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Grupo indígena lança CD e monta página na Internet
Do Diário do Grande ABC
02/02/2000 | 10:48
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Um grupo de indígenas brasileiros do Estado amazônico do Acre, na fronteira com o Peru, decidiu gravar um CD e conectar-se com o mundo pela Internet de forma ecológica, utilizando energia solar.

``Para nós, é importante que conheçam a cultura dos indígenas ashaninka nas cidades dos brancos', declarou o líder do grupo musical e feiticeiro da tribo, Benke Pianko, 26 anos, à imprensa.

Um maestro brasileiro, Jacques Morelebaum, dirigirá os 10 indígenas que vao gravar o CD. O título provisório é ``Homabani Ashaninka' (voz dos ashaninka) e será vendido em espetáculos e via Internet.

``Já conseguimos a metade dos US$ 60 mil necessários para a produçao de mil CDs, a criaçao do site de nossa tribo e a realizaçao de um videoclip e de um documentário', assinalou Pianko, que se encontra em Brasília para procurar patrocinadores.

Todos os cantos gravados no CD sao utilizados nos rituais sagrados e de guerra ou nas festas tradicionais. Sao interpretados em arawk, a língua da naçao ashaninka, que vive no Brasil há 400 anos.

Os próprios músicos fabricaram seus instrumentos. As flautas foram feitas com folhas de árvore e os tambores com peles de animais selvagens, capivaras e macacos. Já um arco, cuja concepçao lembra um violino, é utilizado pelos namorados que cantam ao alvorecer quando a aldeia ainda está adormecida, segundo o ``pajé' (feiticeiro).

O Governo do Acre e os comerciantes das cidades próximas do povoado dos ashaninka estao dispostos a investir na voz dos indígenas e o projeto foi aprovado também pelo Ministério brasileiro da Cultura.

Os ashaninka, que nao têm energia elétrica em sua reserva de Apiwtxa, situada a 900 km de Rio Branco, a capital do Acre, sao 450, dos quais somente 20 falam português. E querem conhecer as tecnologias de ponta para saber quais utilizarao para conectar-se à Internet.

No Peru, onde sao cerca de 55 mil, os ashaninkas já estao na rede e o sonho de Pianko é poder comunicar-se regularmente com eles por correio eletrônico.

Na reserva de Apiwtxa, que se estende sobre 87 mil hectares de selva, os indígenas produzem o que necessitam, inclusive roupas. Ao contrário do restante dos aborígenes do Brasil, os ashaninkas jamais viveram nus. As mulheres dessa tribo aprenderam a tecer com os incas.

``Dos brancos, só compramos sal, óleo e muniçoes', assinalou Pianko.

Toda a história da tribo estará à disposiçao do mundo inteiro na página da Internet que será acessível a partir de 19 de abril próximo, o ``Dia do Indio' no Brasil.




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