Juliano é um garoto que chegou ao clube em 2011, levado pelo atacante Aloisio, ex-São Paulo e que atualmente joga na China. O menino nasceu com problema de desenvolvimento intelectual, segundo funcionários do clube, em decorrência de dificuldades na gravidez da mãe.
Seu ídolo era o goleiro Danilo, a quem ele chamava de pai. O menino tenta entender o que aconteceu. "Ele fica direto perguntando quando o pai vai chegar, pois ele está com saudade", diz Clarice Soletti, supervisora de marketing da Chapecoense.
O menino parecia entender o que havia acontecido na noite de quarta-feira, quando os torcedores fizeram uma homenagem na arena. Ao ver as pessoas chorando, ele entendeu que seu pai nunca mais iria aparecer, teve uma crise de choro e precisou de ajuda dos médicos.
Ao ver toda movimentação e preparação para o velório, o garoto de sorriso fácil perguntou para os funcionários do clube: "Tudo isso é para receber o meu pai, né?" A mulher de Danilo, Letícia, lhe deu um par de tênis que pertencia ao goleiro, algo que ele exibe como um troféu.
Apesar da idolatria por Danilo, Juliano é considerado um xodó por todos no clube. Durante os treinos, várias vezes ele pulava nas costas dos jogadores, que saiam carregando-o e todos se divertiam. Os atletas também davam roupa, comida e, às vezes, o levavam para dormir em suas casas. Ele mora com a irmã, mas a relação é bem distante, por isso, passa muitos dias sem aparecer e é normal ficar no clube. "De vez em quando ele desaparece e depois aparece do nada, brincando como sempre", conta Chiquinho, que cuida do gramado da arena.
Sobre sua origem, sabe-se apenas que ele vem de uma família com muitos problemas de relacionamento. Ele vivia nas ruas próximas da Arena Condá, até ser descoberto por Aloisio.
"Eu sempre o via na rua, sujo. No início, eu tentava chegar perto e ele não deixava, pois tinha medo das pessoas, talvez por ter sido maltratado, não sei. Eu levava comida para ele e, aos poucos, consegui me aproximar", conta o atacante, que levou cerca de três meses para ter maior contato com o menino.
Com o passar do tempo, Aloisio passou a levar Juliano para o vestiário, onde foi bem recebido pelos jogadores, graças ao seu jeito brincalhão. O time vivia uma fase boa e acabou se sagrando campeão catarinense de 2011. Então, chegou-se a conclusão de que o menino especial era um amuleto e desde então ele nunca mais se afastou da Chape. Agora, terá de aprender a viver sem seu pai.
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