Cotidiano Titulo
Folhas ao vento
Rodolfo de Souza
01/03/2018 | 07:00
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 De repente, no torvelinho de assuntos que permeia o ambiente escolar, cismo de desafiar a juventude que me cerca, com algo mais inquietante do que filme de suspense. Diz respeito ao frenesi que derruba insistente e sistematicamente as folhas do calendário, a reflexão que jogo no ar na esperança de que alguém apanhe. Indago-os a respeito de sua compreensão sobre tal fenômeno que é parte desta vida de fantasias e, sobre o qual, é preciso pensar às vezes. E meu atrevimento acaba por movimentar mecanismo qualquer naquelas mentes descuidadas, enchendo-as de um nostálgico desejo de assistirem a uma boa aula de gramática. Posso até sentir isso no dar de ombros de cada um.

Mesmo assim, insisto em escancarar a eles a janela de uma realidade que os acompanha e acompanhará vida afora até que a senhora natureza dê um basta na sua existência terrena. Ficam apreensivos diante do fato incontestável, e arregalam os olhos como se um acontecimento novo e surpreendente lhes tomasse de assalto a inteligência que só engatinha e que até agora lhes apresentara uma vida longa, talvez, sem fim. Uma vida infinita e cheia de aventuras, tal como acontece num conto de fadas ou de heróis.

Súbito, alguém se levanta para indagar sobre o motivo que me levara a abrir o jogo assim, a queima roupa. Acaso seria este o momento ideal para se tocar em tão perturbador e desnecessário assunto? Bobagem perder tempo pensando sobre essa existência se levam o dia a dia meio à toa, despojados de qualquer interesse pelas chatices criadas só para atormentar a cabeça adulta.

Começo, então, a ouvi-los, e suas palavras soam distantes. Denotam até não entender muito bem sobre o que falo. E dão as costas para a questão, porque lhes parece estranha e destituída de verdade, esta verdade palpável, nítida e tão real quanto a rosa que desabrochou hirta na floreira de casa.

E seus olhos incrédulos recusam-se mesmo a entender e voltam sua atenção para planos de vida bem mais reais e atados às emoções que, lá no seu âmago, explodem em ebulição, parecendo aventura de vídeo game. E a intensidade de tudo isso é tamanha que os desloca, com estonteante rapidez, da troca de afetos para uma sequência de pontapés e choro, e destes, para o amor recíproco e a gargalhada. São levados do pranto ao riso com a mesma facilidade como se atropelam para explicar o inexplicável, colocar apelidos, fazer chacotas, e se lançarem a duros embates para definir o sexo dos anjos.

E eu os observo daqui, embevecido por causa de sua maturidade ainda verde, carente de uma opinião, digamos, mais vivida.

Repentinamente, porém, flagro-me indeciso sobre a minha atitude. Teria tomado o rumo certo ao bulir com aquelas mentes que mal deixaram os cueiros? Talvez meus cabelos grisalhos ajudem nesta difícil empreitada de cutucar seu pensamento para que desperte e passe a viver a verdade deste mundo para o qual fomos lançados um dia.

Mas para quê diabos eu os desafio agora com assunto que nada lhes acrescentará? Estaria eu sofrendo de recalque tal que viesse a incomodar-me a alegria juvenil a ponto de fazê-los frustrar-se com revelações que só a mim e aos de minha idade dizem respeito? Até porque, são folhas ao vento, com todo o direito de viver a alegria que um dia vivi, crendo piamente numa outra realidade, límpida e bela que haverá de permear sua vida para sempre.

Diacho de tempo que não cessa de correr e me mete nessas frias!




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