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Radar ou armadilha?
Por Do Diário do Grande ABC
15/07/2017 | 07:00
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Em 1899, William Phelps Eno elaborou um documento amplo, sobre regras de condução para a cidade de Nova York, levando em conta a respeitabilidade de motoristas britânicos, onde já se multavam infratores. Estava criado o primeiro Código de Trânsito (Encyclopedia Britannica, 1964). Na Inglaterra, o limite de velocidade era de 32 km/h em 1903. Este limite de velocidade está fortemente associado às baixas estatísticas de acidentes graves em Londres.

Na Brasil, durante décadas, sinalização de velocidade era praticamente adorno rodoviário. Veículos cada vez mais poderosos, onde velocidade era poder. O avanço da motorização no final da década de 1970 engordou estatísticas de feridos e mortos. Havia de se mudar a cultura da velocidade.

Nos anos 1980, já se viam radares para controle de velocidade em rodovias. Até então, policiais rodoviários postavam-se ao lado de acostamentos, munidos de binóculos e cronômetros, para medir o tempo de tráfego em segundos, entre montículos ou marcas estrategicamente estabelecidos na rodovia. Tempo menor que o mínimo, velocidade acima da máxima. Abordagem e multa. Em cidades, a aplicação de penalidade por excesso de velocidade era fato estranho, como também o uso de cintos de segurança. Ainda se podia dizer que motoristas urbanos se marcavam por zelo e não por estresse e desmedida pressa. A reduzida motorização se associava ao fator melhor escola, quando se comparam com cenário contemporâneo. Havia maior compreensão social e conhecimento sobre o risco. O respeito começava com professor e colegas. Física era matéria que reprovava os que não sabiam o mínimo necessário.

Em paralelo ao uso de radares, um mercado negro de anti-radares surgia. Novas leis e portarias foram elaboradas para gerar medo de ser flagrado com tal equipamento.

O radar evolui. Fixos, móveis, com câmera e com leitor de caracteres fazem parte do horizonte dos motoristas. Com leitor de caracteres, lê placas e flagra veículos em horário de rodízio. O rodízio ainda se aplica como redutor de congestionamento, apesar de pouco se notar diferença. O que pode funcionar é o pedágio urbano. Exige cobrança que faça o usuário sentir no bolso. Pedágio urbano “baratinho” é inserção de mais uma taxa sem qualquer melhoria no trânsito. Também exige oferta de transporte público de qualidade suficiente, para se querer deixar o carro em casa.

O radar fixo é frequentemente mais respeitado como limitador de velocidade do que as placas de regulamentação. Marcas de borracha queimada são visíveis antes do conhecido poste lateral à via. Denunciam fortes freadas para evitar multas. Em seguida, repiques de velocidade levam veículos à velocidade anterior.

A posição dos radares móveis é denunciada em aplicativos de celular, para os que não crêem no risco do excesso da velocidade. O modelo radar contra correria esgotou. Controle de velocidade por trechos tem melhor eficácia, junto com os de controle puntual, tal como se procede em países do primeiro bloco. Receita ideal? Escola de qualidade. Roda presa é expressão de motoristas que provavelmente não precisam ser preocupar com a aposentadoria.

Motociclistas arrojados parecem ilustrar picadeiro de circo, onde espetaculares malabarismos buscam evitar a imagem em câmeras de radares. O surgimento do radar pistola, cujo nome traz à memória algo que pode matar ao invés de salvar, facilita a fiscalização específica. Soluções? Para motoboys, empregos com velotaxi e em ciclovias seguras. Para motoqueiros, as duas rodas sem compromisso de horário e em vias de reduzido tráfego. Easy Rider deve vir à memória de amantes de uma liberdade Nicholsoniana, sem drogas, brigas ou ilicitudes.

Maciça campanha de conscientização e aprendizado deve preceder nova fase de fiscalização mais intensa quanto ao excesso de velocidade. Dinheiro? Nos cofres de multas. A lei garante.

Creso Peixoto é mestre em Transportes e professor da FEI.
Email para esta coluna: cresopeixoto@gmail.com 




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