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Com revalidação de diploma, refugiado renova expectativas

Possibilidade de atuar na área de formação ajuda na integração ao País e devolve identidade a imigrante sírio; UFABC oferece serviço gratuito

Por Flávia Kurotori
Do Diário do Grande ABC
03/11/2019 | 07:00
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André Henriques/DGABC


Segundo dados do Conare (Comitê Nacional para os Refugiados), o Brasil recebeu pelo menos 80 mil solicitações de refúgio em 2018. Atualmente, são 11.231 pessoas em todo País com este status reconhecido pelo governo. Entre os obstáculos enfrentados por eles, estão a xenofobia, o racismo, o idioma e o emprego. Como meio de integração, alguns refugiados buscam a revalidação e reconhecimento do diploma por universidades brasileiras. 

Um deles é o sírio Khaled Rezk, 43 anos, que chegou no País em 2017. Morador da Capital, ele teve seu diploma de graduação em administração revalidado pela UFABC (Universidade Federal do ABC) no mês passado. “Agora, vai ser mais fácil conseguir um emprego na minha área. É o começo para uma nova vida”, celebra.

No país natal, ele atuava na gerência de três bancos e tinha renda equivalente a R$ 11 mil. Aqui, procurou emprego por um ano, porém, a dificuldade com o idioma, mesmo falando árabe e inglês, e a falta de comprovação da graduação impediram a conquista de uma vaga. Como alternativa, solicitou que um amigo na Síria enviasse suas economias para o Brasil e abriu comércio na cidade onde mora. “Vender roupas é mais fácil, porque é só calcular quanto paguei, por quanto devo vender e os tamanhos. Não tem tanto problema com a língua”, diz Rezk.

Entretanto, o sírio consegue arrecadar cerca de R$ 1.000 por mês com o comércio, valor que não é suficiente para o sustento da família, que chegou há três meses. Por este motivo, com o diploma revalidado – que, após análise da grade, foi reconhecido em economia –, ele está em busca de oportunidade na área financeira. “Gosto muito de contabilidade e auditoria e é o que eu sei fazer. Estou buscando companhias que precisem de pessoas que falem árabe e inglês”, assinala.

A revalidação também abre portas para ele dar continuidade à formação acadêmica. “Sempre gostei muito de estudar e, agora, pretendo seguir estudando aqui, porque quando trabalhamos com dinheiro (no mercado financeiro), sempre é preciso ganhar novos conhecimentos”, observa.

“O fato de a pessoa poder exercer a profissão em que atuava em seu país de origem permite o resgate da sua identidade e isso é importante”, avalia Pedro Henrique Quio de Castro, analista de atendimento da Compassiva, organização social que ajudou Rezk no processo de revalidação. 

GRATUIDADE 

Em outubro, a UFABC aprovou a gratuidade na revalidação e reconhecimento de diplomas de graduação – ação que custa R$ 1.650 – e pós-graduação stricto sensu  – mestrado e doutorado –, cujo processo custa R$ 1.750 para os refugiados e solicitantes de refúgio. O pedido deve ser feito via Plataforma Carolina Bori.

“Isso ajuda na integração dos refugiados no País, possibilitando que eles consigam vagas condizentes com suas respectivas formações e também dá oportunidade de eles aplicarem seus conhecimentos em benefício da sociedade brasileira”, avalia Fátima Christine da Silva, chefe da divisão de registro de diplomas da universidade. 

Família está se adaptando, mas já gosta do novo país

O refugiado sírio Khaled Rezk, 43 anos, vive com a esposa e dois filhos, de 7 e 9 anos, na Capital. Ainda que a família esteja em fase de adaptação, ele afirma que todos aprovaram o novo lar. “Aqui tem muita gente de coração bom e é isso o que eu mais gosto”, conta.

Para aprender português, Rezk recorreu ao aplicativo Google Tradutor  e, enquanto não conseguia se comunicar, carregava papel com frases essenciais, como ‘onde fica o banheiro?’ e o endereço de casa. A mulher também está apredendo o idioma e a expectativa é a de que, em breve, ela consiga emprego como professora de árabe. 

Já as crianças têm aulas do idioma na escola. “Para eles é mais fácil. Eles chegam a rir de mim quando não sei alguma palavra”, relata o sírio. “Lá (na escola), eles têm bons amigos, conseguiram se adaptar e gostam porque há muitas festas”, adiciona Rezk, se referindo às festividades pelo Dia das Crianças, em 12 de outubro. 




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