O Centro de São Bernardo foi palco na noite de ontem de cenas de violência e vandalismo. Grupo de 50 jovens saqueou e depredou estabelecimentos, além de entrar em confronto com a PM (Polícia Militar) e GCM (Guarda Civil Municipal) no Paço. Pelo menos sete pessoas foram presas e levadas ao 1º DP da cidade.

Os conflitos com as forças de Segurança começaram por volta das 21h, depois que um adolescente foi apreendido na Rua Marechal Deodoro dentro de uma loja de roupas e artigos de surfe. Os produtos foram furtados e muitos itens foram abandonados no meio da via. Em solidariedade ao proprietário do local, lojistas ajudaram a recolher o material e a vigiar o ponto.

Testemunhas dizem que vândalos passaram de bicicleta apedrejando o comércio. Uma agência do Bradesco teve os vidros estourados. Integrantes do grupo, revoltados com a apreensão do adolescente, se dirigiram ao Paço, onde passaram a atirar pedras e coquetéis molotov contra GCMs que impediam a invasão do prédio da Prefeitura.

Policiais responderam às agressões isolando o Paço, bloqueando o trânsito em ruas próximas, e atirando com balas de borracha, além de lançar bombas de gás lacrimogêneo. Segundo a Prefeitura, a maioria dos 700 manifestantes ficou acuada dentro do terminal do trólebus e nos comércios que ainda estavam abertos. Eles pediam, em vão, o fim da violência e paz entre o público presente. Alguns choraram ao ver o ato terminar, pelo segundo dia consecutivo, em vandalismo e repressão.

Os estabelecimentos da Avenida Faria Lima também foram alvo de depredações. Além disso, muros foram pichados e lixeiras, destruídas.

Após duas horas de confronto, a PM continuava a realizar patrulhamento ostensivo nas ruas do Centro. Policiais e viaturas de Santo André e Diadema foram acionados para ajudar na ação. Pequeno grupo de jovens continuava a atentar contra os patrimônios públicos e privados.

Testemunhas contam que pedestres foram agredidos e roubados. Uma senhora de 50 anos foi uma das vítimas. Acabou levando chutes após se negar a entregar a bolsa e as sandálias.

O secretário de Segurança Urbana, Bendito Mariano, disse que dois grupos serão recebidos na semana que vem pela Prefeitura para apresentarem formalmente suas reivindicações.

Passeata também cobrou melhorias na Saúde e Educação

Apesar de terem sido avisados sobre a redução da tarifa dos ônibus municipais em São Bernardo de R$ 3,20 para R$ 3 a partir do dia 1º, os organizadores do protesto decidiram manter o ato de ontem. Além de justificarem que o valor cobrado pela passagem continua sendo considerado caro, os jovens elencaram outros temas, os quais consideraram merecedores de debate, como corrupção e qualidade da Educação e Saúde.

“Se levarmos em conta a qualidade do transporte público hoje, não deveríamos pagar nem R$ 2”, considera o operador de telemarketing David Reis, 22 anos. Além de reclamar da lotação, ele cita problemas como o grande tempo de espera nos pontos de ônibus e a falta de manutenção dos coletivos.

Os cartazes carregados pelos manifestantes continham ainda frases criticando o investimento do governo federal nos estádios para a Copa do Mundo, que será realizada no País em 2014 e descontentamento com a política. “Finalmente o povo resolveu se mobilizar e agora sabemos que temos poder de mudar nossa realidade”, enfatiza a estudante Maiara Silva, 19.

Outro ponto citado pelos protestantes é a manutenção da tarifa do transporte intermunicipal, em especial o trólebus. A EMTU (Empresa Metropolitana de Transportes Urbanos) reajustou o valor dos bilhetes no dia 1º para R$ 3,40. Segundo a Secretaria de Transportes Metropolitanos, o Estado ainda está estudando se irá rever os preços das passagens. (Natália Fernandjes)

Manifestação fecha Via Anchieta pelo segundo dia consecutivo

A manifestação contra o preço da tarifa do transporte público voltou a interditar a Via Anchieta na noite de ontem, em São Bernardo. A rodovia, um dos principais corredores de ligação entre a Capital paulista e o Litoral, ficou fechada entre o km 18 e o km 22 por cerca de duas horas. O segundo dia de protestos na cidade atraiu cerca de 1.500 pessoas.

O grupo de manifestantes, em sua maioria formado por jovens, se concentrou no Paço de São Bernardo, a partir das 17h. Tanto as portas de entrada da Prefeitura quanto da Câmara Municipal ficaram protegidas por diversos homens da GCM (Guarda Civil Municipal).

Após votação feita às 17h30, a multidão seguiu pela Avenida Lucas Nogueira Garcez, onde ganhou mais adeptos, até chegar à Anchieta por volta das 18h20. Por cerca de meia hora, os trólebus permaneceram impedidos de circular pelo corredor nos dois sentidos, o que resultou em fila de ônibus e pontos lotados.

Com os rostos pintados e munidos de cartazes, faixas e apitos, a os jovens ecoavam cantos pedindo não à violência e também de indignação em relação ao transporte público. Em resposta ao ato, a população dos edifícios localizados no trajeto dos manifestantes sinalizava aprovação. Além de piscarem as luzes dos apartamentos, os moradores aplaudiram das janelas.

O evento foi organizado via rede social Facebook, e até às 18h, contava com 6.040 confirmações. Foi por este meio, inclusive, que a funcionária pública Sara Faustino da Silva, 24 anos, ficou sabendo do ato e decidiu participar. “Além de considerar que R$ 3 continua sendo muito caro, estou aqui também por melhorias na Educação e Saúde pública”, diz.

No km 22 da Via Anchieta, no entanto, integrantes do movimento se desentenderam sobre o trajeto. A maior parte dos manifestantes optou por seguir pela Avenida João Firmino com destino à Avenida Faria Lima e retornar à Prefeitura. Pequena parte do grupo queria continuar pela Anchieta até o km 23.