A recuperação econômica, em curso no País desde o ano passado, vem ocorrendo sem o repasse dos ganhos de produtividade para os salários, segundo o presidente do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), Marcio Pochmann.

"Isso não permite sustentação da trajetória que o Brasil vem apresentando no período recente de ampliação da massa de rendimentos do trabalho na renda nacional." Segundo estudo apresentado por Pochmann, no biênio 2008/2009, o peso do trabalho na renda nacional, de 43,5% no período, aumentou 9,5% em relação a 1999 e 2000 (40%).

Para ele, dois fatores contribuem para que as empresas não repassem a elevação dos ganhos de produtividade para os trabalhadores. Um deles é a valorização do real, o que reduz as exportações. "A valorização cambial implica pressão de custos para as empresas, ou seja, torna mais difícil colocar os produtos no mercado internacional. As companhias evitam, ao máximo, o repasse de produtividade para os salários, para compensar". O outro motivo é o aumento da taxa básica de juros, a Selic, que "desacelera o nível de atividade e compromete as decisões voltadas para os investimentos".

Apesar dessa perspectiva de menor participação do salário na renda total do País, Pochmann lembra que a situação já foi pior. "O bom sinal é que, na primeira década deste século, os salários passaram a recuperar sua participação na renda nacional, depois de 40 anos em que perdiam participação, uma vez que a renda da propriedade e dos lucros e juros cresciam mais que os salários".

Segundo o estudo, houve queda de 29,3% na participação do rendimento do trabalho na renda nacional, na comparação entre os biênios 1959/1960 (56,6%) e 1999/2000.