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A bola da vez na década

Nunca as cidades estiveram tão em evidência como atualmente

Wilson Marini
29/03/2010 | 00:00
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Nunca as cidades estiveram tão em evidência como atualmente. À medida que aumenta a complexidade da vida no planeta, cresce na mesma proporção a importância que especialistas, governos e organizações conferem às cidades para a busca de soluções para os problemas que, paradoxalmente, deixam de ser locais e passam a ser globais. As mudanças climáticas e a crise econômica são exemplos de desafios a serem enfrentados nas cidades. Isso porque, apesar da globalização, ninguém mora no mundo, mas em uma localidade, uma região. Não existem ilhas isoladas, para o bem ou para o mal. Mas a solução dos problemas depende de cada um sobre a superfície da Terra. E a ação começa justamente na cidade. É onde, afinal, as pessoas respiram, andam, trabalham, estudam e projetam a sua vida.

"Ganha cada vez mais força a ideia de que será por meio das cidades que teremos novos modelos de desenvolvimento econômico, humano e territorial", afirma Kazuo Nakano, urbanista do Instituto Pólis, em artigo publicado no Le Monde Diplomatique Brasil de março. A publicação dedicou o seu tema de capa à discussão sobre o futuro das cidades.

Segundo Nakano, uma das mudanças profundas que são necessárias nas cidades, é o fim do predomínio do automóvel em benefício do transporte de massa baseado em véiculos movidos a fontes de energia limpas e renováveis como trens, metrô, trólebus e veículos leve sobre trilhos, além das bicicletas.

Transporte coletivo
O fim da prioridade ao carro foi uma das teses defendidas fortemente na Conferência Internacional das Cidades Inovadoras, evento que mobilizou cerca de 3.500 pessoas e 105 conferencistas de várias partes do mundo em Curitiba há poucos dias. "As cidades foram feitas para o convívio social e devem priorizar parques, árvores, ciclovias e infraestrutura para o lazer, reduzindo o espaço viário, aumentando as calçadas e transformando as avenidas", disse Adalberto Maluf, diretor da Fundação Clinton, entidade fundada pelo ex-presidente americano Bill Clinton. "As cidades que não se adequarem a esses novos tempos vão perder empresas, pessoas e investimentos."

Na mesma linha, Luiz Antonio Lindau, diretor do Centro de Transporte Sustentável (CTS Brasil), afirmou que os carros não contribuem para a saúde da população e fazem mal para as cidades. "Tempo é dinheiro e horas perdidas no trânsito geram um impacto negativo, causando uma perda de competitividade e estagnação econômica", disse. E lançou uma pergunta provocativa: "Queremos mover gente ou veículos?"

Participação
Para o arquiteto e urbanista Jonas Rabinovitch, as cidades terão de enfrentar cada vez mais problemas com menos recursos. E as cidades médias, que hoje têm entre 100 mil e 500 mil habitantes, serão as que vão receber a maior parte da população em migração. Para isso, devem ser criadas novas formas de governo e políticas. "A administração pública precisa se adaptar às pessoas e não o contrário. Não conheço nenhum político no mundo que não esteja interessado em atender a satisfação da cidadania, mas com frequência a instituição sabe onde ir, mas não sabe como chegar lá", afirmou.

Cooperação
O pensador americano Steven Johnson foi uma estrela no encontro de Curitiba. Ele prega que o prefeito deve ouvir os moradores de um bairro. "Eles é que são experts no que acontece na vizinhança", disse. O grande desafio, afirma Johnson, é promover essa mudança de mentalidade entre os gestores públicos. E para enfrentar o problema financeiro que os municípios teriam para administrar seu próprio destino de forma mais ampla, o analista político Augusto de Franco sugere coligação e cooperação entre as cidades. "Já estão surgindo cidades-regiões e até cidades transnacionais", afirmou.

Tecnologia
Meios de transporte mais velozes e mais limpos, específicos para percursos curtos e longos; alimentação mais saudável e voltada para frutas, verduras e legumes, com menos açúcar e sal; edifícios energeticamente autônomos e neutros em emissões de gás carbônico; e casas altamente tecnológicas e mais verticalizadas. Essas são algumas das tendências do futuro, segundo o diretor do Instituto Europeu de Estratégias Criativas, o economista francês Marc Giget, em palestra esta semana na Fiep (Federação das Indústrias do Paraná). Ao abordar o tema A vida nas cidades a partir de 2030, Giget disse que muitas dessas mudanças já estão em curso e farão total diferença na nossa forma de enxergar o mundo e dialogar com ele.




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