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Desmanche de cidadania arrefece força do jornal

Com histórico de 12 meses de viés de queda de registros criminais na modalidade está na hora de as companhias de seguro reprogramarem custos

Daniel Lima
05/07/2015 | 07:07
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Demorou um bocado para este Diário chegar a números consolidados sobre roubos e furtos de veículos de modo a justificar a luta pelo rebaixamento do preço de apólices de seguros na região. Uma das manchetíssimas (manchete das manchetes de primeira página) desta semana abordou o primeiro ano de execução da Lei do Desmanche. E os dados estão lá, clarificados. Já temos histórico de 12 meses de viés de queda de registros criminais na modalidade. Está na hora, portanto, de as companhias de seguro reprogramarem custos, reduzindo-os sem pestanejar. Entretanto, nada até agora foi anunciado. E não o será se a cidadania regional seguir adiante nessa pasmaceira geral.

Faço a seguinte pergunta: cadê as OABs, as associações comerciais, os Ciesps, o Clube dos Prefeitos, as entidades diversas que não se mobilizam para dar continuidade à empreitada deste jornal? Querem a resposta? A inapetência é coletiva, a vagabundagem de interesses corporativos e pessoais é generalizada.

Está certo que pouco fizemos ao longo dos tempos para merecer alguma coisa que resvale no conceito de cidadania. Não me venham com a história da Carochinha de que o movimento sindical foi um divisor de águas na região. Embora importante, Lula da Silva e seus aliados que compõem a dinastia sindical sempre pensaram e agiram para favorecerem-se mutuamente. Sociedade organizada uma ova. Sempre tivemos grupos organizados em torno de vantagens comparativas.

LATIFUNDIÁRIOS URBANOS - Quando a Acisa (Associação Comercial e Industrial de Santo André) desfraldou a bandeira de revolta no primeiro mandato de Celso Daniel, começo dos anos 1990, ao condenar o aumento de valores do IPTU (Imposto Predial e Territorial Urbano) não havia aderência ao conjunto da sociedade. Prevaleciam espetadas individuais e grupais de latifundiários urbanos ressentidos porque teriam de pagar quirelas a mais pelas terras especulativas. Tanto que muitos deles, acredite quem quiser, não pagam IPTU desde então. Estão sempre à espera de anistias em várias modalidades, na forma de Refis.

Vamos esperar o quê desta Província? O caso do excesso de custos de seguros de veículos é um bom teste para ver se somos capazes de sair da pasmaceira coletiva. Duvido que, por mais que este jornal e outros tantos batam nessa tecla de insatisfação, exista quem decida reagir. As unidades da Ordem dos Advogados do Brasil na região bem que poderiam lançar-se a essa luta. Teriam tudo para se mostrarem presentes no seio da sociedade. Mesmo que apenas para minimizar a covardia organizada de fugir de agendas mais belicosas, as quais, invariavelmente poderiam provocar choques indesejáveis, sobretudo com os mandachuvas da política, aos quais seus dirigentes estão inabalavelmente atrelados.

MESMA MANCHETÍSSIMA - A manchetissima sobre o primeiro aniversário da Lei do Desmanche e a mensagem embutida na questão, voltada à exorbitância dos custos com seguros de veículos, compensaram fartamente alguns deslizes deste Diário durante a semana. O maior desses casos foi a manchetíssima de domingo passado sobre a pretendida nova ocupação econômica das áreas ociosas da Avenida dos Estados. Uma manchetíssima repetida, porque foi publicada quase que um ano antes, com a mesma tipologia informativa, embora com outro porta-voz da Administração Grana.

Sei que a quase totalidade dos leitores não se lembra da manchetíssima do ano passado para desaprovar a manchetíssima deste ano, mas não custa à Redação um cuidado maior com a memória de questões regionais tão importantes. A esperteza de Carlos Grana ao mais uma vez prometer mudanças na Avenida dos Estados é antiga artimanha de gestores públicos em geral que, como os jornalistas, buscam posição de destaque nas manchetes de primeira página dos jornais.

O pior daquela manchetíssima do Diário é que se perdeu ótima oportunidade de repetir a manchetíssima publicada no ano passado, mas com outro direcionamento. Era sopa no mel uma abordagem que mostrasse que, após um ano, a secretária de Desenvolvimento Econômico Oswana Fameli reproduzia praticamente tudo o foi dito em julho de 2014 pelo então secretário de Gabinete, Thiago Nogueira, sobre a disposição de mudança da lei de uso e ocupação do solo.

INTERPRETAÇÃO OCASIONAL - A reportagem sobre a nota 9,25 atribuída pelo prefeito Luiz Marinho à demitida secretária de Educação Cleuza Repulho, concorrente ao prêmio de servidora pública mais enrolada com o Ministério Público, alcançou grau de interpretação que falta à maioria das matérias não só deste jornal, mas da maioria dos jornais diários impressos do País. A ideia de neutralidade que se disseminou na mídia impressa é uma aberração que leva à preguiça informativa e afasta o leitorado em busca de algo que transcenda o puramente factual. Não à toa o que mais se lê hoje em dia são colunas de opinião.

Pretendia dedicar esta coluna hoje a um breve tratado sobre gestão espacial de jornais impressos. Iria discorrer sobre a importância de ter na ponta do lápis a centrimetragem disponível à ocupação redacional em cada edição e uma engenharia que contemplasse combinação de qualidade e oportunidade dos textos. Fica para outra ocasião. O assunto foi atropelado pelo desmanche da cidadania que jamais tivemos, mas não era tão escrachadamente sofrível como nestes tempos.  




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