Cultura & Lazer Titulo
Mãe lança canções inéditas de Cazuza
Gislaine Gutierre
Do Diário do Grande ABC
15/04/2001 | 16:42
Compartilhar notícia


  Depois de contar detalhadamente, e até com certa amargura, a vida de Cazuza no livro 'Só As Mães São Felizes', lançado há quatro anos, a mãe do cantor, Lucinha Araújo, torna público mais informações da carreira do filho em 'Preciso Dizer Que Te Amo' (Globo, 416 págs., R$ 35 em média). A obra traz 205 letras, das quais 78 inéditas, além de depoimentos de amigos, parceiros do Barão Vermelho, do pai e do próprio Cazuza. Tudo ilustrado por cerca de 400 fotos, que também são novidade.

'Preciso Dizer Que Te Amo' é, para Lucinha Araújo, uma obra definitiva sobre a vida e a carreira de seu filho. Isso porque, depois da publicação do primeiro livro, o que restaram foram basicamente as composições de Cazuza, guardadas cuidadosamente e conservadas em ordem cronológica pela mãe. O rico acervo começa com sua primeira criação, feita aos 17 anos, e continua até as vésperas de sua morte, um período aliás muito fértil para Cazuza, que desabafou em palavras toda sua carga sentimental.

Todo esse material foi colocado nas mãos da jornalista Regina Echeverria, parceira também em 'Só As Mães São Felizes'. A edição ajuda o leitor a compreender a obra de Cazuza: são 12 capítulos que respeitam a ordem cronológica dos acontecimentos e que inserem os momentos vividos por Cazuza no contexto de cada época.

O livro começa com um curioso depoimento de seu pai, João Araújo (então presidente da Som Livre), que confessa, nas entrelinhas, ter sido um tanto desatento ao talento que desde a adolescência brotava em seu filho. Ele conta, inclusive, que relutou em aprovar a gravação do primeiro disco do Barão Vermelho pela Som Livre, sob o risco de o trabalho parecer fruto de nepotismo.

Mas que não espere o leitor encontrar revelações picantes acerca de sua vida amorosa. 'Preciso Dizer Que Te Amo' até traz informações curiosas, mas sempre falando do trabalho e, principalmente, de como cada música surgiu.

E é fácil chegar à conclusão de que bebedeiras, bate-papo no bar, desencontros, desilusões e até choramingos dos amigos foram um prato cheio para Cazuza soltar sua veia poética.

No capítulo Socialista, Vermelho, Brasileiro, por exemplo, Frejat conta como ele e Cazuza compunham no começo: “A gente acendia um baseado e ia para a praia. No fim da noite, Cazuza me dava uma letra, ou uma idéia de letra. Eu ia trabalhar a melodia (...) Era uma rotina meio trabalho, meio férias”.

Também há uma curiosa revelação sobre o hit Baby, Suporte. Criada a partir de uma letra feita por Pequinho, irmão de Maurício do Barão, ganhou mais força depois que Cazuza a reescreveu, acrescentando uma frase escrita na agenda do produtor Ezequiel Neves: “Que diferença há entre o amor e o escárnio?”. A música entrou na trilha sonora da novela Eu Prometo, a última de Janete Clair, sob protestos da autora, que simplesmente a odiava.

E por aí vai. O leitor deve entender, também, que a fonte principal para esse registro vem de sua mãe. E, como tal, não poderia deixar de ser parcial. Interpretando a obra como um todo, o leitor mais atento verá que o livro fortalece a idéia de que Cazuza não era mesmo um cara comum. Ele seria um mito de verdade. Soa mesmo como uma declaração de amor, algo que até a escolha do título sugere.

Ressalva feita, a obra não perde seu mérito. Afinal, Cazuza foi um marco na história da música brasileira. Um sujeito comum que soube explorar como poucos a sua sensibilidade. Para os músicos, é uma ótima referência em termos de composição. Para os fãs, um material simplesmente imperdível.




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;