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Projeto social ensina a transformar PVC em instrumentos musicais

Plásticos ganham novas formas e se tornam violinos, violoncelos e violas em curso que atende 125 alunos em situação de vulnerabilidade

Vinícius Castelli
Do Diário do Grande ABC
16/05/2021 | 00:01
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Nario Barbosa


Não bastava ensinar crianças e jovens a tocar instrumentos. Agora, o Projeto Locomotiva, de Santo André, resolveu ir além. Criado em 2008, com a sugestão de transformar a vida das pessoas por meio da música, foi ampliado com o Fábrica Sonora – Locomotiva, que ensina os alunos a produzirem seus próprios instrumentos.

Violinos, violas e violoncelos, por exemplo, estão na lista. Mas não feitos como no método tradicional, em madeira. Tudo é produzido com consciência ambiental, com PVC (tipo de plástico resistente), que tem em sua composição petróleo e sal marinho. Essa matéria-prima leva até 600 anos para se decompor.
A produção dos instrumentos acontece desde 2019, mas a ideia de repassar esse conhecimento aos alunos é recente e o projeto é viabilizado pelo Programa de Ação Cultural – ProAC/ICMS, por meio da Secretaria da Cultura e Economia Criativa do Estado.

Maestro da Orquestra Locomotiva e diretor do projeto, Ricardo Calderoni, 40 anos, explica que a ideia surgiu da constatação da carência de especialistas em luteria – profissão de quem conserta ou produz instrumentos musicais.

Para ele, é oportunidade singular de formar e inserir novos profissionais neste mercado. “Além disso, o Projeto Fábrica Sonora – Locomotiva contribui para democratizar o acesso aos instrumentos musicais, viabilizando que o Locomotiva possa atender ainda mais alunos”, explica. Atualmente, o projeto contempla 125 alunos, sem contar a Orquestra, que soma 400 pessoas.

Calderoni diz que a afinação e as dimensões dos violinos e violas, por exemplo, são iguais aos dos instrumentos que já se encontravam no mercado. O violoncelo tem a mesma afinação, mas apresenta inovação por ser menor, facilitando o seu transporte.

“O custo-benefício dos instrumentos de PVC é excelente, e permite que mais pessoas tenham acesso a instrumentos musicais. Outra vantagem está no fato de que são mais resistentes a quedas, e a intempéries como Sol e chuva, sendo neste sentido mais adequados para crianças iniciantes. Esteticamente são diferentes e chamam a atenção por seu visual elegante e inovador. Para completar, a sustentabilidade é outro diferencial competitivo”, comenta Calderoni.
O maestro explica que os instrumentos em PVC não são comercializados, portanto, não há preço estipulado, mas o custo de produção é muito menor do que os de madeira devido à utilização de material de reúso.

Entre as dificuldades que os alunos mais encontram na hora de produzir instrumentos estão os ajustes dos acessórios (montagem das peças), pois é necessária maior habilidade, explica o lutier Ivan Oliveira, 32, responsável pelas oficinas, que acontecem virtualmente por conta da pandemia.

Um dos alunos que estão aprendendo a fazer instrumentos em PVC é Arthur Vinicius Campos Machado, 17.  Ele está no Locomotiva há cinco anos e conta que música sempre fez parte da sua vida. “Meu pai tinha banda, então tive minha infância rodeada por instrumentos musicais.”

Violinista da Orquestra Locomotiva, ele pretende fazer da luteria sua profissão. E comemora o fato de poder ter acesso às aulas mesmo na pandemia.  “A Locomotiva não deixou as aulas de lado, mostrando que não podemos abandonar as coisas e, sim, achar uma forma de manter a atividade, e sem dúvida tem ajudado muito a não ficar parado”, diz.

Para quem quiser saber mais do projeto, assim como contribuir com voluntariado, basta entrar no site fabricasonora.org, ou visitar o Instagram (@fabricasonora.locomotiva). “É emocionante atuar na direção do projeto e contribuir com a multiplicação de talentos por meio do ensino da arte da luteria, ensino de música orquestral e geração de empregos em locais de alta vulnerabilidade e, em especial, poder acolher os que mais necessitam neste momento tão singular que estamos vivendo”, encerra o Calderoni.




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