar de ver a quantia como ‘salvação', boa parte dos trabalhadores reconhece que restaurantes não repassam integralmente os 10%. O Sinthoresp (Sindicato dos Trabalhadores em Gastronomia e Hospedagem de São Paulo e Região) criou até um disque denúncia - que com menos de um mês no ar já registrou 280 atendimentos - para que profissionais possam registrar queixa de locais que não repassam a quantia. "A briga maior é fazer ser cumprido o valor integral. O Procon é a favor do consumidor. A casa também se defende para não pagar os tributos. Não temos como proteger esse trabalhador ainda", afirma o diretor financeiro do sindicato na região, José Haroldo Moraes Junior.




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