Elas informam que até agora nao estao conseguindo repassar esses custos, reconhecendo que a alta competiçao favorece os clientes, que resistem a pagar fretes mais caros.
No entanto, as transportadoras já se animam com as perspectivas de crescimento da economia este ano, antevendo que esse desempenho sancionará os repasses. "Assim que aumentar a demanda pelos serviços, as transportadoras deverao subir os fretes", avisa o assessor técnico da Associaçao Nacional do Transporte de Cargas (NTC), Neuto Gonçalves dos Reis, responsável pelos estudos sobre roubo de cargas da entidade.
O gerenciamento de risco inclui a compra de aparelho de rastreamento do veículo por satélite, softwares que gerenciam a rota do caminhao e conectam o veículo à empresa, treinamento de motoristas e contrataçao de seguranças e escolta para seguir o caminhao que tem cargas valiosas. Ao contrário do Brasil, onde o fator segurança é determinante, nos EUA e países desenvolvidos o sistema de gerenciamento de risco e o rastreamento sao praticados como um suporte logístico.
Com esse tipo de programa, a empresa consegue saber, por exemplo, onde está o caminhao e se o motorista parou para abastecer no local determinado. Tudo isso traz corte de custos para a empresa. "Aqui, esse sistema é usado principalmente para combater o roubo de cargas", ressalta Reis. De acordo com estudo de custos realizado pela Fundaçao Institulo de Pesquisas Econômicas da USP (Fipe), a pedido da NTC, os custos das transportadoras com gerenciamento de risco compoem, em média, 4 37% do frete. Isso corresponde a R$ 9,00 por tonelada de carga transportada. O cálculo nao inclui o gasto com salários e despesas administrativas com pessoal.
O estudo da Fipe mostrou que os fretes das transportadoras estao 44,03% abaixo do ideal para cobrir os custos das empresas. Os gastos com segurança estao entre os que mais contribuíram para a defasagem do frete, segundo o técnico da NTC. Mas Reis acredita que nao há a mínima chance de o mercado absorver aumentos de 44% nos fretes atualmente. "As transportadoras nao conseguem nem mesmo reajustar os preços em 5%", conta.
O diretor da transportadora Expresso Araçatuba, Oswaldo Dias de Castro, informa que gastou R$ 5,6 milhoes com gerenciamento de risco em 99, o que corresponde a 5% da sua receita. A empresa, que está entre as 10 maiores do País, teve 23 ocorrências no ano passado. "Perdemos as cargas, mas recuperamos todos os caminhoes", diz Castro.
Ele afirma que o Expresso nao consegue repassar a alta de custos para os fretes. "O mercado nao está sensível ao repasse desse gasto, há muita resistência dos clientes", pondera. "Na atual situaçao, a transportadora está comprando por 10 e vendendo por 8". De acordo com Dias, mesmo com maiores gastos a empresa consegue sobreviver porque o investimento em gerenciamento de risco aumenta a produtividade e melhora a logística da transportadora.
Em 99, de acordo com estatísticas do Sindicato das Empresas de Transporte de Carga de Sao Paulo e Regiao (Setcesp), as transportadoras paulistas tiveram prejuízo de R$ 148,8 milhoes em 99, quando houve 1.930 ocorrências de roubo de cargas. As perdas foram só um pouco maiores do que as de 98, quando os transportadores tiveram prejuízo de R$ 146,9 milhoes. As ocorrências em 98 somaram 1.334, 31% a menos do que em 99.
"Os números indicam que os investimentos das empresas em segurança deram resultado: o número de casos subiu, mas o prejuízo caiu", declara Reis. Segundo ele, as transportadoras atualmente dividem as cargas valiosas em vários caminhoes e procuram fazer com que os motoristas parem o menos possível, pois é em postos de combustíveis e terminais de carga que os ladroes aproveitam para agir. A viagem Sao Paulo-Rio, que leva mais de cinco horas, é atualmente completada sem nenhuma parada, como medida de gerenciamento de risco.
Os empresários estimam que o prejuízo com roubos de cargas em todo o Brasil seja o dobro do calculado pelo Setcesp e gire em torno de R$ 300 milhoes. Segundo os números do Setcesp, a Anhangüera é a rodovia mais perigosa, com 16% dos casos de roubo em 99, seguida pela Dutra, com 11%, e pela Castelo Branco com 9%. As cargas mais procuradas pelos ladroes em 99 foram os produtos alimentícios (22,3%), eletroeletrônicos (22,2%), medicamentos (16,7%), cigarros (16,4%) e produtos têxteis (12 5%).
Atualmente as transportadoras realizam uma queda-de-braço com as seguradoras para ver quem arca com os prejuízos em caso do roubo da carga. "As seguradoras agora pedem que a transportadora tenha sistema de gerenciamento de risco e rastreamento", declara Reis. "Para os veículo sem rastreamento, as seguradoras criaram um limite de cobertura, que varia de R$ 20 mil a R$ 120 mil, dependendo da carga". A quantia é normalmente irrisória, pois muitos caminhoes carregam até R$ 1 milhao em carga.
Neuto Reis afirma que os gastos com segurança e seguro contribuíram para a falência de várias transportadoras nos últimos anos, inclusive algumas de grande porte. Ele declara, porém, que a NTC nao tem números de falências e concordatas do setor.
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