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Falta lazer noturno em Diadema
Por Leandro Calixto
Do Diário do Grande ABC
15/07/2005 | 08:11
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A lei seca completa nesta sexta-feira três anos em Diadema quebrando recordes de redução de criminalidade. A queda de homicídios, desde então, é evidente: 59% menos mortes no primeiro semestre do ano comparando ao mesmo período de 2002, quando a lei foi criada. No entanto, ao colocar em primeiro plano o combate à violência, a cidade ficou carente em lazer noturno. Lacuna reconhecida pela Prefeitura.

O vice-prefeito Joel Fonseca Costa diz que a segunda etapa do Plano de Segurança da Prefeitura prevê parcerias com a iniciativa privada para a construção de shopping, abertura de restaurantes e salas de cinema, inexistentes no município. Opções de lazer que incluem o horário noturno, mas não necessariamente, a presença de bebidas alcoólicas.

O diretor científico do Ilanud (Instituto Latino-Americano das Ações Unidas para Prevenções de Delito para Tratamento Delinqüente), Guaraci Mingardi, acredita que essa parceria público-privada seja fundamental para a criação de opções de lazer diferentes de bares.

Para o diretor, a questão cultural. Ele lembra que na Inglaterra, no início do século XIX, os pubs (bares) também foram proibidos de funcionar de madrugada. "Desde então, o governo inglês passou a investir em casas de espetáculos, teatro e cinema. O resultado é que a criminalidade também caiu por lá. É claro que vivemos uma outra realidade social por aqui, mas podemos no futuro alcançar bons resultados. O problema é que no Brasil se cobra resultados imediatos. A Prefeitura de Diadema está dando um grande exemplo de como combater a violência."

Para um proprietário de bar conseguir autorização para funcionar após as 23h em Diadema, deve seguir uma série exigências, como contratar segurança particular, funcionar de portas fechadas e possuir isolamento acústico. Mas a exigência essencial é que o estabelecimento não esteja localizado nas áreas onde há mais violência, segundo o mapeamento feito pela administração municipal.

Dos 4,8 mil bares registrados na cidade, 28 têm licença para abrir à noite. Desses, 16 estão localizados na área central e 12 espalhados pelos bairros da cidade. Os donos de bares dizem que desde que a lei foi colocada em prática, o faturamento teve uma queda de cerca de 80%. "Para se divertir, não é necessário beber. Temos de criar outras alternativas de lazer. O importante é que as conseqüências da lei são positivas. Conseguimos reduzir a violência na cidade", afirma Emílio Ângelo Júnior, funcionário da Secretaria Social de Diadema responsável pelo mapeamento criminal da cidade. O trabalho comprovou que 60% das ocorrências eram noturnas.

A falta de opção de lazer na cidade ocasiona a migração, especialmente de jovens, para outras cidades. "Quando quero sair à noite, vou para São Paulo", diz o estudante Ismael Barbosa Ricardo, 21.

Os proprietários de bares e lanchonetes dizem que o estigma de cidade violenta é um agravante para o lazer noturno. Os antigos comerciantes afirmam que a população tem receio de sair na rua à noite. Segundo eles, quem não migra para outras cidades, fica em casa.

"Não adianta criar a lei se não colocar mais policiais na rua. Confusão sai do mesmo jeito. Não tem hora e nem dia marcados", critica o dono do bar Papaléguas, José Augusto Macedo, 37 anos, um dos poucos que têm autorização de funcionar à noite na região central da cidade.

O proprietário do Stúdio 7, Cícero Alves, também possui licença municipal, mas diz que o comércio à noite é um desastre na cidade. "Precisa aumentar o efetivo da segurança", diz. "O jovem da periferia acabou ficando sem opção de divertimento noturno", acredita o vendedor Djalma Cruz, 41 anos.

Naval - Apesar do investimento em ações de combate à violência desde 2002, Diadema ainda está no topo do ranking de mortes violentas por 100 mil habitantes na região, e atinge o 18º lugar do Estado. Os dados constam no Mapa da Violência de São Paulo publicado em maio pela Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura).

Em junho, a cidade ficou 24 dias sem mortes violentas. No entanto, no último dia 4, uma chacina manchou de novo a imagem do município. O policial Ricardo Silva dos Santos é acusado de ter matado mãe e dois filhos no Jardim Portinari. O prefeito José de Filippi Júnior afirmou que o caso foi ainda pior do que o da favela Naval, em 1997, quando policiais militares foram filmados espancando civis. Um homem morreu.




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