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Presos 'Bonnie e Clyde' de S.Bernardo
Artur Rodrigues
Do Diário do Grande ABC
15/07/2005 | 08:07
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A história de amor de Cláudio Cordeiro Barbosa, 33 anos, e Ana Cristina Millon Tadim, 35, lembra muito a de Bonnie e Clyde, o mais famoso casal de ladrões do cinema. As armas do casal da vida real, no entanto, eram muito mais sutis que os revólveres e metralhadoras do par cinematográfico. Com documentos falsos e muita lábia, Cláudio e Ana Cristina abriam crediários e contas de banco, compravam tudo que viam pela frente e, quando o rombo estava feito, se mudavam. O esquema foi descoberto na última terça-feira por policiais da Delegacia Seccional de São Bernardo. Ana Cristina foi detida e indiciada por estelionato, mas solta por não ter sido pega em flagrante. Cláudio conseguiu escapar em seu Audi A4 preto novinho, comprado em nome de outra pessoa.

As façanhas dos dois foram descobertas por causa da desconfiança de uma dentista, moradora de Salto, interior de São Paulo, que recebeu duas ligações de empresas mencionando serviços que ela não havia contratado. Uma das ligações era da Telefônica, parabenizando a mulher pela compra de uma linha em São Bernardo. A dentista contatou a Delegacia Seccional.

Investigadores localizaram Ana Cristina na cidade. Ela morava com o namorado em um condomínio de classe média no Jardim Palermo, em São Bernardo. Espalhadas pelos cômodos da residência, as provas dos crimes praticados: pelo menos R$ 100 mil em móveis e eletrodomésticos comprados por meio de documentos falsos. A mulher foi levada à delegacia, indiciada e, depois, liberada, por não ter sido presa em flagrante. Com ela, um bebê de quatro meses, filho dela e de Cláudio. "Mas como tudo na vida deles era falso, é bom desconfiar até disso", alerta o delegado seccional de São Bernardo, Marco Antônio de Paula Santos.

"Eles viviam assim. Falsificavam as identidades, alugavam um apartamento com contrato temporário, mobiliavam o local e utilizavam o crédito aberto em bancos com nomes falsos", explica o delegado. No apartamento do casal, a polícia encontrou documentos falsos. Entre eles, pelo menos nove identidades, três CPFs, sete cartões de crédito e dezenas de comprovantes de residência e de renda também foram apreendidos.

As identidades a serem assumidas pelo casal não eram escolhidas ao acaso. Cláudio, que já usou 18 nomes – o mais freqüente era Cláudio Roniere Barboza – sabia muito bem quem tinha crédito no mercado. Médicos, engenheiros, dentistas eram os preferidos. O estelionatário obtinha as informações privilegiadas por meio do banco de dados de uma seguradora na qual havia trabalhado.

O tamanho da ficha policial de Cláudio – dois metros de comprimento – dá uma idéia da sua experiência no mundo do 171. O primeiro crime foi cometido na capital, em 1992. De lá para cá, acumulou cerca de 12 passagens pela polícia. Atualmente, é foragido do presídio de Franco da Rocha, onde estava preso em regime semi-aberto.

Ana Cristina não tem nenhuma passagem policial. É divorciada, mãe de três filhos e cursa o quarto ano de administração em gestão de sistemas de informática, em uma faculdade de São Caetano. Como ré primária, responderá ao processo em liberdade. Ela disse à polícia que o envolvimento com o namorado e os golpes na praça são recentes. Teria começado no ramo para dar um jeito na situação financeira. Quem conhecesse o casal não notaria as dificuldades. No apartamento onde moravam, tinham home theater, televisões, computadores e móveis novos. Um Audi e um Ford K na garagem completavam o patrimônio. Na carteira dos dois, cheques especiais, cartões de crédito de bancos e lojas de departamentos.

Segundo a polícia, os documentos são verdadeiros. Falsos mesmo só os documentos de identidade. Com eles, o casal obtinha escrituras de imóveis, certidões de empresas, documentos no cartório. Aquela mesma lista enorme de coisas exigidas quando se vai comprar alguma coisa a prazo. Mas, para o casal, isso não era empecilho. "Eles tinham mais facilidade para comprar as coisas do que muita pessoa honesta", comenta o delegado seccional.




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