Economia Titulo Em queda
Restrição dos bancos
trava vendas de motos

Setor tem queda de 17% na comercialização em junho frente
ao mês de maio; endividamento da população afeta negócios

Leone Farias
Do Diário do Grande ABC
10/07/2012 | 06:49
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Enquanto a procura por automóveis zero-quilômetro acelerou no mês passado, com medidas de redução de tributos por parte do governo, as vendas de motocicletas estão bem distantes dos números de 2011. Nesse segmento, a demanda caiu 17% em junho frente a maio e, no primeiro semestre, já acumula retração de 7,6% na comparação com igual período do ano passado, de acordo com dados da Fenabrave (Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores).

Lojistas se queixam da dificuldade de aprovação das fichas cadastrais por parte dos bancos. Ainda segundo a Fenabrave - que também representa as concessionárias de motos -, a cada cem fichas enviadas às instituições financeiras, apenas 17 são aprovadas, ou seja, 17% do total, percentual muito baixo.

O endividamento das classes C, D e E é um entrave ao negócio, já que parcela importante dos compradores está nessas faixas de renda. Segundo dados da consultoria MB Associados, as classes D e E já usam hoje 88% de sua renda para seus gastos fixos e, como a maioria desse público compromete mais de 30% do salário na parcela do financiamento de veículo, a situação leva à inadimplência do setor que, em maio, chegou a 6,1%.

A diretora da MB Tereza Maria Fernandez acrescenta que, esse fator, associado ao risco inerente ao negócio - a relação custo-benefício para a instituição financeira ir atrás da pessoa para retomar o bem, por falta de pagamento -, gera desinteresse do setor bancário em financiar ao segmento. "Os bancos não estão liberando crédito para esse pessoal", afirma.

A equipe do Diário consultou grandes instituições financeiras sobre a questão das restrições. O Bradesco informou que não mudou seus padrões de análise de crédito. Itaú e Santander, que também foram consultados, não responderam à solicitação de informações sobre o tema.

PROJEÇÕES - Segundo as novas projeções da Fenabrave, divulgadas na última semana, o setor de duas rodas deve encerrar 2012 com queda de 3,2% frente a 2011, com 1,87 milhão de unidades comercializadas. A projeção anterior era de crescimento de 3,1%. "Para esse setor, o problema continua sendo a falta de crédito", aponta Alarico Assumpção Júnior, presidente executivo da federação.

 

Lojas buscam alternativas para elevar operações

 

A dificuldade de aprovação das fichas é tanta, que, no mês passado, além da queda nas vendas, o fluxo de público que vai à loja diminuiu, afirmou o gerente Ricardo Lemos, da Andreense Yamaha em Santo André. "As pessoas tentam, mas sabem que o crédito está difícil", disse.

A concessionária trabalha com seis financeiras e o próprio banco da montadora para buscar melhora no índice de efetivação dos negócios, mas a situação é complicada, sobretudo porque é grande o número de autônomos que querem ter o veículo de duas rodas e para os quais as restrições cadastrais das instituições financeiras são maiores.

As exigências não são só de financiamento com entrada (de 20% a 30% do valor) e em prazos menores de 48 meses. Alguns bancos chegam a pedir também habilitação da categoria. Esse é um problema, já que é comum no segmento a compra pelo pai para o filho que ainda não tem perfil para passar pelos critérios do sistema financeiro. "Como o pai, muitas vezes, não tem habilitação de moto, ele não consegue comprar", afirmou Lemos.

Na revenda Remaza, da marca Honda em São Bernardo, as vendas têm ritmo semelhante. "A dificuldade de aprovação das fichas é grande, apenas 20% passam", disse o gerente Humberto Rodrigues de Lima. Ele acrescenta que a fábrica e a concessionária têm feito promoções com redução de preços. "Mas enquanto não tiver aprovação de crédito não adianta", relatou Lima.

CLIENTES - O funcionário público Jorge Alberto Nunes da Silva, 36 anos, efetivava, na última semana, a compra de uma Teneré 250 cc, avaliada em R$ 13,1 mil em loja de Santo André. Seu caso era considerado motivo de comemoração na revenda. Com emprego estável e dono de uma moto que daria de entrada (correspondente a 20% do valor total), Silva tem condições para financiamento bem melhores do que a média de público do segmento.

 

 




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