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Pela música verdadeira
Por Cássio Gomes Neves
Do Diário do Grande ABC
23/06/2006 | 08:58
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Meia hora de conversa com Wander Wildner e já dá para intuir uma das razões que conduziram este gentleman do rock brasileiro a um gênero tão singular quanto o punk-brega que ele criou. “Quando eu faço música, eu quero que ela se comunique com todo mundo. Isso é música verdadeira, sem preconceito, sem restrição”, diz o cantor, compositor e roqueiro gaúcho que nesta sexta-feira faz show no Sesc Santo André dentro do projeto Caixa Preta do Rock. Fica em parte explicado esse encontro entre a música derivada de Sid Vicious e uma postura lírica aparentada de Reginaldo Rossi, com a característica dor de cotovelo em versos como “Você diz que não me quer mais/ E que agora eu sou seu grande amigo/ Você me quer só a metade/ Mas pra mim você está em toda a parte” (do hit Eu Não Consigo Ser Alegre o Tempo Inteiro).

Wildner não quer complicar, não quer restringir seu som a ninguém, não quer formar guetos musicais como sugerem rótulos que já lhe atribuíram, tipo músico underground. “Detesto esse termo. Underground significa subterrâneo, uma coisa angustiante”. Quer que todos se sintam à vontade para ingressar em sua arca sonora. Sem apelar para jabaculês, no entanto. “Quero uma forma de chegar a todo mundo, mas não participar de uma máfia que paga para tocar 20 vezes a mesma música no rádio. Isso não é comunicação, não é cultura; é consumo por indução”.

Aos 46 anos e há um ano e meio vivendo em São Paulo, Wildner apresenta-se em Santo André pela segunda vez; a primeira foi nos anos 80, com Os Replicantes, banda que co-fundou há 21 anos e que nesta sexta-feira prossegue como um de seus projetos paralelos. O show de sexta-feira à noite marca o lançamento do álbum 10 Anos Bebendo Vinho, que, apesar do nome, não constitui a narrativa de uma década dedicada à degustação de fermentados. Pelo menos, não só isso. Trata-se de coletânea do período solo do menestrel punk, com quatro discos lançados, participação no Acústico MTV Bandas Gaúchas e hits como Bebendo Vinho, Eu Tenho uma Camiseta Escrita Eu Te Amo e Hippie-Punk-Rajneesh.

Praticamente todo o repertório do show está na coletânea, embora o cantor afirme ter material novo suficiente para lançar um disco de inéditas. Então por que sair com uma compilação agora, Wander? “Depois que o Tom morreu, eu não sei como gravar um disco”. O Tom em questão é o produtor musical Tom Capone, figura de proa nos bastidores fonográficos do Brasil e amigo de Wildner morto em setembro de 2004. “Sem ele, é muito difícil. O Tom lapidava minhas músicas, deixava-as muito bem trabalhadas e tinha o mesmo espírito rock que eu”, diz Wildner, que não descarta a gravação de um novo disco. Desde que haja amigos envolvidos.

A evocação da amizade é freqüente. É o jeitão do rock gaúcho, de cumplicidade, de reciprocidade, de mão que lava a outra. Sobre os integrantes da banda que o acompanha hoje, Wildner fala do guitarrista Giancarlo Morelli, da baixista Geórgia Branco e do baterista Pedro Rosas como amigos, não como colaboradores. Considerações de um sujeito que, diante do “enterro da cultura musical” em prol do sucesso social de seus protagonistas, procura meios alternativos e revolucionários de expressão. “Ser artista é isso aí; é determinar novos caminhos e não correr atrás de fama e fortuna”.

Wander Wildner – Nesta sexta-feira, às 21h, no Sesc Santo André – r. Tamarutaca, 302. Tel.: 4469-1250. Ingr.: de R$ 5 a R$ 14.



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