Política Titulo Entrevista
Filippi: nota 8 a Reali
e Michels na 2ª divisão

Ex-prefeito por três mandatos em Diadema disse também
que há muitas semelhanças da eleição atual com a de 2004

Raphael Rocha
Do Diário do Grande ABC
26/10/2012 | 06:54
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Ex-prefeito por três mandatos em Diadema, o deputado federal José de Filippi Júnior (PT) diz haver muitas semelhanças da eleição atual com a de 2004, quando venceu José Augusto da Silva Ramos (PSDB) por 554 votos no segundo turno. Agora, o atual chefe do Executivo diademense, Mário Reali (PT), enfrenta cenário acirrado numa disputa com o vereador Lauro Michels (PV) para tentar renovar seu mandato. Filippi enaltece seu pupilo político, destrincha os problemas enfrentados pelo atual prefeito e avalia que a gestão do apadrinhado foi nota 8. "Será nota 10 na próxima gestão. Será o melhor prefeito da cidade. Melhor que Filippi, que Gilson. Se bater tudo no liquidificador vai dar Mário". O parlamentar federal também tece duras críticas ao vereador do PV. "Ele não tem nota. Está na segunda divisão. Para ser ruim precisa fazer mais coisa". Otimista com a vitória de Reali no domingo, Filippi torna a chamar o afilhado de ‘prefeito da Educação', garante que o PT não vai perder a eleição e nega vontade de voltar a comandar a administração de Diadema. "Minha cabeça é para fazer um mandato de deputado federal ainda melhor", afirma o petista, que refuta a possibilidade de liderar a tesouraria de campanha de Dilma Rousseff (PT) em 2014. "Como tesoureiro já dei minha contribuição."

 

DIÁRIO - O sr. vê semelhanças da eleição deste ano com o processo eleitoral de 2004, quando o sr. venceu José Augusto (PSDB) por 554 votos?

JOSÉ DE FILIPPI JÚNIOR - Dá para comparar esses dois momentos que vivemos, principalmente por ser uma eleição acirrada, difícil. Eu acredito que o Mário leva vantagem no seguinte aspecto: chegou em primeiro lugar. Eu cheguei em segundo lugar na eleição de 2004. Comparando dois momentos da eleição de 2012, existia situação revelada pelas pesquisas de que o Mário deveria fechar a eleição no primeiro turno. Coisa que não aconteceu em 2004. Fosse nas nossas pesquisas, do adversário ou dos institutos, havia indicação de eleição extremamente acirrada desde o começo. Nunca teve essa coisa de um ter 50% e o outro 10% com teve agora. Estávamos mais preparados para luta mais acirrada.

 

DIÁRIO - O sentimento do sr. é que há margem para tirar a distância de 11,3 pontos apresentada na pesquisa do Diário?

FILIPPI - Cerca de 15 dias antes do primeiro turno vimos pessoas dizendo que a campanha estava esquisita, o povo estava quieto, estranho. O sentimento de que quando faltavam 15 dias para a eleição e o favoritismo para o Mário se comprimia e o candidato crescia dava a vontade de fazer a eleição antes, fazer a eleição no dia 25 de setembro (em vez do dia 7 de outubro). Meu sentimento agora é exatamente que eu estava tendo. Se a eleição fosse semana passada, o candidato de oposição, o vereador Lauro, iria ganhar a eleição. A vinda do Lula foi simbólica, foi alavanca de referência política positiva na cidade. Estamos otimistas nesta semana.

 

DIÁRIO - O que faltou para o Mário Reali vencer no primeiro turno?

FILIPPI - O que aconteceu agora é a mesma coisa que aconteceu em 2004. A população de Diadema não quis definir o campeonato em um jogo só, quis ver jogo de ida e de volta. A população é soberana. O povo quis escolher os vereadores e ter mais duas, três semanas para saber quem será o próximo prefeito.

 

DIÁRIO - Como o sr. avalia o governo de seu indicado?

FILIPPI - Fui em uma atividade da campanha nesses dias e uma menina me fez pergunta de quem é muito preparada: ‘olha, o Mário está dizendo que teve muita dificuldade nos seus dois primeiros anos. Ele não está lhe criticando?' Ela foi de forma direta, perguntando se eu esculhambei com o Mário. Em 2007 e 2008 tentei aprovar uma PEC (Proposta de Emenda Constitucional) que tratava sobre precatórios. Sofri em 2007 e 2008, quando tivemos sequestrados R$ 10 milhões em média nos dois anos. Alertava que precisávamos aprovar aquela PEC. Eu estava sofrendo, mas o próximo prefeito de Diadema iria sofrer mais do que eu. Naquela ocasião nem existia candidatura de Mário. Ele fez esse balanço que deveria estar mais presente, mas em 2009 e 2010, ele foi para Brasília, foi articular com prefeitos. Ele teve vitória que eu não tive. Ele aprovou a PEC. Foi vitória que fez com que a cidade pudesse respirar a partir de 2011. Em 2009 aconteceu outra coisa: foi a única vez, em 20 anos, que Diadema teve queda nominal de receita. O Mário perdeu R$ 50 milhões em receita. Nunca aconteceu isso, nem nos momentos mais difíceis do meu governo de 2001 e 2004. Ele teve mais de R$ 50 milhões em queda nominal pela crise de 2009. E só recuperou a receita em 2010. Isso faz bruta diferença. Explica as dificuldades financeiras do Mário. Eu não deixei dívida porque não poderia deixar, pela Lei de Responsabilidade Fiscal. Ela não permite. Equacionamos, mas foram esses dois motivos. Isso mostra que a administração é complexa, não pode ser simplificada por palavras ao vento.

