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Chivas traz jazz de qualidade a São Paulo
João Marcos Coelho
Especial para o Diário
02/06/2001 | 15:40
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Faz tempo que a palavra jazz virou sinônimo de qualquer coisa. Principalmente quando se fala de festivais. O mais tradicional do gênero, o Free, já botou de tudo no palco sem a menor vergonha de colocar no mesmo saco de gatos nomes como Carlinhos Brown & Cia., Cassandra Wilson, Roy Haynes, James Carter ou Joshua Redman. Pois bem, ainda existe vida inteligente neste reino. E a maior prova disso é a segunda edição do Chivas Jazz Festival, que começa esta quarta-feira em São Paulo, no Directv Music Hall, ex-Palace, e no Rio de Janeiro.

O produtor Toy Lima praticou o critério mais correto para escalar os músicos. Deu uma boa olhada nas principais publicações do gênero, espiou as premiações mais recentes e foi conferir in loco. O resultado é fascinante, porque propicia a quem assistir às quatro noites de shows um panorama atualíssimo do jazz. É jazz no estado-da-arte, diriam os puristas. É jazz da melhor qualidade, asseguram os que acompanham a cena da música improvisada internacional, sem se preocupar demais com rótulos.

A estrela do festival deve ser o trompetista Dave Douglas (ele se apresenta na quinta-feira). Ele ganhou todos os prêmios em 2000: melhor trompetista do ano, melhor compositor, CD do ano (Soul on Soul). E é uma usina de criatividade. Trabalha com oito grupos diferentes, de quarteto a octeto, passando por um quarteto com tabla e cítara e outro com acordeão e violino. No Chivas, Douglas vem com um sexteto da pesada, do qual participa o pianista Uri Caine, um dos mais originais criadores do jazz atual.

Outros nomes novíssimos que estarão no festival com seus grupos permanentes são o guitarrista Bill Frisell, de CD novo na praça em edição nacional, Blue Dreams (quinta); um dos mais influentes flautistas do jazz atual, James Newton (sábado); o trombonista Steve Turre (sábado), que acabou de gravar para a Telarc um ótimo CD com ninguém menos do que Ray Charles, Chucho Valdés e Stephen Scott se revezando no piano; e duas cantoras. A primeira, Ann Dyer (sexta), deve impressionar bastante, a julgar pelo seu CD Revolver, onde recria atrevidamente clássicos dos Beatles; e Carmen Lundy (quarta), já mais assentada, deve esbanjar competência mais bem comportada, como em seu último CD, Old Devil Moon.

Duas figuras-chaves do jazz dos anos 60 e 70 farão figuras distintas: o saxofonista Archie Schepp (quarta), que participou do célebre Ascension de John Coltrane, deve fazer um show convencional, já que hoje ele é mais um educador do que propriamente um criador original. Não é o caso do contrabaixista Dave Holland, que tocou com Miles Davis na virada dos anos 60 e 70 e vem se renovando com muita criatividade.

Felizmente, a participação brasileira não vai pela trilha da MPB (nada contra, mas o festival é de jazz) e mostra excelentes músicos, como os quartetos liderados por Mauro Senise (sexta), fundador do notável Cama de Gato nos anos 80, e Tutty Moreno (sábado), que só traz feras como o saxofonista Proveta, o pianista André Mehmari, o contrabaixista Rodolfo Stroeter e o convidado especial Toninho Ferragutti no acordeão.




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