Política Titulo Entrevista
Para Márcio França,
PSB se encontra sem
referência na região
Gustavo Pinchiaro
Do Diário do Grande ABC
20/05/2013 | 07:03
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Andrea Iseki/DGABC


Presidente estadual do PSB, o deputado federal Márcio França disse que a sigla ficou sem referência no Grande ABC com a saída de quadros importantes e hoje passa por processo de reestruturação para receber a possível candidatura do governador de Pernambuco, Eduardo Campos, à Presidência da República. O mandatário exaltou a liderança do ex-prefeito de São Bernardo e hoje deputado federal pelo PSDB, William Dib, que abandonou a legenda após deixar a Prefeitura, em 2008, como principal fator para o enfraquecimento. O tucano, inclusive, tem negociações avançadas para retornar ao partido. França também comentou a dificuldade que a legenda terá em caçar votos na região por conta da tradição petista e a relação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. No arranjo eleitoral paulista, o mandatário destacou a possibilidade de manter parceria com o governador Geraldo Alckmin (PSDB) e armar um palanque duplo para presidenciáveis do PSDB e PSB, a fim de combater projeto de reeleição de Dilma Rousseff (PT).

DIÁRIO - Qual o plano do PSB para o Grande ABC suportar a candidatura à Presidência do governador de Pernambuco, Eduardo Campos?

MÁRCIO FRANÇA - Já tivemos várias fases na região. A da Prefeitura de São Bernardo com o (William) Dib (que governou o município entre 2002 e 2008 e hoje é deputado federal pelo PSDB), com o Gilson (Menezes, ex-prefeito de Diadema pelo PSB entre 1997 e 2000) lá para trás. Mas, enfim, nas últimas eleições ficamos sem prefeituras, sem grandes referências. Então, naturalmente, depois da saída do Dib criou uma vacância, embora o Marcelinho Carioca tenha sido bem votado (quando foi candidato a deputado federal) e embora tenha saído por Santo André, não tem um lastro eleitoral na cidade. O lastro dele é do Corinthians, não é o do local. Então, nós estamos reconstruindo com a parte dos parlamentares, dos vereadores que são muitos, é uma base forte. Dos próprios presidentes de partido e, claro, sempre há especulação de eventuais nomes que possam vir. São nomes que, por algum motivo, estão mal colocados em seu partido e venham a disputar aqui. A ideia é ter candidatos a deputado federal em cada uma das cidades aqui. Nós temos muitos amigos que estão em outros partidos e estamos avaliando cada uma das possibilidades.

DIÁRIO - Na última eleição o PSB elegeu deputados federais e estaduais com uma votação abaixo da média. A credita que a indicação pode atrair futuro candidatos?

FRANÇA - Nós elegemos com 28 mil votos deputado estadual e com 62 mil votos deputado federal. Dos partidos de São Paulo, foi o que elegeu com menos votos. Isso é uma matemática de estratégia, você tem que montar uma chapa que tenha um certo equilíbrio. Da outra vez nós acertamos, mas nem sempre você acerta. A ideia é repetir isso. Tem trazido interessados em se filiar ao PSB, a gente está com uma chapa muito forte, com mais de 60 candidatos a estadual e temos mais de 30 federais. Nem todo mundo está com a cabeça em 2014, agora que começa, depois de passar junho, começa a perceber que setembro está chegando e tem que decidir. A própria candidatura do Eduardo (Campos) não estar posta como definitiva cria uma estabilidade.

DIÁRIO - A movimentação do PSB indica para que o sr. disputa a eleição em três condições: vice do governador Geraldo Alckmin (PSDB), senador na chapa tucana, ou tenta a reeleição para a Câmara.

