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Os jovens e as cidades

Madrugada de 22 de janeiro, sábado. Policiais militares passam por um posto de combustíveis em Franca para tentar coibir tumulto

Wilson Marini
24/02/2011 | 00:00
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Madrugada de 22 de janeiro, sábado. Policiais militares passam por um posto de combustíveis em Franca para tentar coibir tumulto. São recebidos por grupo de jovens com pedras, garrafas de cerveja e xingamentos. Utilizam bombas de efeito moral e balas de borracha para dispersar a aglomeração. No dia seguinte, noite de domingo, a confusão se repete em outro ponto da cidade. Novamente, a polícia é hostilizada e apedrejada. Na segunda-feira, o comando da Polícia Militar decreta tolerância zero aos baderneiros. Desde então, as farras em postos de combustíveis da cidade desapareceram, segundo o jornal Comércio da Franca.

A cidade vive dias de trégua. Uma moradora disse que antes disso, a avenida onde mora era palco de rachas, competição de som alto e algazarra. "Não dava nem para ver televisão". Mas a polícia diz que a operação ainda não tem data para terminar, pois sabe que o comportamento pode se repetir a qualquer momento. A estratégia é ocupar os locais antes de começarem os problemas. "A ideia é prevenir e não remediar", afirma o tenente Marcel Pereira.

Os fatos registrados em Franca não são isolados. Turmas de jovens, muitos deles adolescentes, se juntam em lojas de conveniência e fazem ali ponto de concentração para um programa aberto que se estende por várias horas e causa quase sempre muita confusão.

Além do álcool em excesso, há também consumo e tráfico de drogas. O barulho que incomoda vizinhos e motoristas no trânsito vem do som emitido acima do limite de decibéis por carros estacionados. Apenas no último fim de semana, quatro dos 14 jornais da Rede APJ (Associação Paulista de Jornais) destacaram esse tipo de comportamento em suas primeiras páginas.

Supermercados

Em Jundiaí, fazer compras nas noites ou madrugadas de sexta e sábado significa disputar corredores e filas com jovens que já chegam ao local com cheiro de bebida, segundo o Jornal de Jundiaí. É comum entrarem no supermercado em grupos. O problema é que sujeira se espalha pelas redondezas e o estacionamento se transforma em ponto de encontros, bate-papo e consumo de bebidas, além de abusos do som alto. Clientes acuados acabam estacionando nas ruas. Uma das redes anunciou que fez mudanças no atendimento, como iluminação, câmeras de vigilância e reforço no número de seguranças, além de exibir placas orientando sobre a Lei do Silêncio.

Lei do Silêncio

A solução encontrada por algumas cidades do Interior é a aprovação de leis locais que impõem limites. Uma delas é Americana. Segundo O Liberal, após anos de reclamações da população sobre a algazarra promovida pela aglomeração de jovens em postos de combustíveis e em frente a casas noturnas, a cidade faz uma tentativa de resolver de vez o problema por meio da chamada Lei do Silêncio Urbano, proposta pelo presidente da Câmara, Antonio Carlos Sacilotto. O projeto estabelece que os veículos em movimento, parados ou estacionados nas vias abertas à circulação que forem flagrados emitindo som em desacordo com a lei estarão sujeitos a penalidades previstas no Código Nacional de Trânsito, como infração grave, com aplicação de multa e retenção do veículo. A multa ao estabelecimento será no mesmo valor e será aplicada pelo setor de fiscalização da Secretaria de Meio Ambiente. "O objetivo é transformar o estabelecimento, que é ponto de referência para o ruído, em um agente de fiscalização também", explicou o vereador. "Se o proprietário do estabelecimento se omitir, ele é corresponsável".

Sugestão

Em Bauru, o Jornal da Cidade apurou que a Polícia Militar gasta o equivalente a 21 dias inteiros num semestre apenas para atender a chamadas de perturbação do sossego público - quase 2.000 atendimentos.

Leis e ações da polícia podem ajudar o controle da situação. O problema é que a repressão apenas transfere de local ou adia a solução. Mais cedo ou mais tarde, os mesmos jovens encontrarão outras formas de se reunir e extravasar sua energia. Em entrevista a O Liberal recentemente, o promotor da Infância e Juventude de Americana, Rodrigo Augusto de Oliveira, defendeu "uma visão cidadã e não uma visão repressiva".

Parte do princípio que o jovem tem necessidade de se encontrar e de ter seus momentos de diversão. Uma das medidas para dar vazão a essa demanda seria a realização de atividades culturais, como apresentações musicais, que poderiam ser desenvolvidas pelos próprios jovens. É uma ideia. As cidades do Interior, a maioria delas, são carentes de ofertas culturais. "É importante dar essa liberdade para o jovem. Quando se preenche essa necessidade que o jovem tem de lazer e se cria essa oportunidade, o jovem se afasta da droga e do vandalismo", avalia o promotor.




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