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Roubo de carga tem alta de 44%

Foram 150 ocorrências no 1º trimestre; crise e mercado paralelo estimulam o crime, segundo especialistas

Yara Ferraz
Do Diário do Grande ABC
22/05/2018 | 07:00
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André Henriques/DGABC


Os números de roubo de carga aumentaram em 44,23% no Grande ABC no primeiro trimestre deste ano. De acordo com dados da SSP (Secretaria da Segurança Pública) do Estado, foram 150 registros entre janeiro e março de 2018, sendo que no mesmo período do ano passado o número era de 104.

Para especialistas, o aumento do indicador está diretamente relacionado à migração do crime para a modalidade. “Os bancos popularizaram as transações eletrônicas e hoje você não tem dinheiro, moeda mesmo, circulando. Roubos a estabelecimentos comerciais, como padarias e postos de gasolina diminuíram, porque o caixa não vê mais dinheiro, já que 90% do valor é recebido via cartão. O criminoso precisa de dinheiro para comprar drogas e armas, então, o que sobrou foram os ataque a bancos, carros-fortes e o roubo de carga. É uma forma de ter dinheiro vivo na mão do ladrão, que já tem o receptador que paga à vista”, explica o especialista em Segurança Pública e Privada Jorge Lordello.

Outro fator que influencia no aumento do índice é a situação econômica do País, de acordo com o especialista em Segurança Pública do Mackenzie Rio Newton Oliveira. “É uma questão de custo-benefício. O Brasil passa por uma crise econômica e, se o roubo de carga está mais fácil de ser feito, isso tende a aumentar. Soma-se ao fato que muitas pessoas recorrem a este mercado paralelo, o que gera um círculo em torno da demanda de custo e de oportunidade.”

Para diminuir os índices, Oliveira aponta que é necessário um trabalho de inteligência e integração das polícias a partir do mapeamento dos locais com maiores índices de ocorrências e tipos de cargas mais roubadas. “Operações ajudam, mas para que não se enxugue gelo este trabalho deve ser estruturante”, afirma sobre as ações pontuais realizadas na região.

Já Lordello acredita que é necessário pena maior para condenados pelo crime de receptação. O comprador da carga que foi roubada pode passar de um a quatro anos em reclusão. “Isso acaba gerando um sentimento de impunidade para o criminoso”, diz.

Questionada, a SSP afirmou, em nota, que o trabalho das polícias na região resultou na prisão de 57 pessoas em flagrante por roubos de cargas no primeiro trimestre deste ano. “No início de março, por exemplo, a PM (Polícia Militar) prendeu dois homens responsáveis pelo sequestro relâmpago de um motorista em São Bernardo e recuperou um caminhão, com carga de fios de cobre avaliada em R$ 600 mil.”

Segundo a Pasta, as ações em locais críticos são intensificadas, conforme levantamentos dos índices criminais, preparando roteiros e horários de patrulhamento. Também são realizados cruzamentos de dados com outras regiões, para tentar prender integrantes de quadrilhas especializadas.


Empresas dobram os gastos com segurança da mercadoria

A alta nos registros criminais gera impacto nos gastos com a segurança da carga para as transportadoras. Segundo estimativa do Setrans (Sindicato das Empresas de Transportes de Carga do Grande ABC), o custo com o gerenciamento do risco do transporte da mercadoria – que gira em torno de 10% do total da operação – pode chegar a 20% do gasto total em períodos críticos.

De acordo com o diretor do Setrans Fábio Brigidio, valor exato do gasto extra com segurança depende do tipo do produto transportado e se a carga é mais ou menos visada pelos criminosos. “Em geral, quando há alta nos índices de criminalidade gera um aumento nos custos finais dentro da taxa de gerenciamento de risco. Em cargas como plástico, por exemplo, não há tanto impacto, mas se for cosméticos ou algumas peças automotivas mais específicas, a empresa pode pedir até escolta ou blindagem da carga, o que gera aumento de custos. Geralmente, a empresa já tem de fazer o monitoramento e é de praxe posicionar sobre o andamento da mercadoria de cinco em cinco minutos.”

Além da quantidade de exigências, o valor do seguro das cargas também tende a aumentar. “Um problema na região é que diversas rodovias facilitam a fuga dos criminosos. Algumas empresas podem exigir não carregar mais no Grande ABC”, cogita.

Para Brigidio, o consumidor final é o maior prejudicado, já que arca com todo o custeio do processo. “O comprador não paga apenas pelo valor do produto e pela soma dos impostos. Ele também paga a conta do transporte e a do armazenamento, que são impactados pela falta de segurança.” 




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