FRANÇA - O natural é tentar a reeleição. Agora, o partido está na base do governador Alckmin. Nós dissemos a ele que o essencial é abrir o palanque para o Eduardo (Campos) em São Paulo. Porque a gente acha que, se ele não abrir, nós precisamos de uma candidatura própria. Aí nos afastaria. Como estamos com o governo, teoricamente seguiríamos o governo. Se por acaso ele permitir a abertura do palanque duplo, é possível que a gente fique com ele na reeleição. Para isso, a maneira mais confortável para ele e para a gente é abrindo a chapa no Senado ou na vice. Até porque, hoje o partido é o maior que está coligado com ele. Então, pensamos que seja natural. Mas o próprio Geraldo Alckmin vem pedindo para que isso seja discutido em 2014 e não em 2013. Se não você antecipa o governo dele. Nós estamos respeitando. Entendo a situação dele, porque ele é muito leal e correto com o PSDB. Ele fica numa posição de: ‘Poxa, como é que eu faço com o (senador) Aécio (Neves, pré-candidato tucano ao Palácio do Planalto)?' Mas, para o Aécio também será muito importante a candidatura do Eduardo (Campos). Seria muito difícil você imaginar que a (presidente) Dilma (Rousseff, PT) contra o Aécio iria ter um segundo turno. Por isso temos esperança de que o governador convença o PSDB de que também é importante ter um palanque em São Paulo que amplie para um eleitorado que tradicionalmente não era do PSDB, um eleitorado que votou em candidaturas nossas ou no PT.

DIÁRIO - O sr. exalta o sotaque do Nordeste de Campos como um passaporte para se aproximar de eleitores. A região tem concentração de migrantes nordestinos. A teoria também valeria aqui?

FRANÇA - Aqui tem dois fatores. Primeiro tem uma tradição muito forte sindical, tirando São Caetano, e é o berço do PT. Aqui também mora o maior fenômeno político que o Brasil já conheceu, que é o Lula (ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, PT), então não é uma disputa simples. Mas, mesmo com ele, se pegar as outras eleições, no caso de São Bernardo, que o (prefeito) Luiz Marinho (PT) faz um bom governo, foi aceito e reeleito, você vê que os votos da oposição somados com quem não votou é um número expressivo. Como você faz para poder ter interlocução com essas pessoas? Certamente o sotaque pernambucano do Eduardo (Campos), a simpatia dele, o carisma político dele, serão fatores decisivos nas eleições. Pode anotar: quando a televisão abrir e ele começar a falar no dia a dia, ele vai crescer. As pessoas que são do Nordeste e estão aqui em São Paulo se identificam com os hábitos de alimentação, cultura, música, sotaque, brincadeira, nas palavras. Quando a pessoa fala, ele rapidamente é identificado como companheiro de jornada. É como o Lula fez.

DIÁRIO - A disputa no primeiro turno será restrita ao candidato do PSDB? Qual a projeção que o PSB faz sobre o cenário com três candidaturas?

FRANÇA - Hoje ele é uma pessoa ainda desconhecida, se ele andar nas ruas as pessoas não saberão. Ele apareceu nas pesquisas com 6% dos votos, onde só o conheceram 20% dos eleitores. Se de 20% ele tem 6%, quando chegar a 100% ele terá 30%, essa é a proporção. É a esperança que nós temos, que ele com 30% possa estar eventualmente colocado para o segundo turno. Porque o Aécio tem (na pesquisa) 12%, mas de 50%, e quando chegar a 100% ele terá 24%. Então, nós teríamos um segundo turno com 54% para o lado de cá, contra 46% para o lado de lá (Dilma). Vamos para o segundo turno e ver o que vai acontecer.

DIÁRIO - Como o sr. entende o movimento para restringir o espaço no horário político e acesso ao fundo partidário parra novos partidos, tendo em vista que a MD deve se alinhar à candidtura do Campos?

FRANÇA - Avalio como negativo. Nós somos defensores da tese contrária, e o partido ingressou judicialmente com o senador Rodrigo Rollemberg(PSB) a ação que acabou suspendendo a tramitação dessa lei. O Brasil tem muitos partidos, é claro que não precisaria de todos esses. E é claro também que tem que encontrar um jeito de enxugar. Uma das maneiras é fundir legendas. O Lula falou para mim por diversas vezes para juntar partidos parecidos. Mas isso não pode ser na força nem por decreto. Ainda mais em um momento pré-eleitoral, porque dá a impressão de que é uma coisa casuísta para tirar a Marina (Silva, que organiza a criação da Rede Sustentabilidade) do jogo, para proibir a MD de ajudar o Eduardo (Campos). Dá impressão de um golpe. O bacana é ganhar nas regras do jogo.




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