 

DIÁRIO - Em uma atividade de campanha, o sr. disse que o Mário era o prefeito da Educação. Por que fez essa avaliação?

FILIPPI - Apesar das dificuldades, o Mário teve situação melhor (em outro setor), isso começa explicar os motivos pelos quais ele foi o prefeito da Educação. Quem sofreu em 2007 e 2008 foi o prefeito Filippi. É uma ironia do destino. Tive de sofrer calado. Ganhamos a liminar do Fundef (Fundo Nacional do Ensino Fundamental), que foi o Gilson (Menezes, PSB) quem entrou e eu mantive, e conseguimos evitar o desconto automático que o governo federal fazia nas contas municipais. Em 2006 aprovamos o Fundeb (Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação Básica). Mas não tínhamos feito a municipalização porque estava no fim do mandato. Se eu propusesse a municipalização, tínhamos de fazer no último ano de governo. Fizemos a avaliação e vimos que não dava. No último ano eu teria só seis meses de repasses do governo federal. Perdemos R$ 18 milhões do Fundeb em 2007, perdemos R$ 12 milhões em 2008. Era espécie de precatório invertido. Perdemos essa receita, Diadema ia perder essa receita. E antecipou a perda no meu mandato. O Mário teve perda de R$ 6 milhões em 2009, mas em 2010 entrou a municipalização. Ele está de parabéns. Hoje a Prefeitura, em 2012, tem o saldo positivo por essa decisão corajosa e correta do Mário. Aliás, o senhor Lauro Michels foi contra. Inclusive setores do PT foram contra, como a dona vereadora Irene (dos Santos). Pergunta para as mães, 95% são favoráveis. Qual argumento e petulância de um vereador de não fazer mea-culpa e pedir desculpas depois de votar o projeto de forma errada e constatar que 95% do povo que ele diz representar aprovam. Eu pediria desculpas. Tem de pedir desculpas pela bobagem que fez.

 

DIÁRIO - O Lauro deu nota 3 para a gestão do Mário Reali. Que nota o sr. daria para seu sucessor?

FILIPPI - A nota do Mário é 8. E o próximo mandato será 10. Será o melhor prefeito da cidade. Melhor que Filippi, que Gilson. Se bater tudo no liquidificador e vai dar Mário.

 

DIÁRIO - E qual a nota para o Lauro como vereador?

FILIPPI - Não tem nota. Não pontuou. Está na segunda divisão ainda. Espero que meu time não caia para segunda divisão (assim como Reali, Filippi é palmeirense fanático; o Palmeiras está na zona de rebaixamento do Campeonato Brasileiro). Ele para ser ruim precisa fazer mais coisa. O Lauro foi para o PV. Mas tem DNA de PSDB, de antiPT. O bico de tucano aparece, não tem jeito. Ele deveria fazer estágio para não ser tão sectário antipetista. O PT foi o partido que valorizou muitos imóveis da família dele. Ele deveria reconhecer.

 

DIÁRIO - O PT está preparado para perder Diadema?

FILIPPI - O PT não vai perder eleição domingo, vai ganhar. Esse é meu desejo e sentimento. Claro que eleição tem derrota e vitória. Não somos arrogantes. Mas essa pergunta responderemos no período de avaliação. Podemos nos encontrar e eu falarei: ‘Viu como eu estava certo?'. E você dirá: ‘Filippi, você viu como eu queria que você respondesse essa pergunta antes?'.

 

DIÁRIO - O sr. tem intenção de voltar a ser prefeito de Diadema?

FILIPPI - Minha cabeça é para fazer meu mandato de deputado federal ainda melhor. Tenho percebido, na campanha do Mário, que fiz nesses 15 dias mais campanha do que os três meses em que fui candidato a deputado federal (em 2010). Eu tenho imensa gratidão ao povo de Diadema, porque fui ser tesoureiro da Dilma e tive muito pouco tempo para fazer campanha. Não fiz uma fábrica. Não porque fui por preguiça ou por não achar importante. O Vicentinho (deputado federal pelo PT de São Bernardo) era candidato e fizemos agenda meio conjunta, porque eu não podia. Ficava em Brasília no comitê da Dilma, passava a semana lá e só voltava no fim de semana. E no fim de semana não tem fábrica. Fui fazer 14 portas de fábricas agora e comecei a prestar conta do meu mandato. Quero terminar meu mandato, quero ajudar a presidente Dilma a terminar o mandato dela. Estamos indo muito bem, mas sem arrogância. Nesses próximos dois anos a economia do Brasil precisa se desenvolver melhor do que está. Se fizemos análise isolada da economia crescendo a 2% ao ano, a gente se frustra. Mas se olhar Espanha, Grécia, Estados Unidos, você falará que 2% é quase crescimento chinês. Eu quero ser deputado e candidato a deputado federal. Eu quero fazer campanha e ir conversar com o povo.

 

DIÁRIO - Então não quer ser mais tesoureiro?

FILIPPI - Isso eu já posso afirmar. Ser prefeito será decisão do povo. Mas isso pode escrever: ‘Tesoureiro eu já dei minha contribuição.'

 

 




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